sexta-feira, 30 de abril de 2010

BÁLSAMO DA VIDA

Haurido nas sendas da existência, fruto das pétalas colhidas nas veredas da vida, um eflúvio encantatório se esfumou exalando o amor pelo Direito.

É assim que nós, com parcos recursos intelectuais, podemos definir o que foi o inebriante discurso emanado pelo advogado Pedro Gordilho na cerimônia de posse do ministro Peluso na presidência do STF, ocorrida na última sexta-feira.

Aplaudidíssimo (e não sem motivo), o advogado representou a comunidade jurídica e, sobretudo, "os espíritos livres da nação".

Possuidor de ímpar erudição, Pedro Gordilho encetou seu discurso afirmando que falava "sem outros títulos senão o certificado da lixa do tempo", e o encerrou lançando as sementes do destino da Corte Suprema, para que ela "continue em harmonia com o sentimento nacional" e mantenha seu "saudável equilíbrio". Conhecidos o alfa e o ômega desta bela oração, é bem o momento de sorver seu rico conteúdo.

(Fonte: Migalhas)

UM DISCURSO HISTÓRICO


Sr. Ministro Cezar Peluso, Presidente do Supremo Tribunal Federal

Sr. Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva,

Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Michel Temer,

Sr Presidente do Senado, Senador José Sarney,

Sr. Procurador-Geral da República Dr. Roberto Gurgel, nomes que pronuncio e destaco e, fazendo-o, homenageio as demais autoridades presentes,

Colega Ophir Cavalcante, Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

Senhoras, Senhores,

Colegas Advogadas, colegas advogados

MINISTRO CEZAR PELUSO (*)

Cabe ao veterano advogado militante – sem outros títulos senão o certificado da lixa do tempo, em uma tribuna que felizmente não confere promoção por antiguidade – a incumbência insigne de celebrar os novos dirigentes do Supremo Tribunal Federal, Presidente Cezar Peluso e Vice-Presidente Aires Brito, no pórtico da jornada que se vai iniciar.

Incumbência grata, devo dizer, em razão da afeição que me liga aos homenageados, juízes eminentes e advogado, por certo, mas todos observadores atentos da alma humana e, por isso mesmo, habilitados a depor reciprocamente e com conhecimento acerca das atividades que ilustram os nossos caminhos e das ideias e sentimentos que mais nos uniram na saudável convivência desses últimos anos.

* * *

Continuamos contemporâneos do futuro, buscando remédios mais justos e equânimes para as inquietações de nosso tempo. O secular instinto de liberdade e as aspirações de justiça social procuram fundir-se em medidas que superem as contradições sociais e econômicas, agravadas pelas crises financeiras, os contrastes ideológicos e os antagonismos políticos.

Esse Eg. Tribunal fez eco a tais inquietações visíveis em nosso país. Ameaças e abusos que tiveram como molas propulsoras certas forças policiais, alguns setores da Magistratura e do Ministério Público e uma expectativa social muitas vezes proveniente da fragilidade das informações. Mas com pulso forte, sem temer as deturpações dos polemistas de plantão, o Exmo. Sr. Presidente Gilmar Mendes, que conclui seu mandato na Presidência, defendeu com vigor os direitos fundamentais e as garantias individuais. Assim o fez no livre curso do debate forense e, por igual – visando alcançar grande parte da sociedade desinformada –, em oportunas e convincentes entrevistas dadas à imprensa, esclarecendo, em linguagem acessível, o que se passa na intimidade de um julgamento, de uma proposição jurídica, de uma preceituação constitucional.

A nação brasileira muito deve a V. Exa., Ministro Gilmar Mendes, que com seu destemor, sua vasta cultura jurídica e seu intenso labor deixa a Presidência, podendo se envaidecer justamente – sem prejuízo da notável administração que imprimiu à nossa Suprema Corte –, por haver corrigido os rumos de algumas instituições que se achavam à deriva do arcabouço constitucional no plano da observância das garantias que a Constituição reclama.

Não se compreende como se possa construir uma nação vigorosa, em que cidadãos aspirem o bem e a grandeza, pelo aviltamento do homem com o emprego de processos tenebrosos, desligados do sistema legal, que nele procuram sufocar e extinguir o quanto existe de nobre, de belo, de fecundo e criador, para reduzi-lo a um autômato, a um temeroso, acanhado pela degradação moral, arrancando-lhe tudo aquilo que nele mostra superiormente a presença do sopro divino. O nosso canto de vida é, agora mais do que nunca, um canto à justiça e ao Juiz que a torna viva, e o seu refrão há de ser a estrofe de Walt Whitman, em sua exaltação imortal ao juiz (**):

“Grande é a Justiça;

A justiça não é aquela feita por legisladores e leis... está na alma,

Não pode ser alterada por estatutos, não mais que o amor ou o orgulho ou a atração gravitacional, pois a justiça está nos grandes e perfeitos juízes da natureza .... está em suas almas (...)

O juiz perfeito nada teme.... poderia ficar cara a cara com Deus,

Diante do juiz perfeito todos recuam .... vida e morte recuam .... céu e inferno recuam.”

* * *

Vossa Excelência, Sr. Ministro Cezar Peluso, assume a Presidência do Supremo Tribunal tendo ao seu lado o Ministro Aires Brito, um humanista, um poeta, que, como profundo conhecedor da constituição brasileira, busca, notadamente nos princípios que orientam e comandam o nosso estatuto fundamental, a resolução para os conflitos judiciais. Posso afirmar que humanidade, no entendimento do Ministro Aires Brito, significa solidariedade social. E os princípios constitucionais, na visão de S. Exa., têm parte ativa entre os instrumentos democráticos que tornam concreta esta diretriz. Com uma visão social abrangente, marcante e didática na interpretação da Constituição, concede-nos a garantia de que o Supremo Tribunal, à luz de sua hermenêutica, estará em permanente alerta às ameaças e abusos praticados pelos outros poderes e nas resoluções dos conflitos.

* * *

Do ponto de partida de sua atividade luminosa até atingir a culminância que ora se inicia, V.Exa., Sr. Presidente Cezar Peluso, viveu plenamente, como participante ativo, todas as experiências e aflições do magistrado de carreira.

Iniciou-a em Itapetininga, no distante janeiro de 1968, seguindo-se as Comarcas de São Sebastião, Igarapava, até a Capital paulista, quatro anos após seu ingresso na magistratura.

Por dez longos anos esteve V.Exa. como juiz de primeira instância em São Paulo até a promoção por merecimento para o 2º Tribunal de Alçada Civil, onde oficiou durante quatro anos, sendo promovido, em 14 de abril de 1986, sempre por merecimento, para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Funções e ofícios que foram exercidos sem prejuízo do magistério, atividade intelectual que tanto o encantou e está entre as preferidas de V.Exa.

Marcas vigorosas se mantêm nos textos de sua lavra, desde os primórdios, no exercício da toga, até os dias dos quais somos todos testemunhas: a absoluta correção vocabular, o desdobramento lógico e a fulgurante clareza dos conceitos expressados.

O professor está presente no exercício erudito das teses, na riqueza da pesquisa, na solidez das ideias. Mas na hora da decisão – sem prejuízo das leituras e da cátedra, dos quais promana o denso conhecimento jurídico revelando o notável saber –, o resultado vem pontual com a aplicação do preceito fundamental e o restabelecimento do direito ofendido.

V.Exa. é o Juiz da realidade de seu tempo, aprecia os fatos que lhe cercam e, sempre que necessário – seguindo o exemplo, que a História consagrou, do Chief Justice Warren, conhecendo in faciem o grau de segregação em seu país, antes de dar seu voto decisivo –, V.Exa. também não hesita em conhecer diretamente os fatos visando fortalecer a decisão a ser tomada. Sempre foi assim, desde o início da sua carreira luminosa, como testemunha a obra autobiográfica que encantou o Brasil, Código da Vida, do colega advogado Saulo Ramos.

É esse exercício, raro entre os magistrados, mas tão salutar na construção e renovação do direito, que, ao lado da vasta cultura jurídica, permite-lhe a inabalável segurança com que pronuncia seus votos, na qualidade de relator ou partícipe do debate colegiado. Guardando, sempre, elegância no trato, que se revela na capacidade de ouvir antes de replicar, de reservar a mesma tonalidade – sem demasia no fortíssimo – para a discussão vibrante no respeitoso embate conceitual, que por vezes se estabelece nesse salão venerando.

Em certo momento, fazendo um retrospecto histórico, pude conhecer-lhe ainda melhor a pulsação. Estávamos em 1964. Ferido por uma explosão de insânia, o Des. Edgard de Moura Bittencourt foi punido pela ditadura militar, “condenado à dura pena de afastamento do cargo que foi o sonho realizado de minha mocidade”, como disse o saudoso magistrado em artigo publicado na Folha de São Paulo. Falecido vinte anos depois, coube ao então Juiz do 2º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo Cezar Peluso prestar as homenagens merecidas. Em discurso, celebrou-lhe a memória com um dos depoimentos mais pungentes que tenho conhecido, descrevendo o martírio e censurando a crueldade dos então curadores de plantão das instituições brasileiras.

Extraio trechos do discurso pronunciado naquela ocasião pelo Juiz Cezar Peluso:

“De sua vida, entretecida de fios da tragédia grega, martirologio romano e paixão hebraica, fica-nos a imagem imperecível de fidelidade à consciência e aos mais caros ideais da utopia humana. De sua morte uma exigência de reflexão institucional.

Jamais o atraíram os banquetes das oportunidades ou a medíocre rotina dos horizontes acabados. Espírito inquieto, privilegiadamente sensível às angustias e às palpitações da condição humana, conseguiu articular os valores permanentes do Direito com as mutações históricas. Preparou caminhos e antecipou veredas. Esteve além de sua época, como profeta do sentido jurídico. Não admira escandalizasse contemporâneos escravizados a fórmulas vazias e a preconceitos irremovíveis. A final, todo profeta é incomodo a estruturas e a padrões esclerosados.

Para afastar as suspicácias, não lhe bastaram a honradez pessoal, a integra devoção profissional, a sinceridade imperturbável do verbo, nem a romântica exemplaridade do convívio familiar. Mas, já indagara o velho cavaleiro do Palmeirim, “que prestam razões, onde não há razão”? (apud RUI BARBOSA, “Réplica”, vol. 11 pág. 111). A misteriosa iniqüidade, que grava o coração do homem, é insaciável e não o poupou.

Inventaram-lhe o pecado e não houve tempo por lhe inventarem o perdão. Eis a ironia da Historia. Se a alma grandiosa não pede tempo para anistiar e perdoar no ato mesmo da crucifixão, a catarse não prescinde da temporalidade, que é sempre limitada e não raro insuficiente. A Pilatos, Anás e Caifás, faltou-lhes tempo para refazer o tempo. Edgard de Moura Bittencourt não foi reempossado em todos os seus direitos e prerrogativas, nem restituído nos seus sonhos e esperanças.

Foi, no entanto, menos vítima do arbítrio rebelionário que do obscurantismo e intolerância informes, enquanto lhe deturparam as ideias, corromperam intenções, desfiguraram os gestos e conspurcaram a inocência. A tentação maniqueísta, que não desconfia dos enganos próprios e não se fia nas virtudes alheias, prepara, incentiva e preludia as grandes injustiças.”

Eis aí, Senhoras e Senhores, excertos de um depoimento indignado, doloroso, representativo de um período que a Historia jamais purgará, e que deve ser lembrado para que as gerações estejam atentas e oponham a mais severa resistência às tentações totalitárias.

E vem aqui reproduzido, afim de figurar nos anais do Supremo Tribunal a reminiscência histórica de seu Presidente, lembrança amarga de um suplício irreparável.

* * *

Uma vez foi a rebelião das massas que se considerava a grande ameaça. Golpes de Estado foram dados sob a falácia da proteção da sociedade organizada contra a subversão. Hoje, em nosso tempo, a principal ameaça vem de alguns que estão no topo da hierarquia social, numa ligação espúria com maus políticos e maus gestores. Esta notável mudança nos acontecimentos confunde muitas de nossas expectativas quanto ao curso da historia.

A democracia está hoje ameaçada não mais pelas massas, mas pela inconsciência das elites. Estas elites recusam-se a aceitar limites ou vínculos com a nação ou com lugares. Ao se isolar em suas redes, dividem a nação e trazem a idéia da existência de uma democracia para todos, fantasiada, para induzir a engodos, com designações falaciosas.

Isso explica porque estamos todos apáticos quanto à cultura comum e desinteressados em discutir política ou votar, escolher os governantes e os representantes legislativos. As elites, tendo se descartado de normas éticas, que a religião lhes proporcionava, e valendo-se da lassidão de alguns Estados, felizmente distantes de nós, agarram-se à crença de que, através da ciência e do lucro abusivo, associadas aos maus políticos, é possível dominar seu destino e escapar dos limites. E na busca desta fantasia, ficam fascinadas pela economia global. É uma rebelião que infortunadamente está acabando com tudo o que vale a pena no mundo ocidental e somente poderá ser contida eficazmente pela indelegável ação do Estado, como temos felizmente podido testemunhar em nossos dias.

* * *

Ao Supremo Tribunal Federal cabe significativa parcela nesse quadrante de nossa história contemporânea. Na Apologia de Sócrates Platão ressalta: “O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo a lei.” Mas há um conceito divergente, muito menos rígido, que busca conciliar o imperativo da lei, aprisionado nos códigos e na jurisprudência, com a percepção de uma realidade política e social essencialmente dinâmica. É um conceito que quebra o entrave do tecnicismo exacerbado, em beneficio da causa dos direitos humanos, das liberdades publicas e do equilíbrio social.

Muito mais do que garimpar textos e, com a ajuda de poderosas lupas, revolver – com as louváveis exceções de sempre – o que já passou, o que todos esperamos é que o Tribunal continue em harmonia com o sentimento nacional, fazendo viva a expressão de V.Exa. Presidente Cezar Peluso, dirigida aos novos Juízes, ao ressaltar em linguagem elevada, brilhante e sentenciosa: “A força do Judiciário é a força da própria sociedade civil, da qual é interprete.”

O Tribunal, assim, haverá de manter seu saudável equilíbrio, sintonizado com a política e ao mesmo tempo desligado dela, como tem sido no curso de sua longa historia, mostrando a todos quantos se envolveram na pesquisa dos fatos notáveis – que oferecem o grandioso cenário das muitas décadas vencidas –, que, ao contrario de uma famosa catilinária, muitas vezes repetida e sempre sem razão, foi o poder que menos faltou à república brasileira.

* * *

Há três milênios o Livro da Sabedoria adverte as gerações porvindouras, conturbadas ou felizes, na desordem ou na paz, que “a justiça é perpetua e imortal”. Guardemos, todos, a certeza de que teremos no comando do poder judiciário brasileiro o juiz que irá propagar esse principio de todos os tempos, o juiz cristão e amigo da verdade, como o queria a virtude teologal, e com todos atributos reclamados para a grandeza de seu sacerdócio, integro em julgar, integro em ouvir, servo da razão, da equidade e da tolerância, incansável no labor, e sobre quem – com o testemunho de Dra. Lucia de Toledo Piza Peluso, a esposa, a companheira querida da vida inteira, dos filhos Vinicius, Glais, Érica e Luciana, da nora, dos genros e dos netos – fazemos recair agora a brilhante imagem com a qual Rui Barbosa, o nosso pontífice maior, desvelou-se por inteiro diante da nação brasileira: “Às majestades da força nunca me inclinei. Mas sirvo às do Direito. Sirvo ao merecimento. Sirvo à razão. Sirvo à lei. Sirvo a minha Pátria. São essas as que eu reconheço neste mundo.”

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(*) Discurso pronunciado no Plenário do Supremo Tribunal Federal, em 23.4.10, pelo advogado Pedro Gordilho, por ocasião da solenidade de posse do Ministro Cezar Peluso na Presidência.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

CONJUNTURA NACIONAL

Mel de abelhas

Abro a coluna com uma historinha que Geraldo Alckmin me contou no 9º Fórum de Comandatuba. No jantar, eu falava sobre o texto de Dora Kramer. E lembrava que ela fora minha aluna na Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, nos idos de 70. Dora tinha o melhor texto da turma. Por isso, eu pedia que a classe formasse um círculo ao seu redor. Um dia, achei aquela formação muito parecida a de uma colmeia. E exclamei : "vamos, agora, ouvir a abelha rainha". Era a imagem que Dora transmitia. Com todas as abelhas trabalhadoras à sua volta. A historinha de Alckmin aparece porque eu lembrava que, naquela época, Doramaria tinha como sobrenome: Tavares de Lima. Era sobrinha do grande e saudoso Chopin Tavares de Lima. Eis o relato:

Chopin, como secretário do Interior do Governo Montoro, tinha a missão de fazer a articulação com os prefeitos. Um dos programas de Montoro contemplava a fabricação de mel. Mel caseiro. O prefeito de Silveiras, na microrregião de Bananal, de nome Miguel, no meio do caminho para a capital, aproveitando a parada para o almoço, comprou uma garrafa de mel, dessas comuns que se encontram em restaurantes de estrada. Tirou o rótulo, lavou a garrafa, embalou-a em celofane. Era um presente para Chopin. Planejava provocar um impacto.

- Secretário, aqui está o resultado do programa 'Colmeia' do governo Montoro. Mel de primeira qualidade. O melhor mel que São Paulo já produziu.

Surpresa geral. Agradecimentos do Chopin com o aviso de que levaria o presente para o governador Montoro. A seguir, o astuto prefeito emendou:

- Gostaria que o secretário providenciasse a liberação da verba para o asfalto. Que pedimos faz bom tempo.

Imediatamente, o secretário mandou localizar o pedido da Prefeitura de Silveiras. Ocorre que não havia nenhuma solicitação. O prefeito aproveitara a ocasião para jogar verde e colher maduro. Queria colher recompensa pela garrafa de mel que levara. Depois de algum tempo, a mensagem: a solicitação não foi encontrada. Mil pedidos de desculpas do Secretário Chopin. O prefeito prometeu encaminhar novo pedido, conformado com a burocracia do Palácio que havia perdido o ofício. Geraldo Alckmin, então deputado estadual, ouvira o relato e percebeu a artimanha do prefeito. Aos ouvidos dele, cochichou a frase bíblica:

- Miguel, Miguel, tu não tens abelha e trazes mel.

Miguel regressou a Silveiras. No dia seguinte, ao telefonar para o Secretário Chopin Tavares de Lima, comunicando que novo ofício estava seguindo pelo Correio, ouviu dele a confissão:

- Não precisa mandar, prefeito, encontramos o ofício. Vamos liberar a verba.

E assim Chopin Tavares de Lima, Miguel, Silveiras, Geraldo Alckmin, Dora Kramer e eu entramos juntos, pela primeira vez, numa mesma história. Pergunto perplexo: como Dora Kramer passou a ter ligação com mel e colmeia? Mistérios que as antenas do circulo planetário nos proporcionam. Meu sistema cognitivo capturara a imagem da colmeia celebrada por Chopin, seu tio. Ela tinha de ser a abelha rainha. Lembrem-se do ditado: "As pedras tanto rolam que um dia ainda se encontram."

Ecos de Comandatuba


Durante quatro dias, cerca de 350 empresários, autoridades do Executivo e uma penca de políticos passaram a limpo as condições atuais do país e suas perspectivas. O clima de otimismo impregnou-se no grupo, a partir do desfile de números apresentado por Henrique Meirelles. Dados mostraram a situação confortável do Brasil. Que tem condições de dar um salto. Em cinco/seis anos, poderá pular para a 6ª ou a 5ª economia mundial. Entramos na crise mais tarde e saímos mais cedo. O país fez a lição de casa antes dos outros.

Sem retrocesso

O clima de otimismo saiu da esfera econômica para encher os balões de ensaio da política. Dilma ou Serra? O grupo estava dividido. Um superempresário chegou a confessar a este consultor: o risco Serra é 10 vezes menor que o risco Dilma. Muitos, porém, demonstravam simpatia para com a ministra. E, no frigir das análises a favor e contra, uma visão consensual: seja quem for o vencedor, não há perigo de o Brasil retroceder. As condições macroeconômicas estão profundamente afixadas no solo pátrio. E os perfis de Serra e de Dilma se bifurcam na encruzilhada dos rumos a serem seguidos.

Melhor momento?

A frase, pronunciada por um banqueiro jovem e agressivo, soou forte no meio da noite: "O Brasil vive seu melhor momento em 500 anos". O autor da façanha expressiva foi André Esteves, do Banco Pontual. Abílio Diniz, ao lado, assentia com a cabeça. Na manhã seguinte, tentei conferir a ideia com um maxiempresário. Que me confessou: "Não é bem assim. Devemos medir o momento por parâmetros como salário mínimo e crescimento do PIB". E arrematou: você sabia que, na época do Médici (tempos de chumbo), o salário mínimo tinha duas vezes e meia o poder de compra que tem hoje? Fechou o pensamento com a nota do crescimento daqueles pesados tempos, e o PIB crescia a 12% ao ano.

O mundo mudou

Ouvi as ponderações. Mas fiquei pensando: o paradigma mudou. Os parâmetros são diferentes. O mundo era menor. E a crise não tinha proporções gigantescas. De qualquer maneira, deixo os registros no ar. Conclusão: há empresários fechados com Serra, outros com Dilma. Como convém a uma salutar democracia.

10 para Dória

Mais uma vez, João Dória deu um show de organização e competência. Liderou o 9º Fórum de Comandatuba com extrema eficiência. Ancorou falas, integrou eventos, animou os espíritos.

Alckmin e Mercadante

Geraldo Alckmin, ao lado da esposa Lu, era só sorrisos. Sob a estampa de 60% de intenção de voto, parecia um candidato embalado no celofane da felicidade. Na mesa ao lado, Aloizio Mercadante, cara fechada, mas confiante. Parecia convicto de que, na perda ou na vitória, crescerá com a campanha ao governo de SP.

Prefeitura?

Os olhos de Mercadante contemplam o futuro. Se não alcançar o Palácio dos Bandeirantes, focará a visão sobre o Palácio da Prefeitura, que se debruça sobre o Anhangabaú. Assim são os caminhos da política : a derrota de hoje poderá ser o desvio para a vitória de amanhã. É a curva para a reta futura. Mercadante terá alta visibilidade. Mas a possibilidade de chegar ao Palácio dos Bandeirantes é muito restrita.

Zé Aníbal

O deputado José Aníbal trabalha com a perspectiva de levar para a Convenção tucana seu nome para a vaga ao Senado. Aloysio Nunes Ferreira é o nome in pectore de Serra. Mas Zé, ao contrário do perfil introspectivo de Ferreira, conversa, abre o debate, articula, se movimenta. Fará tudo para que o jogo não seja ganho no tapetão. Aníbal, convém lembrar, já teve quase 5 milhões de votos para o Senado em SP.

Vaccarezza, algodão entre cristais

Cândido Vaccarezza é um espírito conciliador. Ouve atento as observações mais críticas. Não se afoba. Veste a camisa do governo em qualquer circunstância. O líder do PT na Câmara é respeitado por colegas de todos os partidos. Tem sido um defensor intransigente da aliança entre PT e PMDB. Amigo de Michel Temer, desfila argumentos densos para demonstrar as possibilidades de Dilma.

"As almas são incombustíveis." (Machado de Assis)

De jacaré a lagartixa

Há 60 dias, víamos um formidável jacaré abrindo a boca na beira da lagoa política. Ao mostrar os dentes, o bicho impunha respeito. O tempo foi se passando. Há três dias, aquela fera desapareceu. Em seu lugar, surgiu uma lagartixa. O que teria acontecido? Não, o jacaré não mergulhou na lagoa. Virou a própria lagartixa. Encolheu. Fenômeno da natureza? Sim. Mutação gerada pela genética política. O jacaré Ciro virou a lagartixa Gomes. O tiro Gomes saiu pela culatra.

Gafe lá, gafe cá

Dilma comete gafes? Sim. Não é bem treinada na arte de dizer de maneira concisa e precisa? Sim. Ocorre que Serra também comete bobeiras. Em Natal, semana passada, carimbou a população trabalhadora do RN com o selo de 6% da mão de obra nacional. Ora, não chega a 1,7%. Serra teria falado de costas para empresários que lotavam o auditório. Chegou no meio da madrugada quando era esperado às 9h.

Lula crente


Luiz Inácio nunca esteve tão crente na vida. É o que confessam amigos que convivem com ele no dia a dia. Crente na vitória de Dilma. Crente de que o ambiente de otimismo que cerca o país conduzirá sua afilhada ao trono do Palácio do Planalto.

Chapa com Temer

A esta altura, está consolidada a chapa de Dilma com Michel Temer como vice. Em todo esse tempo, Michel trabalhou discretamente, como é de seu feitio, sem arroubos oratórios, sem destempero e sem fisgar a isca que pescadores de águas turvas sempre lhe jogam.

PMDB, o maior

Seja qual for o nome – Serra ou Dilma – o PMDB deverá continuar sendo o maior partido brasileiro. Espera eleger uma bancada de 100 deputados federais e cerca de 10 governadores. Afora as maiores bancadas estaduais em muitos Estados. O PT deverá secundá-lo, vindo a seguir, o PSDB. A partir do quarto lugar, o quadro é nebuloso.

Campos Sales

O paulista Campos Sales presidiu o Brasil de 1898 a 1902. Deixou a presidência sob vaias do povo por ter implementado uma política econômica das mais dolorosas. Saiu do catete debaixo de uma chuva de manifestações indignadas. Piada da época: "Qual é o seu método de vida? Há muito tempo só como o pão que o diabo amassou, só passeio na rua da amargura e o tempo pra mim é sempre bicudo".

Mídia eleitoral

Dilma terá 48% de tempo a mais na programação eleitoral de TV e rádio. Ou seja, mais de 8 minutos. Serra terá um pouco mais de 5 minutos. Atenção, marqueteiros: nem sempre grande tempo significa grande programa. Se os espaços não são bem aproveitados, o programa pode ser uma chatice ou enchimento de linguiça.

Tempos ímprobos

Nesses tempos de muito dolo, eis uma leitura obrigatória: "Improbidade Administrativa – Dolo e Culpa", de Isabela Giglio Figueiredo. O livro foi lançado nesta segunda-feira. Trata-se da monografia com que obteve o título de especialista em Direito Administrativo.

Thomas Paine

"Quando alguém pode dizer em qualquer país do mundo: meus pobres são felizes, nem ignorância nem miséria se encontram entre eles; minhas cadeias estão vazias de prisioneiros, minhas ruas de mendigos; os idosos não passam necessidades, os impostos não são opressivos.. quando estas coisas podem ser ditas, então pode tal país se orgulhar de sua Constituição e de seu governo." (Thomas Paine, em Os Direitos do Homem)

Hiperte(n)são?

O ministro Temporão receita sexo contra a hipertensão. E deu, até, a receita: cinco vezes por semana. Passou a adotar o inverso do slogan do cigarro: sexo faz bem à saúde. O Ministério da Saúde deverá massificar a distribuição do preservativo Temporão. Para cobrir a temporada sexual.

Besteirol

O besteirol em ano eleitoral se espalha. Um dos capítulos mais imbecis é o que anuncia a renúncia de Lula para se candidatar a vice na chapa de Dilma. Eleita, ela passaria pouco tempo. Renunciaria e cederia o trono a Lula. Que terminaria o mandato de Dilma, candidatando-se, ao final, à nova reeleição. E ainda há gente séria que me pergunta sobre essas bobagens.

Reajuste dos aposentados

Os aposentados deverão ter reajuste maior que os 6,14% desejados pelo governo. Podem ganhar 7,7%.

César, o maior?

César é considerado o maior de todos os heróis de guerras. O motivo apontado pelos historiadores: ceifou a vida da maior quantidade de inimigos. Em menos de 10 anos, durante a guerra contra a Gália, tomou de assalto, mais de 800 cidades, submeteu 300 povos, combateu 3 milhões de homens, dos quais matou 1 milhão durante as batalhas e transformou outro milhão em prisioneiros. Que heroísmo é esse, hein?

Soltura de presos?

Soltar 20% dos presos do país é uma temeridade. Há assassinos e loucos que poderão voltar ao cenário de matança. Não era o caso do monstro de Luziânia, em GO, que matou 6 jovens?

Conselho às assessorias de Dilma e Serra

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à pré-candidata à presidência Dilma. Hoje, volta sua atenção às assessorias de Dilma e Serra:

1. Procurem orientar, desde já, seus candidatos a trilhar o caminho das grandes ideias. Os candidatos devem abandonar as trilhas de coisas perfunctórias.

2. Produzam conteúdos transcendentais para a vida do país. Substituam as querelas adjetivadas por debates programáticos.

3. Mapeiem os espaços das grandes carências nacionais e regionais.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 27 de abril de 2010

UM VERSO

Querido amigo Júnior,
Da família dos Bonfim.
Quando a chuva despenca,
é uma beleza sem fim.
O Nordeste verdejante,
fica mesmo contagiante,
até parece um jardim!


Um abraço

Dalinha Catunda

A BELEZA DO SERTÃO

De repente, a chuva! Tal qual o milho debulhado, que se depreende das espigas em delicados caroços, cai o látego líquido, os pingos celestiais, a esperada chuva de inverno. Do chão explode o verde, os açudes sangram, os rios transbordam, os olhos brilham, as pessoas resplandecem.

Eis o nosso sertão: mandacaru e juazeiro, escassez e fartura, sequidão e verdura, espinho e flor - entusiástica terra que não conhece a monotonia.

É lindo ver as flores surgindo na margem da estrada, dádiva do Jardineiro do Universo!



segunda-feira, 26 de abril de 2010

FEIRA CIRCULANDO LIVROS






Repetindo as edições anteriores, a Feira Circulando Livros levou à Praça do Anfiteatro aproximadamente três mil pessoas nesse último final de semana, gente que foi atraída principalmente pela certeza de encontrar ótimas publicações, autores consagrados, amigos e uma vasta programação cultural.

Marcaram presença os acadêmicos Elias de França, presidente da Academia de Letras de Crateús; Júnior Bonfim, recém-empossado na Academia Maçônica de Artes, Ciências e Letras do Grande Oriente do Brasil, integrando o núcleo brasileiro da Academia Maçônica Internacional de Letras; Carlos Bonfim, Aldo Santos, Maria da Conceição (Nêga), Éricson Fabrício, Adriana Calaça, Ísis Celiane, Lourival Veras e Raimundo Cândido, que lançava sua mais recente obra poética: Teorema pra nos tanger e outras (esquisitices).

Alegrando a noite de sábado, os palhaços Farrapinha e Xenhenhen fizeram a alegria de crianças e adultos, seguidos pela bela apresentação do reisado mirim de Bom Sucesso, de Novo Oriente, além do músico e cantor Edilson Barros. No domingo, além da volta dos palhaços, a sempre espetacular apresentação do grupo Essência do Samba.

(Do blog da SABI)