domingo, 24 de abril de 2016

CHICO ROSA!

1985 ou 1986. O ano não recordo precisamente, mas a voz de trovão, com tintas proféticas, do doutor Chico Barros, permanece indelével na minha memória:

- “Júnior, anote aí: há uma novidade na política de Nova Russas que atende pelo nome de Chico Rosa. É um jovem simples e arrojado, cheio de ideias inovadoras, que está fadado a ser o futuro Prefeito daquela cidade.”

De fato, em 1988, Chico Rosa liderava a primeira de uma série de empreitadas urnísticas vitoriosas. Na sua sucessão, indicou o então parceiro de lutas Luis Acácio e mergulhou intensamente nas atividades de campanha. Acácio foi eleito. No prélio de 1996, como em um teste pessoal, submeteu ao veredito popular a sua cara metade, Iranede Veras, e também logrou êxito. Após uma tentativa frustrada em 2004, saiu do exercício ativo da política e hoje cultiva um bom relacionamento com todas as forças políticas que atuam em Nova Russas, de modo que o seu nome é sempre citado com destaque em qualquer enquete popular.

No seu percurso de militância direta, estendeu-se entre nós um fio relacional a partir da afinidade com um amigo comum: Manoel Veras, naqueles idos um operoso representante do povo dos Sertões de Crateús na Assembleia Legislativa, de quem éramos eleitores e cuja amizade continua até hoje.

O fato é que sempre notei em Chico uma indisfarçável intimidade com o nosso bioma: suas mãos parecem ir ao encontro de raízes, seus olhos não disfarçam a afeição pelas árvores, sua alma se alimenta com a nossa flora, seu coração palpita em melodia ante o deslumbre invisível da nossa geografia.

Não por acaso escolheu ser engenheiro agrônomo. Decifrar os signos que ornam a agronomia, ciência que cuida das leis do campo ou da terra (agro: campo, terra; nomia: lei), é uma tarefa superior. Chico Rosa se desincumbe dessa missão com alegria e paixão. Quando o vejo absorto em pensamentos fora do chão, imagino que está mergulhando serenamente nas nossas croas, nos nossos serrotes e várzeas; enfim, nos subterrâneos da nossa desafiadora região.

Chico é dado ao espetáculo da inovação, à ousadia do pioneirismo, à arte de surpreender. Pouco tempo depois de formado, mirando o exemplo da iniciativa privada do Sul e Sudeste, fundou o grupo EMPA (Empresa Municipal de Projetos e Assistência Técnica e Agropecuária), que veio a ser a primeira empresa de assistência técnica rural do interland cearense.

Na política, apesar do legado da tradição paterna (seu pai governou Nova Russas na década de 1960) deixou uma marca própria: a vanguarda visionária, o pendor desenvolvimentista e a primazia das políticas sociais em favor dos mais carentes.

Porém, o ápice da trajetória, o experimento de glória, a página doirada da sua história estava reservada para ser escrita com sílabas de sobriedade, exatamente quando o empolgado agrônomo conhecesse o vale da maturidade: a ideia de Reflorestar o Semiárido gerando uma fonte de renda para os produtores rurais. Ou seja, uma harmoniosa combinação de sustentabilidade ambiental com alteração da paisagem econômico-social.

(Jamais esqueci o dia em que ele entrou no meu escritório para narrar, com entusiasmo adolescente, seu Projeto Poupança Verde, baseado no plantio de espécies florestais nobres de Cedros, Mognos, Ipês e outras, a partir da irrigação por gotejamento, em vários Municípios do Ceará e já com contatos para iniciar no Rio Grande do Norte e no Piauí. E mais: tudo isso em pleno período de extensa estiagem, o que só confirma ser uma excelente alternativa convivencial para o Semiárido).

É óbvio que esse fantástico lampejo não surgiu como um relâmpago. Como as boas sementes, que dormitam pacientemente na terra à espera do sagrado momento da germinação, esse Projeto é a colheita obtida após vários invernos de pesquisa.

Como os bons amantes da sabedoria, que experimentam o efeito benfazejo e multiplicador da partilha, Chico resolveu disponibilizar esse acervo técnico e humano para quem interessar possa através desta obra intelectual.

Este livro, marco no estudo sobre Reflorestamento no Nordeste, é mais que um simples contributo à alteração paisagística e ambiental da Caatinga. É o pulsante testemunho de um homem que revela ser possível, com ações simples, alterarmos o desafiador e complexo panorama do Semiárido Nordestino.

As páginas deste trabalho nos convidam para o estudo da beleza ou a reflexão sobre as infinitas possibilidades da nossa Natureza.

Vivemos o mais delicado momento de passagem da história humana. Mais do que a busca por Democracia – poder nas mãos do povo – a humanidade, até sem o saber ou verbalizar, anseia ardentemente pelo advento da Biocracia – poder nas mãos de todos os seres vivos (animais, plantas, águas, paisagens e todos os elementos da natureza).

Salve!

(Júnior Bonfim, na apresentação do Livro Reflorestamento do Nordeste, de Chico Rosa)

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