quinta-feira, 16 de agosto de 2012

MULHERES CANTANDO QUADRÃO À BEIRA-MAR


1-Dalinha Catunda

O sol empalidecendo
Ondas subindo e descendo
Nossa paixão acendendo
E o barco a sacolejar.
No balanço do veleiro
Um amor aventureiro
Vivi com meu timoneiro
No quadrão à beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”


2-Rosário Pinto

Lá no Planalto Central
Em Brasília a capital
Numa noite magistral
A lua a desmaiar
Uma paixão, de repente
Na vida se fez presente
Na cidade reluzente
No quadrão à beira-mar
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”



3-Creusa Meira

Queria por um momento
Falar de contentamento
Esquecer o sofrimento
Neste breve versejar
Sorrir para não chorar
Ao lembrar o triste dia
Que perdi minha alegria
No quadrão à beira mar
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”


4-Nezite Alencar

Pelo mar, entre os abrolhos,
Lembro o verde dos seus olhos,
As lágrimas me descem aos molhos,
Pois é grande o meu penar:
Um dia um barco ligeiro
Levou meu amor primeiro
Vestido de marinheiro
No quadrão à beira mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito à beira mar”.



5-Williana Brito

Sentindo a brisa cheirosa
Naquela hora saudosa
Ouvi uma voz bondosa
Dentro de mim declarar:
A vida é dom, é presente,
Amor é o que move a gente,
Cante e viva bem contente
No quadrão à beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”



6-Francy Freire

Meu amor vai na garoa
Remando em sua canoa
Cantando uma rima boa
Pra solidão espantar.
E eu fico aqui tão sozinha,
Levando a mesma vidinha,
Da sala para a cozinha
No quadrão a beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”



7-Bastinha Job

A natureza tão bela
A gente sente e ver nela
A mão de deus que nos vela
No céu, na terra , no ar;
No dia quando amanhece
Na noite quando escurece,
Nossa mão se eleva em prece
No quadrão a beira mar
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!



8-Josenir Lacerda

A onda beijando a praia
No poente o sol desmaia
E o céu perene atalaia
Dia e noite a vigiar.
Assim também é meu sonho
Ora alegre, ora tristonho.
Em versos traduzo e ponho
No quadrão a beira mar.
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!



9 – Anilda Figueiredo

No luar do meu sertão,
Entreguei meu coração,
Ao fogo de uma paixão,
Hoje resta recordar:
Fecho os olhos, sinto o cheiro
Daquele belo vaqueiro,
Que me abraçou no terreiro,
No quadrão à beira-mar.
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!


10-Dalinha Catunda

Este canto feminino
É um canto nordestino
Canto sem desatino
De quem sabe mergulhar.
Não é um canto qualquer
Mas um canto de mulher
Que navega como quer
No quadrão à beira mar.
beira mar, beira mar
o quadrão só é bonito
quando feito à beira mar!


A MULHER EM TRÊS TEMPOS NO CORDEL

1º - a mulher teve grande importância no ofício de repassar a cultura popular. Foi mestre em difundir suas tradições, contando histórias, lendas, causos, cantando cantigas de ninar, fazendo advinhas, cantando cantigas de roda, repassando as superstições, pois tudo isso é parte da andante cultura oral. O cordel parente próximo do repente não ficou de fora, era lido contado ou cantado, também, por mulheres. E era assim as pessoas tempos atrás, se reuniam em alpendres terreiros e calçadas.

2º - a mulher foi tema dos folhetos nas mais diversas formas: a musa, louvada por seus poetas, escrachada por outros, conforme o olhar de cada bardo sobre a figura feminina.

3º - finalmente, chegou a vez da mulher marcar espaço e ocupar seu lugar ao lado do homem de igual para igual. Não, apostando numa competição, e sim numa parceria. E assim, aconteceu. A mulher hoje escreve cordel, ocupa as academias de literatura popular, onde antes era apenas um clube do bolinha, enfim, a mulher ganhou voz e começa a ser respeitada como poeta cordelista.

Mais uma vez, consegue reunir, aglomerar, não em alpendres, calçadas e terreiros, na debulha do feijão, mas num espaço mais amplo, a internet! Onde navega com garra desbravando novos caminhos e fincando sua bandeira.

Estas mulheres, que juntei para cantar um QUADRÃO A BEIRA MAR, todas engajadas e comprometidas em escrever literatura de cordel e explorar novos espaços, inclusive os das mídias contemporâneas.

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Dalinha Catunda/ABLC e /AILCA
Rosário Pinto/ABLC
Creusa Meira/Bancária
Nizete Alencar/ACC
Williana Brito/ACC
Francy Freire/professora
Josenir Lacerda/ABLC e /ACC
Anilda Figueirêdo/ACC
Bastinha Job/ ACC
ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel
ACC - Academia dos Cordelistas do Crato
AILCA - Academia Ipuense de Letras Ciências e Artes

*
Texto e ilustração de Dalinha Catunda
Versos de poetas convidadas

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna com uma historinha envolvendo o grande Franco Montoro e uma personagem do meu querido Estado RN.

Urbano que virou agrário

Franco Montoro ficou famoso pela troca de nomes que fazia. Há muitas histórias envolvendo essa modalidade de dislexia ou dislogia. Uma delas ocorreu comigo, no restaurante dos professores no campus da USP. Montoro havia sido convidado por um grupo de professores para fazer uma palestra sobre o Brasil e a América Latina, dentro do fórum de debates que desenvolvia na Fundação que criou e dirigiu. Certo momento, ao falar do RN, ele passou a se referir a nomes de amigos comuns e conhecidos. Foi quando, de repente, depois de vários acertos, ele me pega de surpresa com a indagação: "e o Agrário, como vai o Agrário"? Respondi: "Agrário, governador, acho que não sei quem é...". Mas aí lembrei-me de um nome na esquina do contraponto: Urbano. E repus a pergunta: "por acaso, governador, não é Urbano, Francisco Urbano"? Era. Na época, Urbano dirigia a Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Daí a confusão. Em respeito ao grande homem, contive a risada!

Chutou o pau da barraca

O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, chutou o pau da barraca. Disse que Lula não apenas sabia como ordenou o mensalão. E arrematou com a inferência de que, ali no STF, onde escancarou sua locução, haveria "um festival de absolvições". Acusou de frente o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter deixado Lula fora do processo. Nunca se viu um destempero tão contundente na presença dos mais altos quadros da Justiça brasileira. A tática do advogado foi a de defender atacando. Tirou o sono dos ministros. Chamou a atenção. Vai dar certo? Criou animosidades? Despertou indignação? Usou linguagem rasteira ao perguntar se Lula era pateta? O "omisso" Gurgel ouviu tudo em silêncio. E Jefferson, o que disse?

"Jogaria Lula no chão"

Roberto Jefferson assistiu atentamente a peroração do seu advogado. Disse que se soubesse da ligação entre o ex-presidente e o BMG, "jogaria Lula no chão". Mas acabou elogiando o desempenho de Luiz Francisco. Que tem "o mesmo quilate" do cliente.

Perillo-Cachoeira

O STJ determinou a abertura de inquérito para investigar relações entre o governador Marconi Perillo e Carlos Cachoeira, em GO. Essas águas ainda vão rolar por muito tempo.

Mais mensalão

A impressão é a de que o país respirará os ares do mensalão ainda por muito tempo. Mensalão do DEM, no DF. Mensalão dos tucanos, em MG. Quem espera ares puros pode ir treinando as narinas para tempos mal-cheirosos.

Datapovo

O Instituto Datapovo, que pode ser auscultado a qualquer hora do dia, em casa, no escritório ou na rua, é o melhor termômetro para se medir a temperatura ambiental. Façam a pergunta: "Maria, Joaquina, Neusa, Deise, Joana, Pedro, Mané, Zé, Joaquim, você sabe o que é mensalão"? Ouvirão algo parecido com a indagação: "não é aquela roubalheira dos políticos"? Continuem a perguntar: "você sabe qual foi o partido que está metido com isso"? Nem todas as respostas apontam para o mesmo partido. Muitos têm dúvidas. Mas a maior parte das respostas aponta para o PT.

Lula em São Paulo

As dúvidas crescem. Lula conseguirá puxar seu candidato Fernando Haddad? Este consultor já foi mais incisivo na indicação do "sim". O PT tem históricos 25% a 30% em SP. Mas, os tempos mudam. Cada campanha tem seu clima, seu repertório, suas circunstâncias. Celso Russomanno, por exemplo, pela leitura das campanhas passadas, já teria caído. Continua firme com 25%. A primeira pesquisa após o início da propaganda eleitoral, em 22 de agosto, apontará as tendências.

Sangue, trabalho, suor e lágrimas

"Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo: - Eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor e lágrimas". (Winston Churchill)

Serra declina?

As conversas sobre a campanha paulistana já foram mais favoráveis ao tucano José Serra. Que, em todos os cenários feitos há um mês, era o favorito do segundo turno. Hoje, começa-se a propagar a ideia de que ele estaria ameaçado de não entrar na reta final. Ou seja, perde a condição de favorito e, mais, de não entrar no segundo turno. O problema de Serra é a rejeição. Consolidada com a impressão de que teria passado sua vez. Difícil aceitar a hipótese, porque o tucano conta com duas mega estruturas de apoio: máquinas governamentais do Estado e da Capital.

Paulinho queimado

Comenta-se que Paulinho da Força passou a frequentar o dicionário de rejeição da presidente Dilma. Que prezaria os candidatos Chalita e Russomanno, que integram partidos da base governista. O PDT de Paulinho também faz parte. Mas o próprio, por conta da linguagem e das ações destemperadas, teria entrado no limbo em que o Palácio do Planalto coloca alguns perfis indesejados.

Pacote da privatização

O anunciado pacote das concessões em diversas frentes da infraestrutura não recebe loas de todas as áreas do empresariado nacional. Grandes questões envolvem os programas e metas estabelecidas para as ferrovias, trem-bala, rodovias, portos, aeroportos, energia, etc. Algumas questões afloram nos ambientes produtivos: como fazer concessões em áreas já concessionadas, como as das ferrovias, por exemplo? O governo vai prorrogar os contratos? Foram feitos estudos de viabilidade dos megaprojetos ou se trata de mais um pacotão recheado de números ? Não seria mais uma avenida paralela aos programas existentes, plasmados para uma travessia gloriosa na passarela eleitoral?

90 mil demissões

A lenta capacidade da indústria de transformação paulista para retomar a trajetória de crescimento deve levar o setor a fechar o ano com saldo de 80 mil a 90 mil demissões. Isso representa uma queda no nível de emprego de 3%, de acordo com o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da FIESP.

Viés político

Há quem veja no mega programa de concessões em eixos infraestruturais um forte viés político. Escudo contra efeitos danosos do julgamento do mensalão nas avenidas do PT com sequelas sobre as imagens de Lula e do próprio governo.

Porém...

Mas as pesquisas começam a mostrar que o mensalão não afeta a imagem do governo Dilma. Os dois pontinhos oscilando para baixo na pesquisa desta semana - comparativamente com a anterior - mostram que a administração continua muito bem avaliada.

Técnica faz faxina ética

A imagem que a presidente Dilma está consolidando é a de uma governante técnica que pegou a vassoura para limpar os espaços do governo de impurezas políticas. A faxina ética já colou. Mensalão pode, até, prejudicar o PT. Mas não queimará o estoque de prestígio do governo.

Confiança de Campos

Eduardo Campos quer eleger seu candidato no Recife, Geraldo Julio, logo no primeiro turno. Confiança em excesso? Lula, seu amigo do peito, promete ir a Recife fazer campanha para o candidato do PT, o senador Humberto Costa. A conferir.

Bolso vazio, sim

Quem pode corroer os traços da imagem positiva é o bolso do eleitor. Ou seja, a perda da capacidade de adquirir bens de consumo - a partir de alimentos - constitui o calcanhar de Aquiles do governo Dilma. A economia, esta sim, poderá ser o ponto do desequilíbrio. Este analista pinça, mais uma vez, sua geografia eleitoral: bolso, estômago, coração, cabeça. Bolso cheio significa geladeira locupletada; estômagos saciados; que, satisfeitos, tocam de perto o coração; coração comovido sinaliza a cabeça. Que acabará enviando sinais de agradecimento aos patrocinadores do bolso cheio. Sinais? Em forma de votos.

100 milhões, duas medalhas

R$ 100 milhões a mais que o investimento feito para a Olimpíada de 2008. Foi esta a quantia que o Brasil "gastou" para disputar em Londres. Qual o resultado? Uma medalha de prata e uma de bronze, duas medalhas a mais que em Pequim. Muita grana, muita dispersão, politicagem, desvios, ilícitos, displicência, desleixo, incúria. Este é o Brasil do eterno retorno.

A volta olímpica

A volta dos brasileiros da Olimpíada foi uma festa. Desfiles em carros de bombeiro, bandeiras tremulando ao vento. Parecia que o Brasil ganhara o primeiro lugar. E o prefeito Eduardo Paes, como papagaio de pirata, parecia ser o maior dos nossos campeões olímpicos.

Liderança do PMDB

Com o acordo fechado para Henrique Alves ser o candidato do PMDB à presidência da Câmara, já começa a se adensar a lista de candidatos à sua sucessão na liderança do PMDB: Eduardo Cunha/RJ, Sandro Mabel/GO, Rose de Freitas/ES, Danilo Forte/CE, Manoel Junior/PB e Marcelo Castro/PI. O mais ativo é Mabel. E um dos mais fiéis aliados de Henrique é Cunha.

Vitória

"Perguntais qual o nosso objetivo? Posso responder com uma palavra: Vitória - vitória a todo custo, vitória apesar do terror, vitória por mais duro e longo que seja o caminho a percorrer, pois sem a vitória, não haverá sobrevivência". (Winston Churchill)

Neymar e companhia

O que fez Neymar em campo? Não deu o esperado show. Chegou com a fama de atleta de triatlo : corre, pedala e .. nada. O problema é que o endeusamento dos atletas brasileiros maltrata sua identidade. Achando-se deuses do Olimpo, os nossos famosos deixam de pisar no chão duro. Vivem da fama. Habitam os espaços midiáticos. Ganham milhões. Sob a corrosão de suas performances esportivas.

Razões para votar

O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea".

Um burrinho baixinho

José Fernandes de Melo, médico, ex-deputado estadual por diversas legislaturas no RN, ex-prefeito de Pau dos Ferros, principal cidade do extremo oeste, fazia suas campanhas à base de receitas médicas e muita verve. Por onde passava, costumava fazer uma brincadeira com os eleitores. Por ocasião de sua última eleição para prefeito, nos meados da década de 80, comemorando a vitória numa festa no meio do povo, foi insistentemente abordado por uma eleitora, que lhe pedia um burrinho para ajudá-la nas tarefas da roça. O prefeito não perdeu a chance de fazer mais uma de suas brincadeiras. "Que tipo de burrinho a senhora quer? Pode ser um burrinho baixinho, meio gordo, um pouco velho" ? A mulher respondeu: "pode ser, sim, doutor José". E ele: "pode ser um burrinho que dá muito coice quando chegam perto dele"? Resposta: pode, sim. O médico, ligeiro, dobrou-se, mãos e joelhos no chão, e arrematou: "pois está aqui ele, dona Maria, pode montar". A mulher, encabulada, sob as gargalhadas do povo, saiu de fininho. (Zé Fernandes, casado com minha irmã, Lindalva Torquato Fernandes - já falecidos-, que foi deputada estadual, prefeita de Pau dos Ferros e ministra do Tribunal de Contas do Estado)

Conselho aos líderes sindicais

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos advogados que trabalham na Ação Penal 470. Hoje, sua atenção se volta aos líderes sindicais:

1. O momento que o país atravessa não permite atitudes irresponsáveis, gestos tresloucados, mobilizações oportunistas. O Brasil não é uma ilha de segurança em um oceano tempestuoso.

2. Ante a moldura da crise internacional e os possíveis efeitos que certamente chegarão até nós, é preciso agir com responsabilidade e evitar que as paralisações em curso contribuam para acirrar os ânimos e expandir a insegurança social.

3. É bastante compreensível o acervo reivindicatório das 30 categorias de servidores Federais em greve. Mas todo esforço deve ser empreendido para se chegar a um termo de ajuste, que possa por fim ao movimento paredista. Estamos às vésperas de um pleito eleitoral. Que precisa ocorrer em um clima de harmonia e segurança social.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Inflação elevada e crescimento baixo

A inflação ano a ano vem se comportando dentro da meta, mesmo que tenha ameaçado "transbordar" nos últimos anos. O problema é que a cada cinco anos a inflação acumula, no ritmo atual, algo como 20%. É um número e tanto e provoca distorções de todos os lados, dos balanços aos preços históricos considerados para fins de tributação. Este é um dos problemas mais sérios quando se é negligente na perseguição de números mais baixos de inflação. A acumulação de variações anuais de preços também corrompe as relações econômicas entre os agentes e destes com o Estado, sobretudo nas relações capital versus trabalho. De outro lado, o crescimento pífio deste ano e do ano passado, bem como a falta de sustentação do investimento nos últimos anos, tornam o país incompatível com a categoria de "emergente". Este é estrategicamente um problema crítico que precisa ser atacado pela administração atual com o custo de não aproveitarmos a dinâmica positiva conseguida a duras penas. E o cenário externo pode até melhorar.

Se correr o bicho pega...

...se ficar o bicho come. Com sua habitual generosidade com o bolso alheio, o Congresso ampliou significativamente os setores com direito às mudanças na contribuição previdenciária no Programa Brasil Maior. E ainda acrescentou à MP 563 a isenção de impostos nos produtos da cesta básica. Em princípio, boas providências. A proposta de cesta básica originalmente é até do PT. Só que não levaram em conta as limitações do caixa do governo nem apresentaram medidas compensatórias. Sobrou para Dilma. Se ela vetar, vai contra o seu próprio discurso atual e contra medidas que estão para anunciar no pacotão. Se não vetar, compromete as contas do Tesouro Nacional já um tanto delicadas. A solução seria cortar outras despesas oficiais. Mas cortar despesas é um palavrão federal.

Enfim, a primeira dobra do pacote

Depois de muitos balões de ensaio e alguma vacilação, a presidente Dilma marcou finalmente para amanhã, numa reunião com os empresários, o anúncio do pacotão de medidas com as quais pretende reativar a economia brasileira. As linhas gerais já são conhecidas e visam desta vez mais o investimento do que o consumo. Haverá algumas limitações, principalmente no que diz respeito à diminuição dos impostos, porque o caixa oficial está muito baixo. E também uma limitação semântica : vão ser feitas "concessões" de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, não "privatizações", pois esta é uma palavra maldita em certas searas governistas. Assim como não serão feitos leilões, mas licitações. Filustrias à parte, o pacote não chega a tempo de dar uma sacudidela no PIB deste ano. Este já está dado e, com muito boa vontade, passa do 1,5%. O foco é 2013 e 2014, anos decisivos para os planos eleitorais da presidente. Por diversas razões, como mostram as greves dos servidores públicos, o passaporte político de Dilma ainda não está totalmente carimbado por seus parceiros. Depende de ela ser capaz de manter intacto o sucesso econômico e social herdado de Lula.

Derrubar a máscara

Fechado o pacote o governo não terá mais condições de manter a fachada de que vai fazer um superávit primário este ano de quase R$ 140 bi, algo próximo a 3,1% do PIB. Não vai dar. Já alguns comentaristas preparam o ambiente para que a medida não seja interpretada como um salvo conduto à gastança pública. O problema é que o que está crescendo mais no governo é o gasto de custeio, não o de investimento.

Intriga nacional

Com o aumento das dificuldades econômicas, as paredes de Brasília e alguns ouvidos em SP estão cada vez mais sobrecarregados com intrigas envolvendo a equipe econômica de Dilma. Há gosto de jogar a culpa de tudo em alguém. Como não pode ser a presidente nem quem já não está no governo...

Um cenário externo mais favorável?

É certo que o cenário internacional tem colaborado decisivamente para que o país tenha um desempenho ruim em termos de crescimento, mesmo que os problemas estruturais (inflação alta, despesas correntes elevadas, competitividade industrial cadente, carência tecnológica, educação deficiente, etc.). Todavia, há uma mudança importante lá fora. O mercado financeiro e de capital está mais confiante e consistente, acreditando mais firmemente nas medidas de liquidez que podem ser introduzidas pelo Banco Central Europeu, bem como em função da recuperação do consumo nos EUA. Não deve ser algo episódico. Pode ser estrutural, ou seja, o início de um novo ciclo. E há mais : a China deve lançar medidas de estímulo ao consumo doméstico e, com isso, alavancar os preços das commodities, um ponto extremamente sensível ao Brasil. Não à toa, as bolsas de todo o mundo, inclusa a brasileira, andaram subindo com o ingresso de recursos novos de investidores.

Não aposte contra

Nossa melhor recomendação, conforme já apontamos nas últimas semanas nesta coluna, é que os investidores e agentes não devem apostar num cenário de mais pessimismo. Ao contrário, podem até ficar mais otimistas, mesmo que isso não deva retirar a necessária moderação diante de tantas variáveis. Os movimentos que estamos registrando no mercado internacional, mesmo num momento de férias no norte do Globo, são positivos e consistentes. Os fundos hedge, especulativos como são, perceberam certas mudanças no cenário, entre as quais no segmento de commodities (metais e agrícolas) e reverteram suas imensas posições vendidas. Ademais, o Brasil vai ter uma boa safra agrícola, no exato momento em que os EUA tiveram uma queda de produção substancial em função de razões climáticas.

Uma relação inamistosa I

Depois de um princípio de governo em que precisou recorrer algumas vezes ao ex-presidente Lula livrar-se de algum aborrecimento, a presidente Dilma Rousseff, a partir da série de demissões em que se viu obrigada a fazer por "malfeitos" praticados por auxiliares herdados do antecessor, deu cara própria a seu governo e firmou seu papel e sua liderança. Para desgosto de muitos petistas e lulistas, ela se livrou da sombra do ex-presidente. O governo, que começou Lula-Dilma, passou a Dilma-Lula e de um ano para cá, Dilma apenas. Lula virou quase uma "fotografia na parede", respeitado, mas com pouca influência.

Uma relação inamistosa II

A greve dos servidores públicos em plena efervescência, trouxe uma reviravolta. Na semana passada Dilma procurou Lula em SP e pediu a ele que interferisse junto às centrais sindicais para acabar com o movimento. Lula que sempre teve total ascendência sobre a CUT, o braço sindical do PT, também ganhou influência sobre as outras centrais depois que generosamente cedeu a elas, sem necessidade de nenhuma prestação de contas, uma fatia do imposto sindical. Um dinheirinho hoje que passa dos R$ 100 mi anuais. De novo a presidente volta a ficar dependente de Lula e do PT num momento em que parcela significativa do petismo ligada a Lula também está insatisfeita com a presidente. Isso porque ela está formando o seu próprio petismo (ou dilmismo) e está se envolvendo menos do que eles gostariam na campanha eleitoral em favor dos candidatos do partido. Ainda mais: mandou o governo publicamente ficar longe do mensalão.

Uma relação inamistosa III

A presidente também tem queixa : ninguém entende a força das greves Federais, com ânimos cada vez mais acirrados quando se recorda que a grande influência no sindicalismo público é da CUT. Dilma e Lula não se desentendem, mas seus partidários já não rezam sempre pela mesma cartilha. Passados o mensalão e as eleições haverá naturalmente uma reacomodação de forças no PT e na base governista.

Confronto à vista?

O governo apresenta contas para mostrar que não tem recursos para atender a todas as reivindicações dos servidores Federais. Seriam mais R$ 92 bi de gastos por ano. Vai atender a duas ou três categorias apenas e se der algum aumento linear, ela será mínimo, quase simbólico. Seus argumentos : precisa de recursos para as políticas de incentivo ao crescimento da economia que vai lançar, para garantir o emprego dos assalariados privados, que não gozam das mesmas vantagens dos servidores públicos. Além do mais, estes já tiveram aumentos generosos nos tempos de Lula, bem acima da inflação, o que de um modo geral é verdadeiro. Os líderes dos servidores, porém, não querem conversa. Semana passada, as lideranças sindicais chegaram até a denunciar o governo junto a OIT. E estão recrudescendo o movimento, já atingindo a sociedade com prejuízos para alguns setores econômicos. O governo mostra pouca habilidade para negociar. Os partidos governistas já começam a ficar incomodados, com medo de alguma rebarba eleitoral. Lula, como Dilma pediu, vai se meter nessa encrenca?

Quem garante?

Em tempos de mensalão, greves dos servidores e pacote econômico, os dirigentes do PT e do PMDB arranjaram um tempo para um evento público em Brasília, praticamente ignorado pela imprensa, para reafirmar o compromisso do PT de apoiar candidatos do PMDB no ano que vem às presidências da Câmara e do Senado. Embora o compromisso já estivesse lavrado em papel timbrado, o PMDB via, com razão, movimentos do PT para fugir dele pelo menos na Câmara. Esta ação agora surgiu depois que o PMDB socorreu o PT na disputa pela prefeitura de BH. E tem o aval da presidente Dilma, com interesses especiais na eleição na capital mineira. Mas quem garante de fato que o compromisso será mantido até fevereiro do ano que vem? Afinal, o PMDB e o PT vivem brincando de Tom e Jerry e os dois estão empenhados numa briga particular para ver quem cresce mais nas urnas de outubro.

E o Senado?

Um dos obstáculos a esse entendimento pode se chamar Renan Calheiros. Preferido do PMDB à presidência do Senado, nem de longe ele é o candidato dos amores de Dilma e do PT. Há movimentos para levar o ministro Edison Lobão para o Senado para concorrer como candidato governista. Dilma daria duas cartadas : troca um ministro pouco eficiente e se livra de um incômodo. Renan ficaria reservado para concorrer ao governo de AL. Não se sabe se o PMDB todo concorda com isso. Além do mais, para Renan pegar o Senado é melhor ainda para ajudar sua candidatura a governador. O resultado dessas divergências pode ser açular uma candidatura da oposição com apoio de dissidentes governistas - até de petistas.

O último suspiro

Mais uma semana e entra no ar a campanha eleitoral obrigatória no rádio e na televisão, última oportunidade dos candidatos que estão rateando nas pesquisas de melhorarem suas avaliações. Espremidas entre os Jogos Olímpicos e o mensalão, que está provocando mais interesse do que se imaginava, as propagandas daqui para a frente terão de se desdobrar para atingir o eleitor. Nunca se viu, nas capitais e nas cidades médias, tão parco interesse por uma eleição como a de agora. O que, em tese, dá alguma vantagem para quem disputa a reeleição ou por quem é já mais conhecido do eleitor. O índice de reeleição este ano deve crescer em relação ao de eleições anteriores.

Mensalão: começam os votos

Os votos do ministro-relator Joaquim Barbosa e do revisor Ricardo Lewandowski serão os primeiros e devem encaminhar uma boa parte dos votos dos demais ministros do STF no julgamento do mensalão. Obviamente, esta é uma opinião precária de vez que são muitas as possibilidades de resultado deste histórico julgamento. Aliás, as previsões iniciais relativas ao caso, foram em larga medida frustradas. O que se vê são defesas relativamente acanhadas, frente à propagada capacidade jurídica dos defensores dos acusados e ministros concentrados em sua tarefa de ouvir e rejeitar recursos dilatórios. O problema de todo o caso será o confronto entre o que está nos autos e aquilo que está no imaginário popular. Como se sabe, a classe política não é exatamente dotada de grande credibilidade junto ao cidadão. Além disso, a corrupção e o descaso dos políticos com as causas, digamos, republicanas, faz com que o distinto público queira Justiça. Eventualmente, a custos elevados. O STF terá de lidar com isso e esta será a questão final do mensalão.

Ainda sem explicações

Seria, no mínimo, de bom tom que o ex-presidente Lula, o ministro Gilmar Mendes e o ex-ministro Nelson Jobim explicassem claramente os objetivos daquela reunião entre os três antes do início do julgamento do STF. Além disso, cabe explicações do procurador-geral da República sobre as pressões que teria sofrido. Muito se fala sobre coisas tão sérias e pouco se explica.

Suzana von Richthofen, Nardoni e Mensalão

Do blog de José Dirceu em 11 de junho último, reproduzindo o fraseado de Márcio Thomaz Bastos, o "God" (segundo seus colegas):

"A imprensa faz publicidade opressiva em casos de grande repercussão", observou o ministro dizendo-se tranquilo na constatação porque "mesmo integrando um valor constitucional da mais alta nobreza, a imprensa não está livre de sofrer críticas". Para ilustrar esse comportamento da mídia, Thomaz Bastos mencionou casos de grande repercussão como os de Suzane von Richthofen, presa porque mandou matar os pais tomando parte no crime; o do casal Nardoni, condenado e preso pela morte da filha/enteada Izabela; e o da atriz Daniela Perez, assassinada pelo colega da TV Globo Guilherme Pádua e a mulher deste, Paula Thomaz, que cumpriram pena e já estão em liberdade. Ao lembrar o processo von Richthofen, Thomaz Bastos o classificou como exemplo paradigmático de casos nos quais a opinião pública atropelou o devido processo penal e a estudante, acusada de mandar matar os próprios pais foi julgada em meio ao clamor público".

A voz de "God" é a voz de quem?

(Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

domingo, 12 de agosto de 2012

Meu querido, meu velho, meu amigo

SER PAI - por ARTHUR DA TÁVOLA



De todas as minhas modestas dimensões humanas, a que mais me realiza é a de ser pai.

Ser pai é, acima de tudo, não esperar recompensas. Mas ficar feliz caso e quando cheguem.

É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.

É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

Ser pai é aprender, errando, a hora de falar e de calar.

É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois. Mas jamais falar no momento preciso. É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte. É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

Ser pai é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez. É esperar. É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo. Portanto, é aguentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.

Ser pai é: saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir. Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar. É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.

Ser pai é ser bom sem ser fraco. É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.

Ser pai é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar. É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.

Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão. Mas ir às lágrimas quando chegam.

Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição. É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho. É saber brincar e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.

Ser pai é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.

Ser pai é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio. O máximo
de convivência no máximo de solidão.

É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver. É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.