sábado, 8 de abril de 2017

CANYON DO RIO POTY


Janeiro marca o natalício de Luis Carlos Prestes. Janeiro, precisamente o seu décimo quinto dia de 1926, registra o momento em que a terra apadrinhada pelo Senhor do Bonfim galgou destaque por ter sido palco do único combate das forças revolucionárias. O padre Geraldinho pontua em uma de suas obras sobre a passagem da Coluna através do Ceará: Frutuoso Lins, jovem em janeiro de 1926, narrou que quando o relógio bateu 3h “reboou uma saraivada de rifles e fuzis”. Lins explicou que João Calixto, guarda da Estação, revelou a euforia dos revolucionários no local: “Entre 4 e 5 horas da manhã, corriam eles pelas calçadas cantando ‘Mulher rendeira’ e gritando ‘Queima Chicuta’ e batiam com o coice do rifle nas portas da Estação”.

A saga da Coluna Prestes, com seus arroubos equivocados e seus rumos certeiros, teve em Crateús um de seus palcos privilegiados.

Estes dias, enquanto me recordava desse movimento revolucionário, vi passar na TV um spot sobre um acidente geográfico que assinala a divisa do Ceará com o Piauí em terras crateuenses: o Cânion do Rio Poty.

No início da década passada, o jovem Luis Carlos Prestes Filho resolveu fazer o mesmo percurso da Coluna que seu pai, o lendário ‘Cavaleiro da Esperança’, havia trilhado na liderança da famosa Coluna Prestes.

Relembro-me que um dia, em Crateús, ele externou: uma das paisagens mais belas que tinha encontrado naquele longo trajeto era o Cânion do Rio Poty.

O Cânion do Poty é umas das feições naturais da área limítrofe do Ceará com o Piauí, em áreas de Crateús, Buriti dos Montes e Castelo do Piauí. Fenda geológica por onde passa o rio Poty ao atravessar a cadeia montanhosa da Ibiapaba entre o Ceará e o Piauí, o Cânion foi formado pela erosão mecânica que as águas do Rio Poty proporcionaram ao cortar os sedimentos da Formação Cabeças, depositada no período Devoniano durante a Era Paleozóica, há cerca de 400 milhões de anos atrás.

Aparentemente o Rio Poty estabeleceu seu leito natural aproveitando uma falha tectônica conhecida como Lineamento Transbrasiliano, que corta o Brasil desde Sobral até o Mato Grosso. O rio corta o sistema de serras da Ibiapaba e no trecho entre a Cachoeira da Lembrada e o Canyon da Pedalta é onde se estabelece o Canyon do Rio Poty, embora ele apresente-se escarpado também por outros trechos até sua foz em Teresina.

Anteriormente chamado de Itaim-Açu, há registros de que na carta geográfica de Henrique Antonio Gallucio de 1760 (dois anos após a instalação da capitania do Piauí), já estava denominado Poty.

O melhor período para visitação é depois das chuvas, entre julho e dezembro. O local é indicado para prática de esportes de aventura como Rapel, Canoagem, ciclismo e trekking,

Como inexiste qualquer empreendimento, público ou privado, que sirva de apoio ao turista ou visitante nos dias atuais, resta-nos aguardar que algum empreendedor se disponha a investir naquela área fantástica, com paredões que alcançam 60 metros de altura, pleno de cavernas, pinturas rupestres e abrigos naturais, lindos para uma prazerosa apreciação.

Oxalá as autoridades despertem para o enorme potencial turístico rural e ecológico que o nosso Cânion representa e para ele desenvolvam projetos, oportunizando a divulgação de uma das formações geológicas mais extraordinárias que temos.

(Júnior Bonfim, janeiro de 2017)

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