sábado, 14 de julho de 2012

ROBERTO CARLOS - MUCURIPE

quinta-feira, 12 de julho de 2012

LOURO DA CRUZ


Mesmo a Quinta Avenida da Big Apple, cidade de New York, magnífica e badalada com um redemoinho de ianques margeados por imponentes prédios de aço e vidro, ou a majestosa Avenue des Champs Élysées, na cidade luz chamada Paris, com o Arco do Triunfo bonapartiano grudado ao Museu do Louvre onde se esparrama um sorriso enigmático da Mona Lisa, e até mesmo a curitibana Rua das Flores, enfeitada de girassóis e de curiosos turistas que assistem diariamente ao encontro dos Cavaleiros da Boca Maldita, não valem o meio fio das calçadas da Avenida Frei Vidal da Penha.

Desde a época em que nas bodegas, uma em cada esquina, os fregueses chegavam fiando açúcar e farinha em raquíticas cadernetas, até o dia em que um nigérrimo tapete cobriu a poeira do tropel dos cavalos que passavam rumo ao centro, a Rua da Cruz foi, e sempre será, uma consonante artéria do meu coração.

A meninada se divertia urdindo travessuras. Éramos pássaros sem plumas aprendendo a voar. Curumins alumbrados entre duendes, magos, mães-d’água e ilusões diluídas no ar. Um duende-menino, disfarçado de gente, ia à escola. A professora, Dona Delite, já o preferira como a um eleito, pela perspicácia e impetuosidade em aprender. Sabatinava-o no 3º ano primário, como exemplo para o restante da turma: — Juracy, responda bem rápido, Sete vezes oito? Ele nem pestaneja: — Cinquenta e seis! Oito vezes sete? Nove vezes quatro? Metralhava-o. Às vezes respondia quase antes da mestra formular uma pergunta. (Eu era um bom aluno... Um bom aluno! Recorda-me saudoso, o próprio Louro da Cruz, dentro de um corpo sofrido pela demolição acrimoniosa do tempo.)

O magricelo vivaz, que apontava para um futuro promissor de uma meninice esperta, tinha um sonho: ser padre. Esteve no seminário de Baturité, dando textura e forma a esse desejo, mas como disse o p(r)o(f)eta Augusto dos Anjos: Vão-se os sonhos nas asas da descrença e voltam nas asas da esperança. Um vírus lhe enche o corpo de contagiantes erupções que se espalham por toda escola eclesiástica. O sarampo diluiu uma aspiração e a transformou em revolta. Foram longos os dias em que vivia da raiva de viver, de não poder mais voltar ao seminário. Deixou de estudar, desentendeu-se com a incompreensível família e foi dormir no mato, como um triste Gmono das árvores. Da mesma forma que o mundo enferma, o tempo também cura. Logo um rebelde e cabeludo Juracy estava vendendo o apetitoso Bauru, o primeiro sanduiche peculiar da cidade, para uma seleta clientela, na Lanchonete Jovem Guarda: vinham os doutores, os ricos comerciantes, os oficiais do 4º batalhão e quando chegava um cidadão comum, tinha que trazer uma boa porção de moedas para saboreá-lo e com direito a ouvir o Louro cantar, “ E que tudo mais vá pro inferno” ou “Olha o brucutu, bru-cu-tu!”, tudo proveniente de uma caixa de bananas verdes, herança de um bodegueiro falido chamado Luizinho Filó, onde o Louro costumava dormir, no chão frio forrado com palhas de bananeiras.

Juracy prospera, pois os ventos da boa sorte o bafejava. Ele sempre soube acautelar-se e pensa em todos os pormenores. Adquire um imenso terreno onde pretende construir uma Casa de Shows e trazer nada mais, nada menos, que o Rei da Juventude, Roberto Carlos. O 4º Batalhão, de partida para Barreiras, na Bahia, o presenteia com abundante material de construção. O único obstáculo, como pedra no meio do caminho, era um imenso e antiguíssimo cruzeiro de aroeira assentado sobre um grosso pedestal de bentos tijolos de 27 quilos, e o único jeito era a demolição. Rapidamente, alavancas e picaretas o degringola. Uma multidão se aglomera no final da Frei Vidal, descrente no que via. O Vigário da cidade, Pe. Bonfim, chega no seu motorzinho e constata o grande perigo: — Mas seu Juracy, como pôde fazer isso? Este cruzeiro foi enfincado na entrada da cidade pelo santo Pe. Juvêncio para nos proteger e nos livrar da tentação do demônio e você o derruba! Pois está amaldiçoado!

O verde Jeep da polícia, um willys 51, leva-o para a cadeia publica, mas logo é solto. O delegado não ver legalidade naquela despropositada prisão. Juracy tomou o devido cuidado de enterrar os mastros de aroeira no chão da boate encoberto pelos trilhos de ferro do batalhão, para que a maldição daquele dia nunca viesse à tona. Foi uma indispensável prudência do conhecidíssimo Louro da Cruz, como passou a ser chamar, a partir de então.

O Rei da Jovem Guarda nunca deu o seu ar da graça por aqui, mas o empresário Juracy trouxe, entre outros, para soltar suas veludosas vozes a cantora e musa pornô Gretchen, o cigano Sidney Magal ameaçando "Se Te Agarro Com Outro Te Mato", o axé music de Chiclete com Banana, Roberta Miranda cantando que nem A Magestade o Sabiá, a voz potente de Gessé, Biafra celebrando o Sonho de Ícaro e Martinho da Vila que desfilou pelas ruas da cidade com um grupo de mulheres a festejar a Rainha de Iemanjá.

Comprovando sua predisposta felicidade para a sorte, na véspera de uma das piores agressões ao cidadão brasileiro, quando as pessoas perderam dinheiro em contas bancárias pelo famigerado Plano Collor, Louro da Cruz retira todo seu money da poupança e compra a sede da AABB, onde hoje guarda a sua novíssima galinha dos Ovos de Ouro, o animadíssimo Trenzinho da Alegria.

Ali, naquele valorizado prédio que é hoje a sua casa, Louro passou por uma das mais horríveis experiências humana. Devido a um aperto financeiro, entra em crise de depressão. Isolado, achando-se no abandono total, aprofunda-se cada vez mais numa imaginária toca. A ajuda de repente chega e o levam para Fortaleza em busca de cura. Na sala de um psiquiatra, subitamente dois seguranças o agarram e jogam no bojo de um horrível manicômio. Amarga o desespero dos desesperos, entre dementes de todas as espécies, mas o susto trás sua sanidade de volta e um dos guardas percebe que aquele paciente, de conversa equilibrada, não é louco, e faz tudo para tirá-lo daquela situação. (O cidadão Louro da cruz, com os olhos lagrimejando, disse-me: ”— Raimundo, hoje eu sei que só o inimigo é que nunca nos trai.” Ali, em sincera confissão, eu vi uma longa dor e uma grande mágoa escoarem da alma de um incansável e honrado trabalhador). Matutando seriamente no que me disse Juracy, lembrei-me de um velho amigo que nunca me traiu, meu inseparável silêncio.

Aproveito a ocasião e faço uma pergunta para matar uma curiosidade: — Juracy, o povo diz que você, quando não mais existir, deixará todo seu patrimônio para a Igreja, é
verdade?

Solta um disfarçado sorriso que lhe escapole da face e me esclarece:
- Não, eu nunca disse isso, mas quando eu morrer pretendo deixar tudo que tenho numa organização para promover o bem-estar e a alegria das crianças pobres da minha cidade!

Despeço-me deste grande promotor da felicidade e antes que parta, ele ainda me diz:
— Raimundo, eu sou candidato a vereador nessa eleição, pelo Partido Verde, e conto com seu voto!

Afirmo como seria bom termos um vereador daquela qualidade nos representando no legislativo municipal, ele que já faz muito pelo povo, fomentando alegria. E me vem à mente a criança sonhadora que ia à escola da dona Delite, mostrando agora uma serenidade de padre, mesmo sendo um animador de festas, de danças e de músicas. Sempre acreditei no significado dos nomes próprios que corroboram nossa existência, pois Juracy que dizer aquele que faz o bem e mesmo assim eu lhe acrescentaria um Duney, o Duende da alegria. Que a Consciência Eleitoral de Crateús te coloque sentando numa cadeira da câmara dos vereadores, Juracy Duney do Partido Verde, uma associação de duendes, propícia aos espíritos fortes, honestos e trabalhadores como convém ao Mago da Alegria, chamado Louro da Cruz.

Raimundo Candido

quarta-feira, 11 de julho de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Faltam 8 contos

Vereador em Itiruçu/BA, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira foi pedir ao prefeito Pedrinho. Pedrinho brincou:

- Por que você não pede a Jesus Cristo ? Ele não é o pai dos pobres?

Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou: "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta: "Nosso Senhor; agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte: se o senhor for mandar dinheiro novamente, faço o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8".

(Mais uma do grande Sebastião Nery)

Pressão da CUT

O novo presidente da CUT, ex-bancário Vagner Freitas, promete mobilizar suas bases e ir às ruas caso a decisão do STF não obedeça a critérios técnicos. A pressão da sociedade organizada para fazer valer suas ideias até pode ser compreensível. No caso da CUT, a suspeita emerge com força. Primeiro ponto : se o Supremo condenar mensaleiros, a decisão seria política ? Pelo que se infere, apenas a absolvição seria aceita pela CUT, porque estaria estribada em critérios técnicos. Risível essa posição da CUT. Segundo ponto: pode uma entidade que recebe dinheiro público fazer campanha por perfis, pessoas, partidos? A CUT recebe uma dinheirama do imposto sindical. Atentem para esse termo: imposto. O Estado impõe a tal contribuição de um dia de trabalho. Tira de todos os assalariados. Portanto, trata-se de um imposto, que é repassado para as Centrais.

Para que servem as Centrais?

As Centrais Sindicais, afinal de contas, são órgãos inseridos no organograma do sindicalismo ou do partidarismo político ? Podem fazer movimentações partidárias, pedir voto, apoiar ou condenar pessoas ? A se considerar o foco - coordenação sindical, defesa de interesses de trabalhadores, mobilização das categorias sindicalizadas - desviar-se dessas funções seria algo não recomendável. Mas, por estas plagas, tudo é permitido inclusive o que é proibido. Ora, o presidente da CUT, Artur Henrique, que deixa o cargo, já disse alto e em bom som que a entidade não vai permitir que os tucanos voltem ao poder. Que proibição é essa ? Tem a CUT força institucional para proibir que um partido político volte a ganhar o centro do poder ? Não. De lorota em lorota, cada qual faz sua afronta. E o que a CUT poderia efetivamente fazer se outro partido, que não o PT, chegasse ao poder pelo voto ? Chamaria os militares para um golpe?

Falar de si

"Falar muito de si mesmo também é um meio de se esconder". Nietzsche

"Cala a boca" ao voto aberto

O STF não permite que nenhum senador abra o voto no processo de cassação do senador Demóstenes Torres. Que coisa, hein? Mas é útil recordar que Demóstenes abriu o bico por ocasião do processo de cassação contra o senador Renan Calheiros, que renunciara à presidência do Senado. Dizia ele na ocasião que se Renan não serve para presidir a Casa, também não serve como senador. Ou seja, proclamou seu voto contra o alagoano. Agora, ao que se infere, ancora-se na proibição do voto aberto para tentar salvar o mandato. A lei e suas circunstâncias. Cada roca com seu fuso.

Você é um gato

Alguém acusou Toninho Cabral de não ser filho da cidade. Ele era vereador em Campina Grande. Na tribuna, defendia-se :

- Nasci em Cabaceiras, é verdade, mas vim abrir os olhos em Campina Grande.

Um desafeto o aparteou lá do fundo :

- Vossa Excelência não é um homem, é um gato. Sabe por quê ? Gato abre os olhos oito dias depois de nascer.

Campos abre o verbo

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que comanda o PSB, manda o recado : apoia a presidente Dilma, mas quer autonomia político-partidária. Ou seja, abre uma fresta para contemplar o horizontes de 2014/2018. Por enquanto, mostra-se firme na base governista, mas faz cálculos : se o PT continuar a querer ver os partidos da base como vassalos, ele, Campos, retirará seu exército do campo de batalha governista. A verdade é que Campos e Aécio Neves ensaiam passos largos na direção do amanhã. Ele tem um sonho : reunir o grupo pós-64 sob a mesma bandeira.

11/12 avos

"Onze doze avos de todos os grandes homens da história eram apenas representantes de uma grande coisa". Nietzsche

Temer, eficiência na articulação

Enquanto o PSB se afasta do PT, em Belo Horizonte, o PMDB dele se aproxima. O vice-presidente da República e presidente licenciado do partido, Michel Temer, de maneira discreta, como é seu estilo, e ágil, costurou o apoio do PMDB ao PT com a indicação do vice na chapa de Patrus Ananias. O PMDB trabalha de maneira pragmática, habilitando-se a continuar como parceiro preferencial do PT. Ganha, em consequência, amplo apoio de lideranças petistas, que começam a desconfiar das intenções do governador pernambucano.

PMDB unido

Aliás, a taxa de unidade do PMDB é inédita. É comum ouvir-se : o PMDB está mais unido hoje do que nos próprios tempos do dr. Ulysses. E avança em territórios que foram praticamente abandonados, a partir de SP, onde espera eleger cerca de 100 prefeitos e conta com um candidato competitivo em São Paulo, o deputado Gabriel Chalita.

Economia às escuras

A moldura da economia no segundo semestre poderá ficar às escuras. Queda no crescimento, refluxo na indústria - 6,9% de abril para maio, a nona queda consecutiva. Sinais de alerta por todos os lados. Queda também na arrecadação : R$ 20 bilhões a menos em junho. E, como empurrão, o governo libera o maior lote de restituições de IR - R$ 2,6 bilhões, irrigando as contas de 2,46 milhões de contribuintes.

Macaco

"O homem é sempre mais macaco do que qualquer macaco". Nietzsche

Lupi sob ameaça?

O ministro do Trabalho, o deputado Brizola Neto, quer desbancar Carlos Lupi, ex-ministro da Pasta, do comando do PDT. Promete disputar o cargo em março de 2013. Paulinho da Força deve firmar posição ao lado do ministro.

Bons ventos

Em tempos de crescimento sustentável, as ações voltadas para o plano energético ganham musculatura na carteira de investimentos públicos. O Brasil colhe bons ventos no horizonte econômico e agora começa a soprar, também, na nossa matriz energética. O potencial natural para parques eólicos é imenso. O norte-nordeste brasileiro é privilegiado nesse aspecto. A senadora baiana Lídice da Mata comemorou, em discurso recente no Congresso, a inauguração de um complexo eólico em seu estado. O projeto na região de Caetité, com 14 parques eólicos, é o maior da América Latina e tem capacidade para atender uma cidade com 540 mil residências ou mais de dois milhões de habitantes. São os novos ventos soprando a favor.

PSD na base governista

O PSD dá mais um passo em direção à base governista. A aliança com o PT, em Belo Horizonte, constitui mais um passo nessa direção. O prefeito Kassab mantém boas relações com o ex-presidente Lula e com a presidente Dilma. A decisão de firmar apoio ao candidato do PT em BH, Patrus Ananias, contrariou o ex-deputado Roberto Brant, que se afasta do partido. E gera a dissidência da vice-presidente do partido, a senadora Kátia Abreu. A habilidade do prefeito paulistano, que preside o partido, entrará em cena para acalmar os correligionários. Quem conhece a capacidade de articulação do prefeito sabe que as coisas se acomodarão. A conferir.

Parasita

"Quase todo ser vivo contém um parasita". Nietzsche

CPI das Águas Correntes

Ontem, encerrou-se o primeiro ciclo da CPI das Águas Correntes. A CPI só ressurgirá após o recesso de julho. Entre ditos e desditos, verdades e versões, achados e perdidos, patinação e navegação nas águas turvas, as coisas ainda permanecem confusas. Afora a quase certeza da cassação do senador Demóstenes e a desclassificação da empresa Delta como grande prestadora de serviços ao Governo, ainda não se tem noção dos resultados. Mas o clima de agosto tende a ficar mais quente. Desta feita, por conta da temperatura eleitoral mais elevada.

Marketing: os 5 eixos

Cumprindo compromisso firmado nesta coluna e no twitter, este consultor passa a fazer pequenas inflexões sobre a campanha. Lembro, sempre, os cinco eixos do marketing eleitoral: pesquisa, formação do discurso (propostas), comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos), articulação política e social e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas, etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá os exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão meros blá-blá-blás. E, para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado.

Logomarca, slogan e música

A logomarca é a vestimenta do candidato. Que abriga a estética da campanha, com as cores básicas e o ideário do candidato, expresso em palavras-chave. Esse conjunto carece de criatividade, harmonia e naturalidade. Se exagerar no artificialismo, será detectado pelo sistema cognitivo dos eleitores. As cores sairão da matriz cromática do partido do candidato. E o arremate será dado pela música, que funciona como o canal sonoro, a levar o nome e os conceitos centrais que envolvem a candidatura.

Jumento que transportava sal

Um jumento carregado de sal atravessava um rio. A certa altura escorregou e caiu na água. Então o sal derreteu-se e o jumento, levantando-se mais leve, ficou encantado com o acontecido. Tempos depois, chegando à beira de um rio com um carregamento de esponjas, o jumento pensou que, se ele se deixasse cair outra vez, logo se levantaria mais ligeiro; por isso resvalou de propósito e caiu dentro do rio. Todavia ocorreu que, tendo-se as esponjas embebido de água, ele não pôde levantar-se, e morreu afogado ali mesmo. Assim também certos indivíduos não percebem que, por causa das suas próprias astúcias, eles mesmos se precipitam na infelicidade. (Esopo)

Conselho aos parlamentares

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Hoje, sua atenção se volta aos parlamentares.

Abre-se, daqui a pouco, o recesso parlamentar. Tempos de auscultar os pulmões sociais. Tempos de ouvir as bases. Procurem, nesse intervalo de férias e descanso, atentar para os seguintes aspectos:

1. Quais são as expectativas, anseios e desejos do eleitorado.

2. Conferir se os brasileiros, na véspera de uma campanha eleitoral, expandiram a taxa do Produto Nacional Bruto da Felicidade ou, ao contrário, estão tomados pela desesperança.

3. Orientem seus candidatos a apresentar propostas críveis e factíveis ao eleitorado.

(Gaudêncio Torquato)

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terça-feira, 10 de julho de 2012

OBSERVATÓRIO

Principio narrando a história do candidato, que, arrebatado, enérgico, espumando de civismo, discorria sobre o sentido da liberdade. Argumentava que um povo livre sabe escolher os seus caminhos, seus governantes, eleger os seus vereadores, prefeitos e deputados. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso. No momento certo, tirou o passarinho da gaiola, e com ele na mão direita, jogou o verbo: “a liberdade é o sonho do homem, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência, sem opressão; Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade; quero que todos vocês, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal do homem livre. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir soltar esse passarinho, que vai ganhar o céu da liberdade”. Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho acabou com a euforia e as vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. É sempre assim quando não se controla a emoção. Em se tratando do discurso político, a emoção mata frequentemente a razão. (Da lavra de Gaudêncio Torquato)

LARGADA

Esta semana marca o início oficial da campanha eleitoral. O Jornal O POVO do domingo passado listou quatro razões para um prognóstico de que as eleições este ano serão melhores que em outras quadras. A primeira delas é a aplicação da Lei da Ficha Limpa – pois será um marco nas eleições deste ano. Centenas de candidatos no Estado do Ceará – e milhares no Brasil – ficarão de fora do pleito. A segunda é a Transparência – pois nunca a sociedade brasileira exerceu tanta pressão sobre o poder público e teve tanto acesso a informação de como os governos funcionam. A terceira é a Fiscalização - os tribunais de conta, em todos os níveis (Municípios, Estado e União) estão, cada vez mais, fortalecidos e bem instrumentalizados. E a quarta é a Participação - o cidadão está mais participativo. Por meios analógicos ou digitais, acompanha a vida e a conduta dos homens públicos.

A LEI DA FICHA LIMPA

Repito aqui o que falei em entrevista de rádio: acho que a chamada “ficha limpa” há que ser considerada como uma via de mão dupla. Como vivemos em uma sociedade que adora transferir culpa, via de regra se aponta apenas para políticos e candidatos quando se exige decência, retidão e coerência. Ora, a busca por uma postura digna é obrigação de todos nós, cidadãos e eleitores. É o eleitor um ficha limpa quando chantageia ou transforma o seu voto em mercadoria?... Portanto, esse processo de assepsia há que permear todos os setores e segmentos sociais!

OS TRIBUNAIS

Nem tanto ao mar nem tanto a terra. É incrível como algumas pessoas fazem avaliações açodadas a respeito dos fatos. Outro dia deputados esbravejavam na tribuna da Assembleia Legislativa que “estavam burlando a Lei da Ficha Limpa”. A razão de tal afirmativa era algumas decisões que estavam reformando julgados dos Tribunais de Contas. Fui ver. Menos de 1% (um por cento) das pessoas que estão na lista do TCM/CE tiveram decisões revisionais favoráveis. Convenhamos: a via recursal – a possibilidade de alguém buscar, através de um recurso, a correção de um equívoco em uma decisão – é algo previsto no nosso ordenamento jurídico. Isso não significa o fim da lei. Ou sua burla.

A PARTICIPAÇÃO

Inegável que a participação das pessoas nas redes sociais terá um peso decisivo no processo eleitoral. Cada dia perde força o poder da encenação. Antigamente era mais bem sucedido o político que sabia ser melhor ator, que enganava com mais classe. Luis XIV resumia bem esse entendimento enviesado quando dizia que “os povos gostam do espetáculo; através dele, dominamos seu espírito e seu coração”. Esse reinado do malabarismo político, porém, está com seus dias contados. Pela internet o eleitor hoje sabe, em tempo real, os efeitos de uma maquiagem. Consegue ver, também, o lixo escondido por debaixo do tapete. Portanto, mais do que nunca, ganha destaque a transparência. Melhor desempenho terá o candidato que for mais claro e verdadeiro.

A PARTICIPAÇÃO II

Em Crateús passarão pelo crivo da observação popular: Adriana Calaça, Carlos Felipe, Eduardo Machado, Ivan Monte Claudino e João Coelho (Maçaroca). É hora da sociedade, através de seus segmentos de classe, convocá-los para o debate. Examinar suas ideias. Estudar seus projetos para o município. Confrontar as propostas com a prática. Submetê-los ao filtro do contraditório. E, com isso, enriquecer a campanha.

PARA REFLETIR

“Não se pode fazer política com o fígado, conservando o rancor e ressentimentos na geladeira. A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais. É indecoroso fazer política uterina, em benefícios de filhos, irmãos e cunhados. O bom político costuma ser mau parente”. (Ulysses Guimarães)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

MAGDA E O MAR

Há expressão mais conspícua da imensidão feita realidade misteriosa e atração sedutora do que o mar? Opino que, possivelmente, não. Talvez só o sertão! Como bem lembrou Rui Barbosa, "O sertão não conhece o mar. O mar não conhece o sertão. Não se tocam. Não se veem. Não se buscam. Mas há em ambos a mesma grandeza, a mesma imponência, a mesma inescrutabilidade. Sobre um e outro se estende esse mesmo enigma das majestades indecifráveis. De um e outro ressalta a mesma expressão de energia, força e poder a que se não resiste”.

O certo é que, assim como o sertão, o mar sempre ganhou minha afeição. Como descrever aquela assombrosa arquitetura, aquele fervoroso planejamento, aquele brilhante espírito, aquela tempestuosa oração, aquele murmúrio melodioso, aquele inesgotável orgasmo, aquele transbordante êxtase?

Andando pela praia, mirando esse incansável viajante que nunca sai do lugar, lembrei-me de um poema que escrevi faz algum tempo onde busco revelar o meu encanto pelo mar. Revelo a certa altura:

Te tenho amizade, não
Por aquilo que é ou que outros
Queriam que não fosses,
Mas simplesmente por aquilo
Que não sendo, serás sempre:

Grandeza bonachã,
Borbulhância prateada,
Efervescência mística,
Arrogância líquida,
Potencial impetuoso,
Coração infinito!


Foi do mar que recordei, foi ao mar que recorri quando o César me ligou para comunicar a morte da nossa conterrânea Magda Machado Portela.

Mahatma Gandhi dizia que “a força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável”. Magda era a personificação dessa assertiva. Poucas pessoas pisaram esse mundo com tanta capacidade para extrair ternura da tragédia, com a sensibilidade para revelar flores entre espinhos, com o talento para compor músicas de alegria em meio aos muxoxos de dor. Em uma viagem de trem de Fortaleza para Crateús viu a genitora querida enfartar em seus braços. Aquela aflição sublimou duplicando a dedicação ao genitor, pois aprendeu tudo superar com o amor.

Como o mar, que recebe todas as águas dos rios do mundo, Magda era a expressão maior do acolhimento generoso. Nunca casou. Matrimoniou-se, de coração, com quem precisava de afeto e atenção. Sua casa, defronte ao corredor cultural da cidade, na Praça da Estação, em Crateús, sempre foi um ponto de encontro fraterno, de bate papo informal à sombra da generosidade. Ali, ela envolvia grandes e pequenos, oferecendo café, bolo e amizade.

Foi assim durante todo o seu percurso existencial: uma varanda de responsabilidade, uma alameda de integração, uma coluna de fé.

Esse senso inato do cumprimento do dever ela carregou por todos os espaços, principalmente como estudante e profissional. No vestibular para a FAEC sua redação obteve a melhor pontuação. (Redigia bem: ia por longe e não se perdia). Seus colegas de equipe na Faculdade – Socorrinha Sales, Livramento, Vera Granjeiro e Gilmar – eram pontual e invariavelmente instados a realizar os trabalhos nos finais de semana. Por conta disso, a Socorrinha Sales, espirituosa e brincalhona, apelidou-a de “cachaça”. Como funcionária pública já era famosa pelo seu lado “Caxias”.

Durante vários anos Magda promoveu memoráveis folguedos juninos na rua onde morava, ocasião em que integrava os amigos e dilatava a benquerença. Acima de tudo, era uma mulher de fé. Era assídua na Igreja e na prática da caridade. Amava as crianças: foi entusiasta da criação da Sociedade Pestalozzi em Crateús. Gostava de visitar os enfermos e os anciãos. Lembrava-se do natalício das pessoas e as surpreendia com a presença e presentes.

A penúltima vez que a avistei foi aqui em Fortaleza, na Igreja da Paz, no casamento de Yara, filha da sua amiga Vera Granjeiro. A última, na outorga do Título de Cidadão Cearense para o bispo Dom Jacinto, na Assembleia Legislativa. Em ambas as oportunidades cumprimentou-me sorridente. Quando ela estava saindo, notei que sua inseparável amiga Maria Zita - a quem chamava de “minha pupila” e que durante 35 anos a acompanhou - segurava nas mãos um tubo de oxigênio... Dali retirava forças para enfrentar um problema respiratório antigo. Nunca, porém, demonstrou abatimento. Era exemplo de obstinação. Quanta gente, sem maiores dissabores na vida, às vezes respira amargura e se deixa levar pela depressão.

Magda só viveu para ajudar. Aprendeu e nos ensinou a lição do mar: nascemos para celebrar a doação e propagar a música do verbo amar!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

domingo, 8 de julho de 2012

RONALDO CUNHA LIMA


Centenas de pessoas acompanharam o enterro do ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima no Cemitério Monte Santo, em Campina Grande, no final da tarde deste domingo. Apesar da chuva, a multidão acompanhou o cortejo em um carro aberto do Corpo de Bombeiros junto com a banda marcial da Polícia Militar.

Com honras de chefe de Estado, Ronaldo foi velado no Palácio da Redenção, em João Pessoa, durante a tarde de sábado, onde a família recebeu condolências e gestos de solidariedade da população e de autoridades. À noite, em cortejo, o corpo do ex-governador foi levado ao Parque do Povo, em Campina Grande, onde seguiu-se a segunda parte do velório.

Ronaldo Cunha Lima morreu na manhã de sábado, aos 76 anos de idade, em decorrência de um câncer de pulmão. A doença foi diagnosticada em meados de 2011 e se agravou nos últimos dias. Ele foi governador do Estado, prefeito de Campina Grande (PB), deputado e senador. O prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, decretou luto oficial por três dias em sinal de pesar pela morte do político.

(Fonte: Jornal do Brasil)

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Ronaldo Cunha Lima foi um grande poeta.

Eis uma de suas peças:

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HABEAS PINHO

Em 1955 em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boêmios fazia serenata numa madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu o violão. Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade e que também apreciava uma boa seresta. Ele peticionou em Juízo, para que fosse liberado o violão.

Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praias no Nordeste.

Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal.


Eis a famosa petição:


HABEAS PINHO


O instrumento do "crime"que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver ou pistola,
Simplesmente, Doutor, é um violão.

Um violão, doutor, que em verdade
Não feriu nem matou um cidadão
Feriu, sim, mas a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Entre ambos inexiste afinidade.

O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.

O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.

Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão

Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.

Liberte o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?

Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento.


O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima:

Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.

Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar á porta do Juiz.


(Fonte: Jornal de Poesia)