sexta-feira, 11 de maio de 2012

CHÃO DE GIZ





A HISTÓRIA DA MÚSICA
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O Zé Ramalho teve, em sua juventude, um caso duradouro com uma mulher casada, bem mais velha, da alta sociedade de João Pessoa, na Paraíba. Conheceram-se num Carnaval.

Ele se apaixonou perdidamente por essa mulher, só que ela era casada com uma pessoa influente da sociedade, e nunca iria largar toda aquela vida por um "garoto pé rapado" que ela apenas "usava" para transar gostoso.

Assim, o caso, que tomava proporções grandes, foi terminado. O Zé ficou arrasado por meses, e chegou a mudar de bairro, pois morava próximo a ela. E, nesse período de sofrimento, compôs a canção. Conhecendo a história, você consegue perceber a explicação para cada frase da música, que passo a transcrever:

"Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz"
Um de seus hábitos, no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos dois. O chão de giz também indica a fugacidade do relacionamento, facilmente apagável (mas não para ele...)

"Há meros devaneios tolos a me torturar"
Devaneios, viagens, a lembrança dela a torturá-lo.

"Fotografias recortadas de jornais de folhas... amiúde"
Outro hábito seu era recortar e admirar TODAS as fotos dela que saiam nos jornais - lembre-se, ela era da alta sociedade, sempre estava nas colunas sociais.

"Eu vou te jogar num pano de guardar confetes"
Pano de guardar confetes são aqueles balaios ou sacos típico das costureiras do nordeste, onde elas jogam restos de pano, papel, etc. Aqui, ele diz que vai jogar as fotos dela fora num pano de guardar confetes, para não mais ficar olhando-as.

"Disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão vizir"
Ele tenta ficar com ela de todas as formas, mas é inútil pois ela é casada com o tal figurão rico (o Grão Vizir)

"Há tantas violetas velhas sem um colibri"
Aqui ele pega pesado com ela... há tantas violetas velhas (como ela, bela, mas velha) sem um colibri (jovem pássaro que a admire). Aqui ele tenta novamente convencê-la simbolicamente, destacando a sorte dela - violeta velha - poder ter um colibri, e rejeitá-lo.

"Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de Vênus"
Bem, aqui é a clara dualidade do sentimento dele. Ao mesmo tempo em que quer usar uma camisa de força, para manter-se distante dela e não sofrer mais, queria também usar uma camisa de Vênus, para transar com ela.

"Mas não vão gozar de nós apenas um cigarro"
Novamente ele invoca a fugacidade do amor dela por ele, que o queria apenas para "gozar o tempo de um cigarro". Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela profundo amor e tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo de se fumar um cigarro (também representativo como o sexo, pois é hábito se fumar um cigarro após o mesmo).

"Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom"
Para que beijá-la, "gastando o seu batom"
(o seu amor), se ela quer apenas o sexo?

"Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez"
Novamente ele resolve ir embora, após constatar que é inútil tentar. Mas, apaixonado como está, vai novamente "à lona" - expressão que significa ir a nocaute no boxe, mas que também significa a lona do caminhão com o qual ele foi embora - lembre-se que ele teve que se mudar de sua residência para "fugir" desse amor doentio

"Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar"
Auto-explicativo, né?! Esse amor que, para sempre, irá acorrentá-lo, amor inesquecível.

"Meus vinte anos de boy, "that's over, baby", Freud explica"
Ele era bem mais novo que ela. Ele era um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse (complexo de Édipo, talvez?).
Em todo caso, "that´s over, baby", ou seja, está tudo acabado.

"Não vou me sujar fumando apenas um cigarro"
Ele não vai se sujar transando apenas mais uma vez com ela, sabendo que nunca passará disso

"Quanto ao pano dos confetes já passou meu carnaval"
Lembrem-se, eles se conheceram num carnaval. Voltando a falar das fotos dela, que ele iria jogar num pano de guardar confetes, ele consolida o fim, dizendo que agora já passou seu carnaval, ou seja, terminou, passou o momento.

"E isso explica porque o sexo é assunto popular"
Aqui ele faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela (ou dela por ele): sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois só ele é valorizado - uma constatação amarga para ele, nesse caso.

Há quem veja também aqui uma referência do sexo a ela através do termo "popular", que se referiria ao jornal (populares), e ela sempre estava nos jornais, ele sempre a via neles.

"No mais estou indo embora"
Bem, aqui é o fechamento. Após sofrer tanto e depois desabafar, dizendo tudo que pensa a ela na canção, só resta-lhe ir embora.

(Fonte: facebook do jota junior)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

CRATEÚS DISCUTE PROBLEMAS DO JUDICIÁRIO EM AUDIÊNCIA PÚBLICA

A carência de magistrados e servidores na comarca de Crateús será discutida em audiência pública a ser realizada no dia 15 de maio, às 9 horas, no auditório do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) do município, na Rua Auton Aragão.

A maioria das comarcas do Interior do Estado enfrenta sérios problemas de falta de juízes e funcionários, fato que se agravou com a criação de novas varas. A situação gera uma série de transtornos, como a falta de acesso à Justiça pela população, sobrecarga de trabalho dos magistrados que são obrigados a passar a responder por mais de uma comarca, além da lentidão da prestação jurisdicional. A ausência de infraestrutura das unidades judiciais é outro problema grave.

Para buscar uma solução, a Secional Ceará da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE) vem realizando audiências públicas, em parceria com as subseções da entidade e as Câmaras Legislativas, nos municípios carentes de uma Justiça célere e em bom funcionamento. O evento já aconteceu nas cidades de Tianguá, Maranguape, Aracati, Acopiara, Tauá e Iguatu. Segundo levantamento da OAB-CE, em 60 comarcas do Interior, quase 80% dos servidores que atuam nos fóruns são cedidos por prefeituras. “O Judiciário Estadual está na UTI”, afirmou o presidente da entidade, Valdetário Andrade Monteiro.

OBRIGADA, MÃE!



Minha mãe sempre cantava

E não poupava alegria.

Fazia versos, paródias,

Enfeitando o dia-a-dia,

Costureira e professora,

E mestre na poesia.

*

Na cozinha caprichava,

Fazendo nossa comida,

Seu tempero incomparável

Dava gosto a nossa vida,

Minha mãe se desdobrava,

Pra nos dar melhor guarida.

*

O tempo passa ligeiro,

Meu Deus que velocidade...

Minha mãe está velhinha

E eu sinto tanta saudade

Daquela mãe tão ativa,

Da nossa felicidade...

*

Minha mãe muito obrigada

Por tudo que você fez.

Eu hoje também sou mãe

E chegou a minha vez,

De lutar pelos meus filhos

E ter sua sensatez.


(Dalinha Catunda)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Da casa do...!

Primeiro mandato de Garibaldi Alves Filho como governador do Rio Grande do Norte. Dava-se a largada dos projetos de aprimoramento dos recursos hídricos do Estado. O coroamento se deu posteriormente com as adutoras que se tornaram uma marca registrada do seu governo. Na cidade de Patu, participando de uma inauguração oficial, Garibaldi foi cobrado do público pelo início do serviço de abastecimento d'água da cidade, esperado com muita ansiedade. Sem se afobar, como é do seu hábito, o governador discursou, pegando carona na cobrança popular e colocando nas palavras indisfarçável irritação :

- Vou botar água em Patu nem que a água venha da casa do....! Parou. Sentindo que não podia ir além, o governador repetiu a frase:

- Já autorizei Rômulo Macedo a elaborar o projeto e vou botar água em Patu nem que a água venha da casa do...! Parou de novo. Populares na frente do palanque apressaram-se a ajudar o governador:

- Da casa do cacete....

O orador, sutil e perspicaz, arrematou:

- Eu não queria dizer essa palavra...! Risos gerais. Gari guardara a postura e conseguiu aplausos. (Do acervo de Valério Mesquita)

O desempenho da presidente

A presidente Dilma Rousseff supera as expectativas no campo da gestão. É o que se infere de conversas com empresários, esfera política e jornalistas. Mexeu no mecanismo da poupança sem o estardalhaço da estabanada era Collor. Com ganhos um pouco mais baixos, a poupança, mesmo assim, continua a ser um bom porto para os investimentos. A presidente, na verdade, quis conter a avalanche que poderia inundar o mecanismo, caso continuasse a oferecer a base de incentivos que proporcionava. Não mexeu nas contas de poupadores antigos. E força a queda dos juros.

Colchão social

Desenhada a nova arquitetura da poupança - e na esteira de movimentos que tendem a forçar os bancos a diminuir seus spreads - o governo Dilma parte para nova frente : o colchão social. Decide aumentar o Bolsa Família e estabelecer um pacote com ações para a primeira infância - crianças de 0 a 6 anos. Ou seja, o governo ampliará os repasses do Bolsa Família para quem tem filhos nessa faixa etária, além de reforçar oferta de serviços de saúde e educação. O governo fornecerá gratuitamente 3 remédios contra asma, como já existe nas áreas de hipertensão e diabetes.

Plasmando a identidade

O modus operandi do governo Dilma exibe algumas metas e preocupações : fechar os buracos em toda a malha administrativa ; gerir com parcimônia as demandas políticas ; arrochar os cinturões do governo, particularmente os que circundam os cofres públicos ; avaliar os atrasos nas frentes obreiras ; evitar estouros de contas em algumas frentes ainda sem muito controle ; centralizar processos da gestão. Há críticas a esse modo de governar, particularmente no que toca à excessiva centralização. Diz-se, por exemplo, que a presidente é capaz de passar três horas analisando planilhas, detalhes, curvas crescentes e descendentes. É seu jeito. Por isso mesmo, tem uma visão mais abrangente e plena da administração Federal.

Pequena e tão grande

Alcides Carneiro, advogado, poeta, político, um dos maiores oradores da Paraíba. Vamos entremear a coluna com algumas de suas frases.

"Paraíba: Terra que se fez pequena para não parecer tão grande!" (Durante campanha para a Câmara Federal).

"Paraíba que é pequenina na sua configuração geográfica, mas, que é grande no heroísmo dos seus filhos..."

Lula sem o viço

A continuar nessa modelagem administrativa, não haverá espaço para eventual volta do ex-presidente Luiz Inácio. Que representa um tempo e um estilo de governo. Popular, carismático, discursivo, exuberante, animador de plateias, mobilizador de multidões. Pois bem, esse estilo teve seu espaço e seu tempo. Regressar a ele é, de alguma forma, retroceder. O país agora abre fronteiras no território da racionalidade. Ademais, Lula já não tem o viço, o dinamismo, a força física que exibia para enfrentar os mais espinhosos caminhos. Vê-se um perfil debilitado. Em convalescença.

Lula como consultor

Por mais que possa ser considerado um paciente curado de grave enfermidade, sobrarão sempre lembranças e resquícios de um ex-doente que não pode e não deve cometer exageros. Dona Marisa Letícia é a primeira a se opor a um programa que ameace debilitar seu marido. Por todo esse conjunto de coisas, o cenário mais viável é o que aponta a permanência de Lula no lugar mais confortável de consultor, orientador, moderador, apaziguador de querelas.

Campina Grande

Num comício em Campina Grande, Alcides Carneiro falava e foi aparteado por um popular.

- "Campina Grande é de Argemiro!..."

De imediato respondeu: - "Campina, és muito grande para pertenceres a um só homem...".

Enfrentando o aríete político

É evidente que os políticos da base tendem a fazer cada vez mais pressão junto ao Executivo para que este atenda seus pleitos e demandas. Na verdade, o que um político quer é que as verbas alocadas para ações e projetos em suas bases sejam liberadas. Ele tem esse direito e pressiona o Executivo, chegando a fazer ameaças de não votar de acordo com a orientação do Palácio do Planalto. Mas teme represálias da opinião pública. Afinal, a presidente surfa numa alta onda de prestígio, hoje em torno de 86% de aprovação. Os políticos não querem enfrentar um governante no auge de sua aprovação. E Dilma, sob esse escudo, vai plasmando a administração à sua imagem e semelhança. Hipótese : a possibilidade de um governante executar com êxito programas e ações é maior quando está no clímax da aprovação popular. A recíproca é verdadeira.

CPI das águas correntes

Nem bem foi aberta, a CPI das Águas Correntes já cria traumas. Os parlamentares que a integram queixam-se do excesso de vigilância e da falta de dados na sala que guarda os documentos. São obrigados a deixar o celular e outros objetos do lado de fora. Muitos dizem que entrar na sala é um mico. Ocorre que os vazamentos diários, em tempestades torrenciais, não justificam medidas de extremo cuidado como as que estão sendo tomadas. É pouco provável que os documentos ali guardados contenham informações mais bombásticas do que as divulgadas todos os dias.

1º cenário: águas quentes

1º cenário: águas quentes em Goiás. O senador Demóstenes e o governador Marconi Perillo tomarão um banho quente. Demóstenes sairá mais chamuscado do que Perillo. A temperatura de sua imersão deverá ser de 90º C. Água quase em ebulição. Mas o banho de Carlinhos Cachoeira será com água fervendo a 100º C. Já a pele do governador poderá ser preservada com a aplicação de pomadas compradas na lojinha de conveniências. O deputado Carlos Alberto Leréia também aproveitaria a pomada.

2º cenário: águas podres

2º cenário: águas fétidas do Lago Paranoá. O governador Agnelo Queiroz será inundado por águas do lago, mas é bem possível que, na hora H, surja uma canoa saída da lojinha de conveniências recíprocas, guiada pelos partidos, que seria sua tábua de salvação. É possível que o banho do governador respingue em parte de sua equipe.

3º cenário: águas

3º de cenário: Baía da Guanabara esplendorosa. O governador Sérgio Cabral, que adora festas, poderá dar um mergulho na baía, não a ponto de se afogar. Respingos cairão sobre a cabeça do deputado Stepan Nercessian.

Cruz das armas

Em Cruz das Armas, na campanha política de 1950, iniciado o discurso de Alcides, o tempo mudou e começou a chover. Motivado, Alcides declarou:

- "Sou recebido com palmas, bênção dos homens e, sob a chuva, bênção de Deus, que umedece e fertiliza o generoso solo da nossa Paraíba".

Perfis

Registro, com satisfação, o recebimento do livro do amigo, advogado, ex-ministro do TSE, ex-conselheiro Federal da OAB, membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas e, sobretudo, figura celebrada pelas sementes de amizade que espalha por todos os cantos onde circula, Roberto Rosas : "Perfis do Mundo Jurídico". A obra contempla perfis no Supremo Tribunal Federal ; perfis no Tribunal Superior Eleitoral ; perfis acadêmicos e perfis do mundo jurídico. Editado por Migalhas, 345 páginas.

Código Florestal

A presidente Dilma tem, até o dia 25 de maio, para se manifestar sobre o projeto do Código Florestal. Certamente fará vetos. A essa altura, há quem diga que a presidente vetará o projeto totalmente. Outros acham que o veto será sobre partes, incluindo o artigo que trata da recomposição de matas ciliares.

Mais Alcides

"Os que menos recebem, são os que mais agradecem...".

"Pedir não ofende, humilha mais a quem nega, do que a quem pede...".

"Deus estava irado quando inventou a paixão".

Dívida dos Estados

O calendário de votação do Congresso está apertado. Ainda mais tendo pela frente o desdobramento (imprevisível) da CPI do caso Cachoeira. Haverá recesso parlamentar em julho, enquanto o segundo semestre será praticamente dedicado às eleições municipais. Deputados e senadores querem ajudar seus candidatos, sendo que muitos parlamentares (da Câmara) serão, eles mesmos, candidatos. O governo se angustia ante a necessidade de se aprovar, ainda este ano, a mudança no indexador da dívida dos Estados com a União e as novas regras de rateio do Fundo de Participação dos Estados. Por determinação do Supremo Tribunal Federal, deveriam ser aprovadas até dezembro.

2º turno paulistano

Grande dúvida cerca o pleito paulistano, principalmente o segundo turno. Entre 0 a 10, o candidato tucano José Serra ganharia, hoje, nota 8 como provável candidato ao segundo turno. A questão é : quem disputaria com ele ? O PT aposta em Fernando Haddad, confiando nos 30% históricos de intenção de voto que o partido arruma em São Paulo. Desta feita, porém, a dúvida se instala com mais intensidade, eis que o ex-ministro da Educação patina em parcos 4% a 5%. Lula teria condições de levá-lo nas costas ? Muitos garantem que sim. Há controvérsias. Por isso, cresce a expectativa em torno de Gabriel Chalita. Que já anuncia o cenário : teria o apoio do PT contra Serra no segundo turno; ou teria o apoio do tucano Alckmin, governador e poderoso, contra Haddad, se este desbancar o Serra. Difícil de apostar nesse momento.

Recorde de público

Esta coluna registra dois aniversários, semana passada, que bateram recorde de convidados : o do presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, pré-candidato do PTB à prefeitura de SP, e o do deputado Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB. Compareceram aos eventos cerca de 2 mil pessoas. A festa no Jockey Club para D'Urso reuniu muitas personalidades, entre os quais o vice-presidente Michel Temer, o governador Alckmin, o prefeito Kassab, os candidatos José Serra (PSDB), Celso Russomano (PRB), deputados Federais e estaduais, vereadores e secretários de Estado, e de Gabriel Chalita, que também recebeu, dias depois, no bar Brahma, o abraço de importantes figuras da vida pública, a partir do vice-presidente Temer.

Paes em paz?

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, candidato à reeleição pelo PMDB, não deverá ser atingido por eventual borrasca a cair sobre Sérgio Cabral, governador.

Hollande e a realidade

François Hollande ganhou as eleições francesas com um discurso focado para a quebra de austeridade. Sua visão é de que não é com ortodoxia que a Europa sairá da crise que aperta suas finanças. Os gregos fazem a ele um desafio : apoiar os partidos gregos que também rejeitam a austeridade. Pedem que ele não endosse a firme decisão da primeira ministra alemã, Ângela Merkel, que é a de apertar os controles e equilibrar os orçamentos. Significaria extraordinário esforço para renegociar o pacto fiscal da União Europeia. A dúvida entre afrouxar e apertar - eis o manto que cobre o perfil do socialista Hollande.

Selo de qualidade: empresas contábeis

Hoje, será realizada no Expo Transamérica, em São Paulo, a 7ª edição do Programa de Qualidade de Empresas Contábeis (PQEC 2012). Serão mais de 400 organizações certificadas com o selo que garante a excelência dos serviços prestados na área da contabilidade. "Com a velocidade da informação e o aumento da exigência dos consumidores, a qualidade dos serviços passou a ser fundamental para o sucesso das organizações", afirma José Chapina Alcazar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP) e idealizador da premiação. Parte das empresas certificadas conquistarão também o selo internacional ISO 9001:2008, fruto de uma parceria entre o Sescon/SP e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O evento contará com o show da dupla Victor e Leo. São esperadas 4,5 mil pessoas.

Bom samaritano

A China começa a adentrar o território das boas ações. Incentiva com dinheiro a quem pratica as virtudes do bom caráter. O brasileiro Mozer Rhian Oliveira, 27 anos, gaúcho, evitou que uma chinesa fosse furtada na rua. Levou uma surra dos larápios sob os olhares de transeuntes que não lhe prestaram nenhum socorro. O governo chinês reconheceu a boa ação e, como estímulo e reconhecimento, lhe deu 50 mil yuans, R$ 15,2 mil. Será que essa prática seria bem acolhida por estas plagas ? Tenho, aqui, minhas dúvidas.

Sanatório para tuberculosos

"Esta é uma casa que por infelicidade se procura, mas por felicidade se encontra".

Hospital dos servidores

"Este hospital nasceu da bondade dos que sentem e viverá da confiança dos que sofrem".

Alcides Carneiro, um grande tribuno.

Conselho aos membros da CPI das águas

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, sua atenção se volta aos membros da CPI das águas:

1. Estejam atentos ao que é principal e ao que é acessório. Procurem ajustar o foco para as questões centrais, evitando que as querelas partidárias acabem canibalizando as investigações.

2. Há muitas informações vazando pelos ralos dos investigadores. A essa altura, a teia é tão cheia de fios, que chega a confundir os mais experientes leitores. Procurem separar os fios de cada rolo.

3. Não se deixem levar pela fosforescência midiática. Ajam como parlamentares na função investigativa. Sem excessos. Sem maneirismos. Sem manobras que possam prejudicar o andamento das apurações.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 8 de maio de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Mercados nervosos I

Dois países, duas sociedades, decidiram que querem mudar o rumo das suas economias. A França e a Grécia, esta última com maior intensidade, votaram neste último fim de semana e a conclusão é que para os cidadãos o sofrimento com o desemprego e a depressão econômica estão pesando muito para serem tratados como mero assunto econômico. A liderança da Alemanha e a sua receita "tradicional" está sob risco. Com isso, o mercado financeiro ficou novamente nervoso e temeroso de que um cenário incrementado de risco venha a prevalecer. O certo é que na Grécia mais de 50% dos jovens (até 30 anos) não tem emprego - a taxa de desemprego total é de cerca de 25%. Na Espanha o cenário é igualmente grave. Na França está se agravando. Em Portugal prevalece o pessimismo. E assim vai.

Mercados nervosos I

Angela Merkel, muito bem acomodada politicamente nas fronteiras alemãs, sabe que as coisas mudaram e trabalhará para que tudo continue como dantes. Todavia, o tempo e o sofrimento social não permitirão que os problemas sejam tratados como se as economias funcionem como se fossem orçamentos domésticos. Lord Keynes já descobriu nos anos 30 do século passado que num cenário depressivo receitas tradicionais de nada servem. É preciso inventividade e liderança, ainda mais quando a origem da crise surgiu pela irresponsabilidade dos governos no tratamento de suas contas fiscais associadas a uma especulação secular. Nas próximas semanas, as páginas políticas da mídia é que darão o tom dos mercados e fazer apostas neste momento é tarefa arriscada. De nosso lado, a recomendação é de cautela. De toda a forma, a tendência mais clara é que passaremos por uma nova rodada de tensões nas próximas semanas. A começar pela Grécia dividida que terá de anunciar para o seu povo que vem aí mais uma rodada de aperto fiscal para pagar as contas de junho e julho. Quem viver, verá.

Riscos financeiros

A estabilidade do sistema bancário europeu está mais do que tensa. O cenário de iliquidez está voltando com tudo. Enquanto isso, as agências de classificação de riscos continuam trabalhando como se fossem marinheiros do Titanic : sabem o que está acontecendo, mas ficam com seus alertas inúteis.

Desconstruindo Lula?

Não por gosto, mas por necessidade, o fato é que a presidente Dilma tem procurado afastar cada vez a imagem de seu governo da de seu antecessor. Não passam despercebidos de nenhum bom observador da cena política nacional os movimentos da presidente, iniciado com a história da "faxina" - amainado em seguida porque, insegura politicamente ainda, ela precisou de Lula para acalmar muitos aliados - agora a faxina é retomada. O tiroteio contra os bancos, a firme determinação de forçar o BC a continuar empurrando os juros básicos para baixo e a ousadia política de alterar as regras de remuneração das cadernetas de poupança, contrastam com a timidez de Lula nesta área. Auxiliares de Dilma discretamente chamam a atenção para esta diferença entre os dois. Ousa-se até dizer que o padrinho dela era um tanto submisso ao interesse do mundo financeiro e à vontade do BC lembrando que o dito guardião da moeda era dirigido por um ex-banqueiro, Henrique Meirelles, e hoje o é por um homem da instituição e com uma diretoria de funcionários públicos comprometidos com a questão de Estado.

Mais evidências da "faxina"

A ofensiva da Dilma (com Graça Foster na presidência da Petrobras) para reduzir a influência política na empresa, também é apresentada - e visto externamente - como parte desse processo de "desconstrução" de certa herança lulista. Um processo que atinge também parte do PT mais ligado ao ex-presidente, especialmente sua vertente paulista. Dilma, avalia-se, continuará prestando todas as homenagens que Lula merece, como a participação direta nas homenagens que ele recebeu no Rio de Janeiro, das universidades públicas, na sexta-feira. Até com direito a choro presidencial. Mas o distanciamento do estilo Lula de governar será marcado cada vez mais.

Desconstruindo a oposição?

Sem alarde, mas com atitudes de gosto popular, tal qual a cruzada contra os bancos e a campanha dos juros baixos, a presidente está também tirando o fôlego da oposição. Seus líderes não têm nada a dizer - de bom e de concreto - sobre essas últimas ações da presidente. Nem propostas alternativas. Nem mesmo sobre as mudanças na caderneta de poupança, um risco político calculado que Dilma resolveu tomar, os oposicionistas sabem o que falar. Perplexos, sem discurso, parecem estar esperando algum Godot: um possível, eventual fracasso das medidas da presidente. Correm risco de completa inutilidade.

O PMDB desconstruído

O partido de Sarney, Temer, Jucá, Henrique Alves e Renan viu os movimentos para a convocação da CPI com um sorriso maroto e com aquele ar blasé de quem não tem nada com os fatos e estava esperando o circo incendiar-se para cobrar alto pelos serviços de bombeiro para controlar a crise que, ao gosto peemedebista, engolfaria a oposição e o PT e pelo menos parte de gente do governo, com Lula e Dilma. O PMDB de tantas batalhas inglórias sentia-se desta vez nas nuvens. Mandou até um segundo time para a CPI. Errou o cálculo quando na liça entrou o volúvel governador do Rio, Sérgio Cabral, amigo de fé e irmão camarada de Fernando Cavendish e da empreiteira Delta. Sérgio Cabral nunca foi da cozinha dos caciques peemedebistas, era mais lulista que tudo - e até ousou, em suprema audácia, insinuar-se para uma vice-presidência de Dilma em 2014. Mas o comando do PMDB, mesmo a contragosto, não pode jogar Cabral aos leões - respingaria no partido, cujo currículo nesse campo nunca foi dos melhores. O PMDB já mergulhou na CPI, agora não mais como um simples e isento observador. O momento de "vestal" ao modo Demóstenes Torres dos peemedebistas durou muito pouco.

A meta de Dilma

Sai definitivamente do ar a meta de inflação e entra a meta do PIB. Todas as decisões do governo só têm este objetivo: alavancar o crescimento da economia. E como o ritmo ainda está lento para o lado da indústria, com estoques elevados, não se descartam novas medidas de incentivo ao setor, independentemente da baixa dos juros.

Conselhos do Conselheiro

Do ex-ministro Delfim Neto em artigo no jornal "Valor Econômico":

"Devido à finitude dos fatores de produção internos e do limite do crédito para financiar as importações, não é permanentemente possível maximizar, ao mesmo tempo, o crescimento econômico e a inclusão social sem produzir ou um aumento da taxa de inflação, que anula e torna uma ilusão a inclusão social, ou um déficit em conta corrente não financiável, que acaba matando ao mesmo tempo o crescimento e a inclusão. O problema é físico e não ilidível por mágicas monetárias, fiscais ou cambiais".

Em tradução livre: não é possível fazer a economia crescer a tapas e pontapés.

A batalha dos juros

Enquanto os bancos oficiais, por "indução" da presidente, ampliam os cortes de suas linhas de crédito, os bancos privados, depois de reduzirem marginalmente suas taxas, parecem ter adotado um modelo "Gandhi" - resistência passiva para ver o que vai dar.

O credo presidencial

Da presidente Dilma no dia em que anunciou as alterações na poupança:

"Queremos um país com taxas de juros compatíveis com aquelas praticadas no mercado internacional. Queremos que o nosso câmbio não seja objeto de políticas [monetárias] expansionistas, que, de forma artificial, sobrevalorizem a moeda brasileira e tornem também de forma artificial os nossos produtos pouco competitivos. É a chamada amarra do câmbio. E queremos que o país tenha impostos mais baixos para segurar a produtividade dos seus produtos, dos seus processos de trabalho (grifo nosso)".

Para a primeira oração do credo, Dilma já botou toda a sua fé, ameaça e os bancos oficiais no ar. Para a segunda, está fazendo o que pode com o BC agindo para desvalorizar o real. Nas duas, porém, nem tudo depende dela. A terceira, porém, a dos impostos mais baixos, está totalmente no colo do governo e do Congresso. Por isso, a pergunta : quando, com a mesma vontade do ataque aos juros, ela vai botar o governo na linha dos impostos mais decentes. E como um todo e não apenas pontualmente, para alguns setores apenas ?

Manda quem pode...

... obedece quem tem juízo. O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou como iminente a demissão do diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, um dos poucos remanescentes da era José Sérgio Gabrielli na diretoria da empresa. Sem subterfúgios, Graça Foster desmentiu secamente a informação. E Lobão calou. Que a Petrobras não dá bola, a não ser formalmente, ao ministério das Minas e Energia não é novidade. Lobão sabe das decisões da empresa na última hora, quando elas são fato consumado - quando não sabe pela imprensa. No entanto, alguns atribuem o "escorregão" do ministro, agora, a um lance político calculado. Seria uma tentativa de embolar as mudanças que Graça Foster está fazendo na direção da empresa, criar algum constrangimento para ela e salvar a cabeça de dois protegidos do PMDB que também estão quase na porta da rua : o diretor internacional, Jorge Zeleda, e o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Inútil tentativa.

Fala quem pode

Estranha-se no universo político o silêncio dos mais midiáticos dos ministros da presidente Dilma : Aloizio Mercadante, da Educação, e Alexandre Padilha, da Saúde. Eles estão agora falando para dentro ou, como diz em Brasília, roucos de tanto calar. Outro cujo silêncio deixou de incomodar, falar agora somente sobre o que é pertinente a sua área, deixou de ter opiniões próprias sobre a política econômica, é o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. São coisas que confirmam cada vez mais o temor que os auxiliares têm da presidente Dilma, de seus humores e de suas cobranças.

Poupança: só as cadernetas?

Não há analista sério, do ponto de vista econômico, estritamente técnico, que não tenha aplaudido a presidente Dilma no caso da alteração das cadernetas de poupança. Mas, há, pelo menos, três observações que são repetidas :

1. Alterou-se a remuneração, mas não se eliminou a indexação.

2. É preciso avançar na desindexação da economia brasileira, iniciada com o Plano Real e nunca completada. Outras amarras emperram mudanças mais profundas no sistema financeiro brasileiro.

3. O governo pegou a sua parte na história, pois a alteração na caderneta visa também garantir a manutenção dos clientes para os títulos da dívida pública. Quando ela vai dar uma contribuição maior, reduzindo mais velozmente essa dívida ?

4. Será preciso atacar agora também os juros do crédito imobiliário.

A poupança e a política

Em princípio, Dilma não enfrentará resistências políticas no Congresso no caso das cadernetas. Mas tudo vai depender de como a população reagirá, se ela vai entender as mudanças, com regras mais complexas, e aceitá-las. O governo tem agora pela frente uma batalha da comunicação e vai precisar da ajuda dos bancos particulares. Por precaução, Dilma não saiu para defender a medida. Para atacar os bancos, aproveitou todas as oportunidades possíveis. Nas cadernetas, deixou a exposição mais para Mantega e o BC.

Os efeitos da política de juros

Em que pese os acertos que o governo tem conseguido na política de juros e de câmbio, não há que se esperar uma taxa de crescimento robusta para este ano. Além dos efeitos nefastos da crise internacional, tem-se de considerar que o emprego se estabilizou, que a renda disponível dos assalariados está comprometida com empréstimos do passado e a confiança do consumidor e do investidor está mais baixa relativamente a fase de prosperidade do período entra 2009 e 2011. Talvez tenha chegado o momento do governo fazer um "choque de gestão" no PAC de forma a dar uma injeção de ânimo no setor privado.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ESQUERDA PISCA PARA DIREITA

Não há mais como escamotear. A era dos conceitos clássicos que banhavam a política está cedendo lugar ao ciclo da personalização, cujos contornos apontam para a prevalência dos indivíduos sobre as ideias, o predomínio da forma sobre o conteúdo.

As ideologias, nesse início de segunda década do século XXI, bifurcam-se na encruzilhada dos desafios de nações às voltas com profunda crise econômica. O continente europeu, berço da civilização democrática, é o cenário mais visível dessa mudança.

Aí, a esquerda desloca seu eixo piscando para a direita, atenuando as cores do seu antigo discurso. Já não eleva ao alto do mastro a bandeira da “propriedade coletiva dos meios de produção”. Nem a provável vitória de François Hollande, hoje, nas eleições presidenciais francesas, significará a entronização do pavilhão vermelho no Palácio do Eliseu.

O moderado líder finca pé na justiça social – escopo central dos partidos de esquerda – mas deixa ver a inclinação para a Terceira Via, mescla de elementos do socialismo e do liberalismo, criada por Tony Blair (1997-2007), a partir do Reino Unido, e endossada pelo então primeiro ministro alemão Gerard Schröder (1998-2005).

O estudioso de linguagem política, Damon Mayaffre (O Estado/29/04/2012), ao constatar tal fato, registra que o empobrecimento do discurso, particularmente na França e no Reino Unido, é um fenômeno que ocorre há 50 anos.

No velho discurso, podia-se ler um acervo composto por conceitos como liberdade, igualdade, democracia, capitalismo, socialismo. Hoje, países democráticos, centrais e periféricos, entre os quais o Brasil, usam esses substantivos sem muita convicção.

Recorde-se que a esquerda começou a redesenhar seu ideário após o esfacelamento do comunismo. A solução foi juntar os tijolos fragmentados do socialismo à argamassa do liberalismo.

Sob a nova composição, a política abriu espaço para novas formas de contestação e novos pólos de representação, hoje presentes na miríade de grupos, entidades e organizações sindicais. As clivagens partidárias do passado ganharam nova roupagem, na esteira do arrefecimento do antagonismo de classes e do enfraquecimento dos particularismos ideológicos.

O desvanecimento dos mecanismos tradicionais da política – partidos, parlamentos, ideologias, bases – e a criação de um novo triângulo do poder, juntando esfera política, burocracia governamental e círculos de negócios, fizeram emergir a era do EU, povoada por líderes e mandatários de todos os espectros, cada qual portando as vestimentas fosforescentes do Estado-Espetáculo.

Assim, o progressivo declínio das estruturas clássicas da política propiciou, em contraponto, um fluxo ascendente de personagens que passaram a ter visibilidade na onda midiática.

A forma tornou-se mais importante que o conteúdo. São um exemplo nossas campanhas eleitorais, cheias de cosmética e centradas em fulanos, sicranos e beltranos.

Pela importância da França na textura democrática, é razoável supor que o redesenho do discurso que ali se pratica serve para espelhar o atual estado da política no mundo. A começar pela desconstrução que o presidente francês promoveu em sua identidade.

Damon Mayaffre mostra que, em sua primeira campanha, Sarkozy identificou-se plenamente com o espírito da direita – puxando conceitos como moral, mérito, trabalho, esforço, civismo. Agora, ataca as instituições da República, como Justiça, imprensa, sindicatos. No fundo, trata-se de um ataque a ele mesmo, eis que o presidente encarna o espírito republicano e, por conseqüência, seus corpos intermediários.

A postura tinha lógica em 2007, quando se elegeu com o slogan da ruptura. Mas hoje esse ideário serve à família Le Pen (Marine e seu pai, Jean-Marie) e à Frente Nacional, beneficiários maiores do pleito francês. Formou-se o paradoxo: Sarkozy pregou o dissenso e o opositor, Hollande, defendeu o consenso, quando a lógica sugeria o contrário.

O que podemos extrair da lição francesa para a nossa realidade? Os recados são claros. Vejamos.

Ponto um: não há mais sentido brandir bordões e refrãos insuflando luta de classes, pobres contra ricos, socialismo contra liberalismo. Parcela de nossos representantes continua a erguer bandeiras rotas.

Ponto dois: atacar as estruturas intermediárias da República – Parlamento, Judiciário, imprensa – é desconstruir o próprio edifício da Democracia. Desvios cometidos por pessoas físicas não podem ser confundidos com a importância das instituições democráticas. No entanto, viceja por estas plagas uma peroração que defende o controle da mídia, a revelar a simpatia de grupos pelo Estado autoritário.

Ponto três: o combate às elites políticas por parte de quem as integra soa demagógico. Mandatários que escalaram os degraus da pirâmide para chegar ao topo devem saber que também eles integram o Olimpo elitista.

Ponto quatro: trata-se de um risco ancorar a estabilidade de um governo sobre uma base nacionalista e protecionista. A deriva populista que uma atitude nessa direção proporciona, apesar de gerar conforto no curto prazo, ameaça comprometer o conceito internacional de um país.

Olhe-se para os casos da Argentina e da Bolívia. A decisão da presidente Cristina Kirchner de nacionalizar 51% do patrimônio da petrolífera YPF, controlada pela espanhola Repsol, e a decisão do presidente Evo Morales de expropriar as ações da rede elétrica espanhola SAU, podem até servir à almejada estratégia de aprovação popular. Quem garante que, mais adiante, não se transformarão em bumerangue?

Decisões dessa ordem têm o condão de conferir aos governantes uma imagem situada na banda esquerda do arco ideológico. Mas a esquerda tem sofrido, e muito, para debelar o caos econômico.

A Europa que o diga. Ali, a crise fez cair, nos últimos três anos, 11 dos 15 governos de esquerda ou de centro-esquerda (Espanha, Reino Unido, Portugal, Bulgária, Finlândia, Hungria, Irlanda, Letônia, Lituânia, Eslovênia e Holanda). O aviso é oportuno: medidas populistas têm fôlego curto.



Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP e consultor político e de comunicação