quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

POEMAS TELÚRICOS - CONVITE PARA O LANÇAMENTO


Gostaria de contar com o maior número de amigos hoje, no lançamento de mais um fruto do nosso canteiro de sonhos, o livro POEMAS TELÚRICOS. A partir das 7 e meia da noite. O advogado, poeta e escritor Júnior Bonfim, presidente da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza nos brindará com o seu estro e e a sua retórica. Netinho Ponciano nos banhará com a melodia dos seus acordes. Será uma bonita festa se Deus quiser. Atá logo mais!

(Dideus Sales)

AMIGOS PARA SIEMPRE - ANDRÉ RIEU

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

AVE MARIA INTERPRETADA POR DANIELA DOS SANTOS

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna com um relato do impagável Zé Abelha, em seu A Mineirice:

A distribuidora de bebidas Minasgerais Ltda., de Governador Valadares, distribuiu na cidade um opúsculo sobre as maravilhas da Catuaba, eficiente no tratamento do sistema nervoso, falta de apetite e impotência. Adicionada à cachaça, a dose teria efeitos afrodisíacos, prometia o livreto:

- Tudo escurece
Nada amanhece
A barriga cresce
A junta endurece
A vista enfraquece
O cabelo embranquece
A mulher oferece
Ele agradece
E diz: ah ! Se eu pudesse!
- Mas com Catuaba Cristal
Isso não acontece.

O estoque acabou em menos de uma hora.

Bomba? Quais os efeitos?

Pois é, não se fabricam mais bombas como antigamente. Ou, se quiserem, outra hipótese: as bombas de hoje têm grande poder destrutivo, mas não causam tanto medo como antigamente. Querem outra? De tantas bombas, explodindo de muitos lados, ninguém sabe qual a mais potente. E mais uma: a banalização das bombas acaba gerando insensibilidade social. Em tempos d'outrora, vandalismo, violência, destruição e morte causavam sensação. Comoção social. Hoje, virou algo comum. A morte está ali, na esquina, à espreita. O arrazoado é um narizão de cera para fechar a ideia: a bomba anunciada pela revista Veja, com a entrevista exclusiva do delegado Romeu Tuma Junior, sobre as peripécias do poder petista, não causou, por enquanto, os estragos que dela se esperavam.

A estratégia do PT

O PT expressou sua posição com um silêncio profundo. Tarso Genro, o governador gaúcho, foi um dos poucos a se manifestar. Disse que não tinha conhecimento detalhado dos fatos narrados pelo delegado e que teriam sido narrados a ele, quando era ministro da Justiça. O partido não deu bola à entrevista, onde se liam denúncias graves, algumas já conhecidas, outras apontando novidades. A produção de dossiês, a cargo de pessoas do partido, já era coisa conhecida. Mas dossiê, documento, vazamento, informações pela metade constituem o acervo cotidiano da política, ou, se quiserem, da politicagem. Por isso, nessa esfera, a coisa morrerá logo.

O Barba

Dizer que Lula, codinome Barba, foi informante do DOPS pode parecer um exagero. Preso, abriu conversa com o Tumão, o velho Romeu Tuma, que chefiava o DOPS, podendo, até, ter passado informações. Seria isso dedodurismo? Cada qual tire suas conclusões. O clima pré-eleitoral esfumaça o ambiente. A história de que chegou a dormir em sofá da sala já era conhecida. Um dia, a verdade verdadeira aparecerá.

Igualdade entre presos

É evidente que houve, sim, espetacularização no episódio dos mensaleiros presos. De um lado, a intensa cobertura midiática expôs a situação dos prisioneiros do PT, com abordagens muito negativas. De outro, os posicionamentos de cada um deles exigindo tratamento diferenciado. Os doentes, como Genoino e Jefferson, devem passar, sim, pelo crivo de médicos. Só eles podem atestar o estado de saúde e as condições que devem cercá-los na prisão. Feitos os laudos, cumpra-se a lei. A reação de um ou outro, escancarando um processo de vitimização, acirrou os ânimos. Petistas tentaram formar um bastião de defesa. Sem olhar para outros prisioneiros, com penas até maiores. Por que alguns foram chamados de "prisioneiros políticos" e outros, de simples condenados? Faltam isenção e bom senso na análise da situação.

Mentiras

Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria".

Barbosa, fora da comitiva

Comenta-se que a presidente Dilma teria cometido uma deselegância para com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, pelo fato de não tê-lo convidado a integrar a comitiva de ex-presidentes da República que foi à África do Sul assistir ao funeral do ícone de grandeza e um dos maiores lides do século XX, Nelson Mandela. Ora, como se sabe, a comitiva foi integrada por ex-presidentes da República. Barbosa não se enquadra na situação. É chefe de um Poder? Sim. Mas se fosse convidado, a presidente da República seria também obrigada, por um dever de Justiça, a convidar os presidentes de outros Poderes, Henrique Alves, presidente da Câmara Federal, e Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. O fato de Joaquim ser negro não justificaria o convite.

Joaquim na política?

Não acreditem nessa hipótese. O presidente do STF é assediado, admirado, convidado para frequentar os mais diferentes eventos em todas as regiões do país. Ganhou fama pela maneira corajosa de ter administrado o julgamento da AP 470. Isso é um fato. A mosca azul da política bateu asas em sua direção? Apelos e pressões nessa direção não faltam para que se candidate à presidente da República. Ora, seria o maior erro de sua vida se decidisse entrar agora na seara política. O tempo não é esse. Cada qual com seu bornal. E no seu devido ciclo de vida. Antecipar a carreira no Judiciário seria ruim para ele. No campo das emboscadas políticas, ele seria triturado pela máquina de sujar perfis. O momento aconselha que permaneça onde se encontra.

E a Eliana Calmon?

E por que a Eliana Calmon, ex-corregedora do STJ e dura no julgamento de juízes corruptos, está entrando na política? Possivelmente, será candidata a senadora pelo PSB na BA. Bom, primeiro é oportuno dizer que não se deve comparar uma coisa com outra. Calmon se aposentou. Fez um percurso vitorioso no Judiciário, chegando ao fim da linha. Seu tempo de vida útil ali chegara ao fim. Joaquim tem um bom tempo ainda na carreira de ministro do STF. Eliana pensa em se candidatar ao Senado pela BA. O espaço que pleiteia combina com seu perfil. Ademais, ela já vive sua quarentena, um tempo afastado do caminho da Justiça.

Padilha com 30%

Petistas me dizem do mais alto patamar de sua convicção: Alexandre Padilha, em julho de 2014, deverá exibir 25% de intenção de voto, devendo chegar aos 30% em final de agosto. Não duvido. Seriam os 30% históricos do PT em SP. Mas a política é um rio sinuoso. Cheio de curvas. Tudo vai depender do clima e das circunstâncias.

Alckmin com 40%

Pois é, na mesma linha das certezas, tucanos do bico longo me dizem: Geraldo Alckmin, que hoje ostenta 43% de intenção de voto, deverá permanecer em torno de 40% em julho, podendo chegar aos 45% em final de agosto. Respondi com a mesma hipótese: tudo vai depender do cheiro do tempo.

A polarização será a mesma?

Coloco outra hipótese no caldeirão eleitoral: o arrefecimento da polarização entre PSDB e PT. Ou seja, digamos que em julho de 2014, o embate histórico entre petistas e tucanos esteja frio. Aponto algumas razões: desgaste de material; mesmice; sensação de que não haverá substantiva mudança com o petismo no poder estadual; sensação de que SP carece de novos rumos, um perfil empreendedor no poder; tiroteio intenso entre os dois exércitos e destruição recíproca de seus arsenais. Esse é um cenário que não pode ser desprezado. Nessa hipótese, teria vez o candidato do PMDB, Paulo Skaf.

Sindetur/SP - 6,6 mil empresas

O Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur/SP) elegeu Eduardo Nascimento para a gestão 2014/2018. Composta por 10 vice-presidentes, a Chapatur foi escolhida por aclamação em Assembleia Geral Eleitoral ocorrida na sede da entidade no final de novembro. A posse será em janeiro. "A meta é ampliar o foro de discussões sobre as necessidades do setor de Turismo e promover ações conjuntas com as demais entidades representativas do agenciamento turístico, em defesa dos interesses da categoria", destaca o presidente reeleito. O Sindetur/SP representa cerca de 6,6 mil empresas de turismo em sua base territorial.

Aperto na segurança

As empresas de segurança, que enfrentam grandes dificuldades para honrar o 13º salário, foram pegas de surpresa pela Portaria 1.885/13 do Ministério do Trabalho. Como é sabido, negocia-se, há tempos, a concessão de 30% de adicional de periculosidade, em SP ; 18% já foram concedidos e os restantes 12% devem ser ajustados nos próximos acordos. Daí a surpresa : o Ministério "regulou" a matéria, definindo que o benefício deve ser pago de uma só vez a contar de 3 de dezembro. Mas em janeiro ocorrerá o "Acordo Coletivo" da categoria. Ora, as empresas não teriam fôlego para integralizar os 30% já agora em dezembro. Pergunta que o setor coloca: a clientela aceitará os repasses correspondentes ? Quantas empresas terão condições de sobreviver? As portas do desemprego começam a se abrir. A insegurança jurídica é uma constante ameaça, afastando empreendedores e investimentos.

Haja sonegação!

A sonegação fiscal no Brasil chega à casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o "Sonegômetro" apresenta em tempo real o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias, por meio do endereço eletrônico (clique aqui). Um painel móvel, com o placar da sonegação fiscal, circulará nas proximidades do Congresso Nacional, a partir de hoje, 11. "Sonegômetro". O Sindicato realizou um estudo que estabelece indicadores para a evasão fiscal. A ação faz parte da Campanha Nacional da Justiça Fiscal "Quanto custa o Brasil pra você?".

Velha história, nova história

Carta de Vespasiano a seu filho Tito

23 de junho de 79 d.C.

"Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos. "De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória." "Alguns senadores o criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa : onde o povo prefere pousar seu clunis : numa privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro." "Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma 'per omnia saecula saeculorum', e sempre que o olharem dirão : 'Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou'." "Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão." "Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. 'Vel caeco appareat' (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma". Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: 'Ad captandum vulgus, panem et circenses' (Para seduzir o povo, pão e circo)." "Esperarei por ti ao lado de Júpiter."

Nossos coliseus

Vespasiano morreu no dia seguinte à carta. Tito inaugurou o Coliseu com 100 dias de festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo Senado. Cheguemos aos nossos dias. A pergunta de Vespasiano continua valendo: "Onde o povo prefere pousar seu clunis: nos monumentais estádios de Cuiabá, Brasília, Natal, Recife e Manaus? Ou numa privada, num banco de escola ou num estádio?" P. S. A Arena Pantanal, em Cuiabá, terá 43.600 lugares. No último campeonato de MT, a média foi inferior a 1.000 pessoas por partida. Em Manaus, a Arena terá 47 mil lugares. No último campeonato estadual, juntando os 80 jogos, o público total foi de 37.971. Vespasiano está vibrando. Em tempo: Em latim, clunis quer dizer nádega. (De um constante colaborador da coluna)

Comida de tubarão

Piada contada nas rodas do Teresina Shopping, pelo "historiador" Sena Rosa. Um piauiense chega a SP pedindo emprego e lhe é oferecida a oportunidade de entrar no mar dentro de uma jaula para enfrentar um tubarão preso em outra jaula. O empregador: "Lá no fundo do mar, você abre a sua jaula para o tubarão entrar e aguarde para pronunciar a palavra 'tuba'". O piauiense: "E porque não dizer a palavra 'tubarão' completa?". O empregador: "Se der tempo".

Conselho aos membros do PT

Na última coluna, o espaço foi destinado aos eventuais candidatos aos governantes. Hoje, volta sua atenção aos membros do PT.

1. O PT realiza esta semana seu 5º Congresso Nacional com os olhos pregados no futuro. Certamente, temas sensíveis como a AP 470 deverão ser objeto de análise e debates. O PT não pode continuar argumentando que o mensalão não existiu, que o STF errou em seu julgamento, que o Partido é uma vestal da República.

2. O PT deve entender que faz parte do quadro partidário, moldando-se à cultura política e, dessa maneira, navega nas ondas dos costumes e padrões em curso, não sendo exceção à regra.

3. O PT não pode desejar ser referência de ética e moral, como alguns membros da cúpula partidária garantem. O PT precisa reconhecer seus erros.


(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Política econômica : cartas na mesa - 1

A divulgação do PIB do terceiro trimestre do Brasil (-0,5%) e a queda do desemprego nos EUA (de 7,3% para 7% no mês de novembro) são duas notícias que ilustram bem o tom que a política econômica terá daqui para frente. Nos EUA está evidente que as políticas keynesianas, adotadas agressivamente após o débâcle de 2008, estão a produzir os resultados esperados. Há um intenso debate entre os formuladores da política econômica norte-americana, bem como entre os economistas dos dois partidos representados no Congresso de como sair desta política. Afinal, a sustentação da imensa expansão monetária promovida pelo Federal Reserve não deve e não pode ser eterna. Será preciso reduzi-la. É como retirar um paciente que volta do coma do balão de oxigênio. Requererá sabedoria e tenacidade por parte do BC. De toda a forma, os EUA tem a moeda forte do mundo e este está disponível para financiar este processo, mesmo porque não há alternativas suficientemente atraentes. A retirada do estímulo econômico deve ocorrer ao longo do ano que vem e isso implicará na elevação do juros por lá e o dólar ficará mais forte. Os agentes econômicos podem puxar o juros de longo prazo em questão de minutos, bastará a sinalização do Fed.

Política econômica : cartas na mesa - 2

Por aqui espalha-se o sentimento de que perdemos a tração na atividade econômica. O Brasil não consegue aumentar os investimentos de forma consistente, bem como não tem como sustentar o consumo em patamares crescentes de vez que as famílias estão endividadas e a taxa de juros é escandalosa. Mas, o mais preocupante é que a presidente da República, que é quem comanda a economia juntamente com o seu assessor Guido Mantega, conseguiu criar, nos últimos três anos, uma somatória de problemas macroeconômicos que pareciam sob controle. Do lado fiscal, as contas públicas mostram-se abaladas pelo excesso de gastos os quais têm sido tentativamente escondidos por maquiagens nos números. Do lado monetário, os juros básicos vão subindo pois, sem o "apoio" da política fiscal, a demanda tem de ser controlada pelos juros. Mesmo assim, a inflação tem sido renitente. No setor externo, as exportações não são mais tão competitivas, sobretudo no setor de manufaturados, e as nossas commodities perderam a dinâmica dos "anos Lula" que favoreceram a formação de um montante de reservas que podem suportar os desarranjos domésticos atuais.

Política econômica : cartas na mesa - 3

O cenário acima descrito está consolidado entre os agentes econômicos. Não é novidade para ninguém. Mas, o que pode ser diferente, então ? Na nossa visão o maior risco é que o real venha a se desvalorizar para um patamar superior aos movimentos que serão provocados pela mudança da política monetária dos EUA. A subida dos juros de longo prazo nos EUA e a consequente valorização do dólar jogarão as moedas do mundo, sobretudo dos emergentes, para baixo. No caso do Brasil, com seus fundamentos mais deteriorados, o real pode ir além da paridade esperada. Neste caso, os efeitos cambiais terão de ser compensados pela elevação dos juros por parte do BC na tentativa de controlar a inflação que virá via câmbio. Neste caso, por que alguém imaginaria um desempenho da atividade econômica melhor ? A nosso ver, 2% é topo para a elevação do PIB em 2014. Não estamos tentando "adivinhar" o PIB, mas apenas fazendo uma leitura das tendências que se delineiam para o Brasil. Obviamente, alguém poderia evocar os efeitos afrodisíacos que a Copa do Mundo pode ter para o país. Neste caso, teremos de abandonar as tabelas de indicadores econômicos e nos debruçarmos nas tabelas dos jogos. Quando a coisa chega neste ponto é melhor ligar a TV e assistir a um filme.

E a oposição ?

O cenário econômico acima descrito pode ter sido provocado pelo atual governo, mas caberá ao próximo governo tê-lo por herança. Se for o atual governo, os eleitores saberão cobrar em face do que já foi feito. No caso da oposição parece claro que é necessário que o eleitor seja informado sobre o que ela fará, caso seja eleita. Aécio Neves lançará seu pré-programa esta semana (vide nota abaixo). Veremos. No caso de Campos-Marina, a questão da política econômica é mais complexa ainda pois a sua candidatura se reveste de um prometido caráter mudancista "estrutural". Terão de mostrar "profissionalismo" na tarefa de recuperar a economia, coisa que numa campanha eleitoral é relativamente difícil de fazê-lo. O programa econômico dos candidatos será importantíssimo para arrecadar recursos de campanha. Nessa hora não adiantará ser apenas pragmático (ou conservador) para agradar a plateia. O cenário das ruas pode exigir que a política seja mais arrojada para tirar o país da letargia e levá-lo para um patamar melhor.

Mercados

Desde a semana passada sinalizamos para os nossos leitores que, a despeito das boas-novas na economia mundial, grande parte dos ganhos registrados nos mercados acionários já foram incorporados nos preços. A hora, ao que nos parece, é de realização de lucros no mercado internacional e no local. As commodities também parecem que irão se acomodar em patamares mais baixos, incluso o ouro, metal que brilhou muito nos últimos anos, mas que está se acomodando em patamares bem baixos. Vale lembrar que os democratas e republicanos voltaram a negociar o teto de endividamento do Tesouro norte-americano. Este tema, tão caro ao mercado ao longo deste ano, persistirá sendo o contraponto ao sucesso da política de expansão monetária promovida pelos EUA e sobre a qual comentamos nas notas iniciais desta coluna. A maior volatilidade deve ser vivenciada nos mercados cambiais os quais viveram um ano tranquilo em 2013.

Imagina na Copa

As imagens de mais um dia de caos nos aeroportos brasileiros no sábado e a incrível briga entre torcedores do Vasco e do Atlético Paranaense foram destaques nos jornais em todo mundo, acendendo os temores de que muita confusão pode ocorrer no Brasil durante a Copa do Mundo. Voltou a correr aquele mantra : se é assim agora, imagina na Copa. Ainda mais que estão cada vez mais claras as indicações de que se preparam, à moda de junho, manifestações de rua nos dias de jogos em todas as sedes da Copa. As autoridades, a FIFA e a CBF deveriam cuidar menos de festas e discursos como os de sexta-feira na Costa do Sauípe e prestar mais atenção para evitar que o maior evento do futebol mundial arranhe a imagem do país. O risco não é pequeno.

O PMDB mostra suas cartas - 1

Como observamos na coluna da semana passada ("O PMDB e PT condenados a viver juntos"), no atacado das eleições de 2014, os dois partidos, salvo algo inusitado, marcharão unidos na campanha para a reeleição da presidente Dilma. No varejo, no entanto, as divergências não são pequenas, e não apenas em relação às composições para as eleições para os governos estaduais. Um teme a rasteira do outro, pois ambos têm outro objetivo : formar as maiores bancadas na Câmara e no Senado. Para o PMDB é essencial ter maioria, principalmente no Senado, para manter pelo menos a presidência de uma das duas casas legislativas e continuar com um "forte apelo" ao Palácio do Planalto em prol de seus interesses na máquina Federal. Para o PT, conquistar a hegemonia no legislativo Federal, principalmente no Senado, significa livrar-se do que o petismo qualifica como "poder de chantagem" do peemedebismo. Com a presidência da Câmara e do Senado, Dilma, caso reeleita, ficaria livre de muitos sustos que costuma passar no Congresso.

O PMDB mostra suas cartas - 2

A desconfiança do PMDB de que o PT está lhe preparando alguma armadilha não diminui depois do ágape partidário de sábado retrasado na Granja do Torto. Nenhum acerto em nenhum dos Estados onde o PT quer que o PMDB o apóie prioritariamente foi fechado de fato, nem no MA da família Sarney. Algumas insinuações em falas do ex-presidente Lula e do presidente reeleito do PT, Rui Falcão, deixaram os peemedebistas com um amontoado de pulgas atrás da orelha. Intrigou principalmente o dito meio solto de que o PT tem total fidelidade à permanência do vice Michel Temer na chapa da reeleição, mas que o PMDB parece às vezes não entender bem as coisas e pode complicar. Foi esta a razão para o PMDB não sair de sorrisos escancarados da reunião e para o silêncio de suas principais figuras sobre o que de fato acertou-se na Granja do Torto. Porém, bem ao seu estilo nada sutil, o peemedebismo deu o troco dias depois.

O PMDB mostra suas cartas - 3

Inusitadamente, quebrando todas normas e praxes partidários, a bancada do partido na Câmara antecipou a recondução do deputado Eduardo Cunha para a liderança do PMDB na Câmara, decisão que as legendas só tomam, normalmente, em fevereiro, no começo da sessão legislativa. E foi por aclamação. Eduardo Cunha é aquele que nas hostes governamentais é mais conhecido como "o coisa ruim" tal a capacidade de causar embaraços para o Palácio do Planalto quando não se sente bem atendido. Sua mais recente façanha foi levar para o ano que vem a votação do Marco Civil na internet, projeto eleito como prioritário pela presidente. O recado do PMDB foi cristalino : antes de chegar a 2015 é preciso passar por 2014 e se o partido não for bem tratado não vai deixar por isso mesmo. Ele mostrou suas unhas, bem afiadas.

O PT e sua natureza

Já está disponível na rede o documento preliminar preparado pela direção do PT para ser discutido no 5º Congresso Nacional do partido marcado para esta semana, de quinta-feira a sábado (clique aqui). O documento que o Congresso aprovar servirá de base para as ações do PT nos próximos anos e balizará a campanha de seus candidatos em 2014. Um dos pontos centrais é a defesa de busca do "socialismo do século 21", a fase do pós-capitalismo. Três curiosidades a anotar e para meditar :

1. A defesa dessas posições, embora teóricas e feitas em grande parte para motivar os militantes, surge no mesmo momento em que a presidente Dilma faz um extraordinário esforço para convencer investidores externos e internos que seu governo não tem nada contra o capital privado e o lucro.

2. Em 2001, também em dezembro, no Recife, também em um Congresso Nacional, o PT aprovou também uma polêmica declaração, na qual, entre outras coisas, dizia ser contra "tudo que está aí". No auge da campanha de 2002, quando eram grandes as desconfianças de como poderia ser um governo Lula-PT, com o dólar subindo, o risco Brasil crescendo, o PT providenciou a edição da famosa "Carta aos Brasileiros", na qual renegava boa parte do que aprovar meses antes em Recife.

3. Há um trecho altamente enigmático, mas que parece uma insinuação contra a autonomia de alguns governantes eleitos pelo partido : "Governantes e parlamentares do PT, pressionados por seus afazeres institucionais, ganharam exagerada autonomia em relação à atividade partidária".

É documento para causar muita polêmica, se Lula e seus pragmáticos não agirem para torná-lo mais light.

A ocupação do Poder
Sabe-se que o Poder não aceita "vácuos". Estes são ocupados por quem estiver a postos. José Dirceu está na prisão, Genoino também em prisão domiciliar e o mensalão ainda deixa rastros pelo PT, inclusive em função das novas denúncias publicadas pela revista Veja neste final de semana. Ao invés de se afastar destes tristes episódios, o PT fará em seu Congresso desagravos aos implicados nos fatos ilícitos. Todavia, a questão relevante é a seguinte : o PT nunca esteve sob o estrito controle de Lula da Silva. De agora em diante, a dinâmica petista dependerá, ao redor do seu maior líder, de novos atores a ensejar novas estratégias e políticas. Quem serão eles ? Não está claro por uma razão simples : dependerá do desempenho de "novos líderes" como Haddad, Padilha e Lindbergh Farias. Estes terão de se provar no governo e nas eleições antes de aparecerem perante Lula e a plateia petista.

O PSDB e suas armadilhas

Hoje à tarde em Brasília o senador Aécio Neves, com a presença anunciada de alguns dos grandes figurões tucanos e das bancadas da legenda na Câmara e no Senado, deverá anunciar o seu pré-programa de campanha, que está sendo classificado como uma carta de intenções, temas básicos para o debate eleitoral. O programa só será detalhado depois de abril. O evento de hoje traz dois desafios para o senador mineiro, o mais provável candidato do partido à sucessão em 2014 e para o próprio tucanato :

1. Mostrar que o partido vai unido para a briga sucessória, sem a fogueira de vaidades que o consumiu nas três últimas disputadas presidenciais.

2. Mostrar que o PSDB tem uma proposta de governo factível, clara, e que de fato é uma alternativa de poder e não apenas uma oposição fraca e em frangalhos.

A "rebelião" na Fazenda

Dez coordenadores do Tesouro Nacional, área vital do Ministério da Fazenda, se reuniram com o secretário do Tesouro Arno Augustin no dia 22/11. Ao que se sabe, foram se questionar os passos do secretário em relação a aportes e alocações de recursos a serem feitos e as necessidades de captação. Foi uma reunião tensa onde os técnicos foram incisivos a respeito de certas práticas de Augustin, economista responsável pelas manobras contábeis que tentam mascarar as contas públicas e com fortes laços com a presidente. Nada aconteceu em relação aos pontos discutidos. Na dúvida, os técnicos do Tesouro chamaram os jornalistas e, sem se identificarem, vazaram o conteúdo da reunião. Aí, ficou evidente de que se tratava de uma rebelião. A nota posterior, do dia 5/12, negou que houvesse rebelião mas, quem sabe das coisas de Brasília, o recado já estava dado. Do alto de sua posição quem saiu imediatamente em socorro do secretário não foi o seu chefe direto Mantega, mas a presidente Dilma a qual mandou que o ministro da Fazenda "controlasse" a turma do Tesouro. Mantega, suave pessoa que é, cumpriu a ordem. Ao final, o nosso leitor pode anotar : há inquietação dos técnicos do Tesouro com o custo da dívida interna por força das medidas adotadas por Arno, Mantega ficou, mais uma vez, desmoralizado pelas "ordens de cima" e Arno Augustin é forte no Planalto. Somente lá.

Não é fato isolado
Há pouco mais de um mês, esta coluna comentou que havia inquietação em algumas importantes áreas do governo, dentre membros do chamado "segundo escalão". Este é composto por técnicos concursados que ficam enquanto governos passam. Uma boa parte destes são "petistas de carteirinha", mas todos acabam se defrontando com a "realidade" que mora fora de Brasília. Assim sendo, quando não concordam com as políticas do governo acabam por registrar suas inquietações fora dos muros da capital Federal. É o caso da diplomacia, da Receita Federal, de técnicos do BNDES e do BC, etc. É certo que não somente em relação ao atual governo, mas em relação a qualquer outro, não é saudável que o segundo escalão se rebele contra aqueles que direta ou indiretamente tem um mandato originado pelo povo. A exceção é evidente : quando se praticam ilicitudes. Contudo, o fato é que esta camada do poder está se mexendo com riscos de tremores e erupções mais à frente.

Desafios da diplomacia brasileira - 1

Nos próximos poucos anos, entre dois e quatro, o Brasil vai se defrontar com uma avalanche de mudanças no cenário das transações comerciais. Na área do Pacífico-Índico o acordo iniciado em agosto passado entre o Japão e a Índia alavanca as trocas entre um país emergente ávido por incrementos tecnológicos e outro que tenta baratear seus produtos sem colocar azeitonas na torta chinesa. Por sua vez a China está fazendo acordos por todos os lados : na Bacia do Pacífico firma sua liderança com novos acordos com a Indonésia e Filipinas. Na África avança celeremente com acordos bilaterais que lhe garantam matéria-prima. Mesmo na América Latina, Chile, Peru e Colômbia viram seus olhos para os EUA. Na semana passada, o acordo de Bali, cria um cenário de flexibilização alfandegária que estimulará a rapidez em novos acordos comerciais.

Desafios da diplomacia brasileira - 2

Enquanto isso, está evidente que o Mercosul é um projeto incerto e, até agora, ineficaz para os interesses brasileiros. Argentina, Bolívia e Venezuela não são parceiros que nos levarão a novos patamares em matéria de comércio exterior. Não são apenas os aspectos políticos da questão que nos deixam vulneráveis perante estes países, mas a realidade objetiva : precisamos aumentar as trocas e, assim, facilitar a melhoria do conteúdo (tecnológico, por exemplo) de nossas exportações. O parágrafo único do artigo 4º da Constituição reza que o "Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações". A matéria constitucional não deixa dúvida sobre nossas prioridades formais. Contudo, à diplomacia brasileira caberá, à luz das restrições constitucionais, desembaraçar a questão e buscar saídas para o nosso cambaleante comércio exterior. Precisamos de saídas efetivas e não discursos ideológicos.

Frase da semana

Do deputado Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados e peemedebista de estirpe : "Feio é perder a eleição. Dentro dos critérios éticos básicos, devemos fazer tudo para ganhar."

domingo, 8 de dezembro de 2013

MANDELA E A LIBERTAÇÃO DAS AMARRAS DA REVANCHE

RIO - O mundo inteiro chora a morte de Nelson Mandela. Para nós, brasileiros, sua ação representou, além de um apelo forte à consolidação de uma nação independente, a luta pela liberação do ser humano das amarras, tanto do racismo, como da revanche. Sua vida foi envolta por uma aura de grandeza, de decência e de humildade. Ninguém definiu melhor a relação entre Mandela e seus contemporâneos que sua conterrânea Manphela Ramphele: “Não foi ele quem buscou a glória, foi esta que o procurou”.

Encontrei-me com Mandela em várias oportunidades. A primeira, em 1995, dois anos depois de ele ter sido eleito presidente da África do Sul. A última, em maio de 2010. Mandela formara um grupo, o Elders — antigos líderes dispostos a continuar pelejando pela paz e pela decência no mundo — e teve a generosidade de me incluir entre os dez escolhidos. Em nosso último encontro, de maio passado, em Johannesburgo, embora já fragilizado pela idade e pelas marcas de tantos anos de lutas e sofrimento, jantou conosco. Continuava lúcido e atento às tragédias do mundo, principalmente, às que ocorriam na África.

Sua simplicidade e, ao mesmo tempo, a imantação que decorria de sua presença deixaram marcas fortes nos que conviveram com ele. Há várias formas para um líder fazer notar sua capacidade de orientar e de comandar. Alguns a demonstram com energia e denodo. Outros com certa demagogia e proximidade com os comandados. Há ainda os que utilizam a persuasão intelectual-emotiva das palavras para serem ouvidos. Mandela dispensava tudo isso: sua presença de homem esguio, elegante, suave, com voz entre rouca, estridente, marcante, dava a seus gestos e a suas palavras uma quase santidade. Por trás de cada movimento seu, sem que ele precisasse recordar, vinha à memória dos interlocutores — fosse uma pessoa ou uma multidão — a história de um lutador que não fugiu aos desafios da luta armada, de um advogado que abraçava as causas dos humilhados e dominados, do prisioneiro que se igualava aos demais no trabalho pesado de quebrar pedreiras, do político que, ainda não liberado, se recusava a compromissos, mas que, tão logo teve a voz livre, pregou a reconciliação sem mentiras.

Era tão forte a impressão de quase sobre-humano que Mandela deixava entre os que com ele conviviam, ouviam ou sabiam de suas ações e palavras que ele próprio se assustou. No último livro que publicou, “Conversations with myself” (que tive a honra de receber das mãos de Graça Machel, com dedicatória do autor, quando ela veio a São Paulo inaugurar, no ano passado, o centro que leva o nome de quem foi sua amiga e minha mulher, Ruth Cardoso), Mandela adverte para os erros que cometeu e recusa o altar em que quase todos o colocaram: “O problema, naturalmente, é que muitos homens de sucesso se dobram a algumas formas de vaidade. Chega um momento de suas vidas em que consideram aceitável serem egoístas e vangloriam-se de suas realizações diante do público em geral como se fossem únicas” (p. 6).

Contrapondo-se a esta atitude, Mandela deixa uma lição diferente. Há um estágio na vida no qual cada reformador social se baseia, fundamentalmente, em plataformas tonitruantes como um modo de se desculpar dos fragmentos de informação mal digeridas que acumulou em sua mente; trata-se de tentativas para “impressionar as multidões, em vez de começar pela simples e calma exposição de ideias e princípios cuja verdade universal se faz evidente pela experiência pessoal e o estudo profundo” (p. 41).

Acrescenta ele, “fui vítima das fraquezas de minha geração, não uma, mas centenas de vezes. Devo ser franco e dizer-lhes que, ao olhar para o passado e ver meus primeiros escritos e discursos, fico chocado por seu pedantismo, artificialidade e falta de originalidade. A urgência de impressionar e de propagandear é claramente perceptível neles” (p. 45).

Na maturidade, declarou com serenidade: “Eu não desejo incitar as multidões. Desejo que elas entendam o que estamos fazendo; desejo incutir-lhes o espírito da reconciliação” (p. 326).

Não é preciso acrescentar mais nada para registrar a grandeza de quem soube mostrar a seu povo e a todos nós o caminho da sinceridade, da fraternidade e da luta contínua pela igualdade que a simplicidade só faz enaltecer. Choremos sua morte; guardemos seu testemunho e suas lições.

Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e ex-presidente da República (1995-2002)