sábado, 26 de setembro de 2009






I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

(Por Vinicius de Moraes)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

CONJUNTURA NACIONAL

BANANA NO BOLSO

Tenho de começar com Jânio Quadros. Na campanha pela prefeitura de São Paulo de 1985, contra Fernando Henrique, o senador sociólogo da época, Jânio foi ao bairro de São Miguel Paulista, na zona Leste, reduto de nordestinos. Depois de uma farta feijoada, inúmeras caipirinhas, Jânio não resistiu e caiu na cama. Atrasado, às 18 horas levantou-se, vestiu o terno amarfanhado e colocou uma banana no bolso. Ao começar o discurso, foi logo dizendo: "Político brasileiro não se dá ao respeito. Eu não. Desde as 7 horas da manhã, estou encaminhando por este bairro e até agora não comi nada. Então, com licença". Sob os aplausos da massa, devorou a banana.

A SEMÂNTICA JANISTA

O discurso semântico de Jânio – a substância de sua fala – ganhava mais força pelo impacto causado pelo discurso estético, a impressão provocada por sua maneira de falar, os olhos esbugalhados, os cabelos compridos e revoltos, a barba por fazer, um jeito desleixado que confundia interlocutores e assistentes: aquilo seria natural, coisa do acaso, ou algo preparado, artificializado? Em Jânio, essa ambiguidade tornou-se marca de sua personalidade. Ficaram famosas suas campanhas em São Paulo, desde os tempos de vereador, quando escolheu o bairro de Vila Maria para montar o primeiro palanque de sua trajetória. Ombros cheios de caspa, sanduíches de mortadela, pão com banana, tudo sob as vistas dos fotógrafos, eram um prato saboroso para a mídia.

NÉVOAS E NUVENS

Os horizontes de outubro de 2010 estão longínquos. As nuvens e névoas do tempo atrapalham a visibilidade. Mas pesquisa, como se diz, é a foto do momento. E esta pesquisa CNI/IBOPE revela pelo menos uma coisa: Dilma Rousseff tem dificuldades para fazer decolar a candidatura. Ela já havia alcançado a taxa de 20%. Cai, agora, para 14% e empata com os 14% de Ciro Gomes. Ciro vai à TV, circula pelas cidades médias e grandes, acirra o discurso. E assim abre espaços na mídia. Dilma também passou a dar entrevistas de fundo político. Mas seu tom arrogante emerge.

OS TUPINIQUINS

A entrevista da ministra chefe da Casa Civil, na Folha de S.Paulo, do último domingo, foi muito fraca. Esteve abaixo de sua identidade. A certa altura, defendendo o Estado forte – inchamento da máquina – cometeu a blague de atribuir essa polêmica aos "tupiniquins". Quis dizer que essa matéria só causa celeuma por aqui. Sobrou, porém, a gafe que pega parcela de nossa população indígena. Fosse um analista político a se referir ao tema, não haveria problema. A referência retrata uma cultura do atraso, das antigas. Na linguagem de uma autoridade, o termo parece inadequado.

ALTERNATIVAS DO PT

Pois é, se Dilma não decolar, por onde caminhará o PT? Pelo andar da carruagem, seus quadros melhores estão ainda se recuperando de tiroteios antigos. Dirceu está fora de campo. Palocci, absolvido, espera momento propício para reaparecer em cena. Marta Suplicy não tem votação suficiente para eleições majoritárias na esfera federal. Vai sobrar para o PT o nome de Ciro Gomes como alternativa. O polêmico, extravagante, irrequieto, mas – vale reconhecer – bem articulado Ciro Gomes. Candidato pelo PSB com o apoio do PT. E se o PT não topar? Ciro garante que vai adiante.

NESSE CASO

Nesse caso, colabora para a ruptura de alianças entre PSB e PT em alguns Estados. A razão: em algumas unidades federativas, o PSB quer lançar seus candidatos e o PT teria de abrir espaço. Vice versa. O PT quer o apoio do PSB para seus candidatos em Estados onde aquele partido também quer disputar. Impasse. A campanha de 2010 será uma costura de inimaginável complexidade. Será um samba atravessado.

SERRA VAI BEM?

José Serra continua com bons índices, apesar de já ter registrado mais de 40%. Com 34%, Serra lidera mas diminui sua taxa. A diferença entre ele e os segundos é muito grande: 20 pontos percentuais. Serra quer conquistar, devagarzinho, o Nordeste, onde tem a menor aceitação. Na Bahia, na segunda viagem que fez em menos de dois meses, saiu-se muito bem. Conseguiu puxar para sua palestra até Geddel Vieira Lima, ministro da Integração, que não tem muita certeza sobre a candidatura Dilma.

O BRASIL CERCADO

Embaixadas são territórios de países. A Embaixada brasileira em Honduras, portanto, é a extensão do território nacional. Não pode ser invadida sob pena de tal ato ser entendido como invasão do próprio país representado. Se cortam os serviços básicos da Embaixada brasileira, em Honduras, esse ato equivale a uma agressão. É como se houvesse um boicote ao próprio Brasil. Que os meus amigos especialistas em Direito Internacional me socorram: me condenem ou me absolvam. Estarei certo ou errado? Manuel Zelaya, presidente legal de Honduras, espera, no mínimo, uma reação à altura do Brasil.

ALCKMIN VAI BEM

Em longa conversa com este consultor, no final de semana, Geraldo Alckmin demonstrou inteira confiança em suas possibilidades como candidato ao governo de São Paulo. Acredita que o governador José Serra faz o estilo pragmático. Candidato à presidência da República, não pode perder em São Paulo. Por isso, escolherá o perfil com melhores condições de obter sucesso. Mas já quem ache que Alckmin não sustentará seus altos índices de pesquisa de opinião pública. E que as máquinas do Estado e da Prefeitura, juntas, alavancam qualquer candidatura. É possível, mas, em eleição, há sempre um imponderável.

QUEM FOI RADICAL?

Luiz Inácio lembrou, recentemente, que não há mais espaço para os trogloditas de direita. E lembrou que, na última campanha presidencial, quem radicalizou foi Geraldo Alckmin. Ora, quem conhece a índole equilibrada e balizada pelo bom senso do ex-governador, joga a pérola de Lula no lixo. Geraldo apenas lembrou que Lula estava cercado por mensaleiros e aloprados. Tal linguagem não é radical e apenas expressa a leitura das mídias e da opinião pública. Os tais figurantes dos ilícitos, esses, sim, radicalizaram.

DIREITA, VOLVER

José Sarney fecha posição com Lula. Renan Calheiros, idem. Fernando Collor, idem. O que o presidente quis dizer quando lembrou não haver mais espaço para trogloditas de direita?

VICES

O ministro Carlos Lupi, do Trabalho, é lembrado como um nome para compor a chapa de Ciro Gomes. O presidente da Natura, Guilherme Leal, é lembrado como vice de Marina Silva. Michel Temer, como vice de Dilma Rousseff. Henrique Meirelles (de que partido é?) também foi lembrado – agora pelo PMDB de Goiás – para compor a chapa de Rousseff.

TUCANOS E SOCIALISTAS

Na Paraíba, é bem possível que os tucanos fechem aliança com os socialistas do PSB. Ricardo Coutinho, o bem avaliado prefeito de João Pessoa, eventual candidato ao governo pelo partido de Ciro Gomes, poderá ser o fiador desta aliança. Como já disse, dançaremos um samba atravessado.

REFORMA TRIBUTÁRIA E TERCEIRIZAÇÃO

O Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, composto por empresários de cerca de 160 entidades do setor produtivo – entre elas Fiesp, ACSP, OAB e Fecomercio –, realizará no próximo dia 28 de setembro, na sede do Sescon (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis no Estado de São Paulo), em São Paulo, um encontro com o deputado Sandro Mabel, relator dos projetos de reforma tributária e do PL 4.302/98 que regulamenta a terceirização. Mabel discorrerá sobre os dois assuntos.

TOFFOLI

E o nomeado José Antônio Toffoli, hein? Ministro do STF, passará 29 anos no cargo. Tempo para acompanhar, avaliar e julgar quase oito mandatos presidenciais. Assumirá mesmo não portando títulos de mestre e doutor – que Lula acha uma besteira. Vale, ainda é o presidente que garante, o fato de ele ser "um puta advogado". E mais: que "advogou para nós". Será que essa é a melhor qualificação. Benza-nos, Deus.

O S DE SKAF

Há quem veja, na pesada campanha de Paulo Skaf na mídia, intenção mais que explícita de uma postulação política. Pretenderia o presidente da FIESP ser candidato ao governo de São Paulo, meta que o teria levado a procurar dirigentes e lideranças de partidos em São Paulo. Daqui a uma semana, Skaf deverá optar por um partido se quiser efetivamente continuar defendendo sua postulação. Mas há empresários fortes que acham a estratégia de Skaf um desastre: essa campanha para vender o SESI – pois o enaltecimento ao Serviço é mais que óbvio – pode comprometer seriamente o sistema S, de onde sai a dinheirama para sustentar campanhas publicitárias. Dinheiro em publicidade com viés político?

DIREITO, PODER E DEVER

Paulo Skaf tem todo o direito, como cidadão, de alavancar sua cidadania e, por conseguinte, trilhar as veredas da política partidária. A questão é: sob o escudo desse direito, ele, como presidente da FIESP, poderia concorrer a um cargo majoritário, mesmo não tendo nenhuma experiência na área? Resposta: pode, sim. Quanto ao dever, essa é uma questão de consciência. Envolve sua posição no contexto das Federações, suas relações com os associados da FIESP, o engajamento político que aquela Casa pretende adotar, a relação com os partidos etc. Há, sob essa moldura, uma teia complexa de encadeamentos. Parece, porém, que Skaf não enxerga nada disso.

MARKETING MECATRÔNICO

A política é um sistema complexo. Envolve pesquisas, discurso substantivo (propostas, ideários), comunicação, articulação com a sociedade, articulação política e mobilização (encontros, reuniões, contatos com multidões etc.). Trata-se de uma rede de sistemas. Esse é o domínio do marketing político. Que, nas últimas décadas, passou a ser sinônimo de programas bem feitos de TV. Os chamados marqueteiros saíram das pranchas criativas de agências de publicidade. Vejam, senhoras e senhores, onde o marketing foi parar. Não por acaso, esbarramos nas TVs com uma linguagem "mecatrônica", parente da metafísica, que metabólica nenhuma, nem mesmo a metalinguística, há de entender. Haja picaretagem!

CONSELHO AOS SENADORES

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Hoje, volta sua atenção aos senadores:

1. Façam uma sabatina justa – sem exageros e sem diminuições – para aferir as condições do indicado José Antônio Toffoli para o STF.

2. Ao presidente da República cabe fazer indicações para a mais alta Corte do país. Mas os senadores poderão rejeitar essa indicação, se o perfil do escolhido não corresponder ao figurino exigido para o posto.

3. Pode ser que sua Excelência demonstre qualidades pessoais, profissionais e técnicas para galgar o cargo de ministro do STF. O que não seria aceitável é a discriminação por idade ou ideologia. A conferir a sabatina, dia 30 próximo.

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(Por Gaudêncio Torquato)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

POLÍTICA E ECONOMIA NA REAL

Produção em alta

Todos os sinais vitais da economia brasileira convergem para um crescimento consistente nos próximos meses e, quiçá, em 2010 o PIB pode vir a crescer entre 5% - 6%. Obviamente, previsões econômicas são sempre marcadas por elevados graus de incerteza, sobretudo em função da rapidez e profundidade pelas quais as expectativas se alteram nos tempos modernos. Os indicadores de consumo, divulgados na semana passada, somam-se aos indicadores anteriores (inclusive o crescimento do PIB de 1,7% no segundo trimestre) e dão evidências de que o PIB será positivo este ano e o grau de aceleração da demanda agregada é acelerado. A novidade que poderemos ter (esperamos !) é uma alta dos investimentos privados que foram paralisados por conta da crise. Os orçamentos empresariais estão sendo superados e os acionistas das empresas estão animados. Além disto, não são poucos os executivos de empresas multinacionais que tomam o caminho das matrizes e estão a negociar mais dinheiro para investir.

Inflação em alta

Não preste atenção nos números da inflação dos próximos meses. Estes não são os mais importantes para mensurar os riscos de inflação no médio prazo. É muito provável que a inflação se torne um perigoso risco no ano que vem. Todos os fatores convergem para o aumento dos riscos inflacionários. Vejamos: (1) a demanda cresce rapidamente e, possivelmente em meados do ano que vem, baterá num nível de capacidade instalada (80%) no qual as pressões de custos costumam emergir; (2) a queda do dólar já ocorreu e é improvável que possa "colaborar" ainda mais para reduzir a inflação no ano que vem; (3) à demanda privada crescente se somará a já alta demanda pública. Os gastos públicos elevados, tanto para investimento quanto para consumo, vão ajudar a acelerar a inflação. Difícil imaginar gastos públicos em queda num ano eleitoral; (4) haverá pressões de custos salariais com o nível de emprego melhorando e, finalmente, (5) se o cenário externo melhorar, os preços das commodities sobem e "contaminam" os preços domésticos.

E o BC?

Como se vê nas notas acima, há razões justificadas para apostarmos num ótimo 2010. E existem preocupações sérias para acreditarmos numa inflação crescente. Vejamos o lado da autoridade monetária, que costuma ser "preventiva". Quando poderia aumentar a taxa de juros básica, já que estamos vivendo os primeiros passos da recuperação ? É difícil apostar nisto, mas uma coisa é certa : o mercado vai apostar na alta de juros e os juros dos títulos prefixados vão subir, bem como o mercado futuro. Talvez logo. De outro lado, há um fator "político" a influir no BC : Henrique Meirelles é candidatíssimo ao governo de Goiás e abre um "vácuo" no BC difícil de ser avaliado. A própria diretoria do BC deve ser bem alterada em 2010. Por tudo isto é muito provável que o BC seja testado em 2010 no que diz respeito à sua competência e credibilidade.

BC independente não tem defensores

Embora seja um dos arcabouços mais importantes na defesa da moeda (contenção da inflação), a independência do BC não deve ter defensores com peso político (e votos) nas próximas eleições. Tanto Dilma quanto Serra, ou mesmo Marina, não acreditam num BC com independência funcional. Tudo fica para o futuro. Distante, diga-se.

Ajuste eleitoral

Quem leu a entrevista da ministra Dilma Roussef à "Folha de S.Paulo" de domingo percebeu que o PAC não é mais o principal carro-chefe eleitoral da preferida de Lula. Agora é o pré-sal e os programas sociais.

É especulação demais

Não se deve comprar pelo valor de face um bom número de "informações" a respeito da sucessão presidencial dando conta de que (i) já houve um acerto de uma aliança, (ii) que dois candidatos firmaram um acordo, (iii) que um partido está prestes a firmar outra aliança e coisas tais. São lances para "valorizar passes".

Quem confia no PMDB?

O PMDB que quer apoiar Dilma iniciou uma cruzada para levar Lula a definir logo, publicamente (quem sabe, até oficialmente), que o partido é prioritário na aliança situacionista e que a vice-presidência será dele. Ao mesmo tempo, porém, o PMDB não dá indicações de que pode definir logo sua aliança federal com o PT.

Quem confia no PT?

O PMDB que é do governo Federal somente vai definir oficialmente o apoio a Dilma depois que as alianças estaduais com o PT estiverem fechadas.

Voto regional é diferente

A se confirmar a aliança PT-PMDB para apoiar Dilma e fazer o máximo de "palanques únicos" para a candidata de Lula, o PMDB poderá levar uma enorme vantagem sobre o PT se o acordo for celebrado como o partido quer. O PMDB quer prioridade nos palanques estaduais. São esses palanques que determinam os votos para o Senado e, principalmente, para a Câmara. O eleitor vota com uma cabeça para a presidência e com outra completamente diferente no seu Estado, de olho em outros interesses. O PT corre o risco de ganhar a presidência da República e ficar menor do que é hoje no Congresso.

Marina e os "processos cumulativos"

Não se sabe se alguém no Planalto leu e comentou com Lula este trecho da entrevista da ex-ministra Marina Silva ao diário espanhol El País.

El País: A senhora manteria a política econômica do governo Lula?

Marina: Os processos são acumulativos. Não existe espaço para processos niilistas com relação ao já conquistado. Existe um reconhecimento de que nos últimos 16 anos o Brasil conseguiu o equilíbrio fiscal e a estabilização da moeda, junto com a grande inovação introduzida por Lula e que foi a questão da distribuição de renda. Tudo deve ser preservado. Creio que temos espaços para melhorar e já existe o perigo de que se destrua tudo o que se foi construindo nos últimos 16 anos.

Se os leitores palacianos tiveram conhecimento, coitada da senadora! Afinal, tudo de bom no Brasil não ocorreu depois de 2002? Como falar em 16 anos, se Lula está apenas há pouco menos de 7 anos em Brasília?

Simpatia ambiental

Ainda na mesma edição, em artigo sobre a entrada de Marina na corrida sucessória, na matéria intitulada "A companheira que desafiou Lula", os repórteres J. Arias e S. Gallego-Diaz, do El País, classificam a candidata de Lula, Dilma Roussef, como "uma espécie de primeira-ministra na sombra". O conjunto das matérias é muito simpático com a ambientalista.

Qual o discurso?

Que "coletinho" o Brasil vestirá na Conferência do Clima em dezembro em Copenhague? O do pré-sal ou o do etanol? Vocês já repararam que desde que virou um "futuro magnata do petróleo", Lula nunca mais fez uma referência aos biocombustíveis? Há informações – efeito Marina? – que o presidente abordará o tema do meio ambiente em sua fala amanhã na Assembleia Geral da ONU.

Obama é verde

Um dos mais ambiciosos programas para o futuro de Obama é a redução da dependência dos EUA de combustíveis fósseis, não apenas do petróleo do Oriente Médio. Na Inglaterra – e na Europa, em geral – o tema do momento é a "Revolução Verde".

Muito estranho

É ótimo que as autoridades de meio ambiente se preocupem com a emissão de gases poluentes pelos veículos automotivos. É saudável que divulguem, como o fizeram na semana passada, a lista dos carros mais ou menos poluentes. Curioso é que só tenham tomado esta providência agora e para mostrar, segundo o estudo oficial contestado pelas montadoras, que os carros movidos a álcool poluem mais do que a gasolina. O que a Opep do pré-sal não faz...

Sarney e suas pérolas

Sarney cita o Le Monde em sua coluna da última sexta-feira na Folha de S.Paulo e parafraseia um "assessor de Sarkozy": "a transparência absoluta [em tempo real] é o começo do totalitarismo". Outra frase reproduzida por Sarney seria de "um membro do partido governista francês UMP": [a internet] "é um perigo para a democracia". Depois destas frases esclarecedoras, o autor de "Maribondos de Fogo" encerra o artigo louvando a livre imprensa e que nunca a atacaria: "Meu Deus, eu nunca fiz isto e não faria", encerra. Sarney é mesmo um vanguardista: mesmo antes da internet ele já via riscos à imprensa livre, não é mesmo? Afinal, o que fazia a ditadura militar pós-64 que ele tanto apoiou? Não censurava? Sarney é um visionário.

Lembrando Chico Ciência

Nesse tempo de tanta sapiência jurídica que emana do ministério da Justiça do ministro Tarso Genro, não custa lembrar o que Rubem Braga disse da sabedoria do jurista Francisco Campos, dito Chico Ciência, autor de obras jurídicas "republicanas" para Getúlio, o ditador: "Quando as luzes de Chico Ciência acendem, há um curto-circuito na democracia brasileira". Algumas "jurídicas" de Tarso são de assustar os republicanos (sem aspas).

Collor, Franklin e os escrúpulos

Franklin Martins foi condenado na semana passada a pagar R$ 50 mil ao eminente senador e ex-presidente cassado Fernando Collor de Mello, por danos morais. Martins proclamou em artigo publicado na revista "Brasília em Dia", que Collor era "ladrão", "corrupto" e "chefe de quadrilha". Martins diz que vai recorrer da decisão. Resta saber o que ele diz ao seu chefe sobre as alianças políticas que envolvem Collor.

Quem tem a força

É cada vez maior a influência de Franklin Martins. Já está causando uma danada de uma ciumeira. Vejam um trecho de um artigo da jornalista Maria Cristina Fernando, no "Valor Econômico", relatando os bastidores de uma entrevista do jornal com o presidente Lula: "Lula é aparteado pelo ministro Franklin Martins –"Não foram só os bancos públicos que quebraram. Os privados, também." - antes de responder que o problema não foi com os banco públicos, mas a irresponsabilidade política dos governantes." Não consta que haja muitos mortais capazes de apartear e interromper impunemente o presidente.

Dúvida cruel

Mais do presidente Lula ao jornal "Valor Econômico": "Se Dilma for eleita, ela tem todo direito de chegar em 2014 e falar 'eu quero a reeleição'. Se isso não acontecer, obviamente a história política pode ter outro rumo". É por esses e outros "ses" que alguns maldosos em Brasília costumam especular que Lula não ficaria totalmente infeliz se a sua favorita não vencesse.

Oposição sem falas

É triste verificarmos o padrão ético da política brasileira. É desesperador verificarmos que a corrupção e a falta de interesse na res publica é generalizada. O senador Sérgio Guerra acaba de ser condenado pelo TCU a pagar as diárias de sua filha na estadia em Nova York em janeiro de 2007. O presidente do Senado que autorizou a viagem do senador por Pernambuco e sua filhinha foi nada menos que Renan Calheiros. Todos os gatos são pardos e não somente à noite...

Quem encontrar, avise

Já fizemos o apelo, mas não custa renová-lo: quem souber o que as idéias que a oposição vai apresentar para disputar os votos do processo eleitoral com a candidata do governo, por favor, remeta as informações para esta coluna. Se o governo vacila, a oposição cala. E consente.

Serra acelera

Assessores de segundo escalão do governo paulista já estão sendo escalados e convocados para a campanha presidencial. Pouco a pouco os auxiliares diretos de Serra no governo paulista estão revelando as intenções efetivas do governador em relação aos planos de um possível próximo mandato federal.

Demanda e oferta de ações de bancos

Grandes bancos internacionais vão passar por uma nova fase nos próximos dois anos. Socorridos pelos governos de seus países, estes bancos trocaram capital por ações – são estatizações parciais. Mesmo com o socorro governamental, muitos dos bancos apresentam indicadores sofríveis de capitalização e liquidez. Precisam de mais capitalizações. Para isto muitos deles terão de emitir novas ações. Assim sendo, os investidores se defrontarão com uma forte pressão do lado da oferta: (i) possíveis vendas de posições dos governos (privatizações) e (ii) novas capitalizações. Haja demanda para tanto.

Pré-sal e Petrobras

Sabe-se que a estatal de petróleo do Brasil terá papel preponderante nos investimentos e na exploração da camada do pré-sal. O que está difícil de estimar é a influência destes investimentos nos resultados da empresa. Investir em ações da Petrobras se tornou muito mais arriscado que há pouco tempo.

Essa a Petrobras vai perder

São facilmente identificáveis as digitais da Petrobras nas emendas aos projetos do pré-sal que reduzem o poder a abrangência da nova estatal da área, a Petro-Sal. Não vai vingar. Nos bastidores, antes de nascer, a nova estatal já está sendo devidamente loteada pela base, dita aliada.

Tudo pelo social

A idéia de se utilizar os ganhos do petróleo na execução de projetos sociais não é nada nova. Países (dentre muitos) como o México, a Nigéria e até mesmo a Arábia saudita já usaram o padrão ideológico "petróleo versus menos pobreza". Recentemente, o falastrão Chávez vem utilizando o argumento político, politiqueiro e populista. A discussão da exploração da camada pré-sal brasileira também passará por este tema. Em tempo: os resultados concretos deste falatório todo nos outros países foram, no geral, desastrosos. Os pobres continuaram pobres, mesmo que tenha jorrado petróleo por todos os lados!

Hino à Negritude

Foi aprovado pela Câmara o "Hino à Negritude", de autoria do professor Eduardo de Oliveira. O projeto que oficializou a homenagem ao negro é de autoria do deputado Vicentinho do PT paulista. Foi rejeitada a exigência da obrigatoriedade de sua execução nas cerimônias comemorativas. Esta exigência foi considerada pela maioria dos deputados como sectária na medida em que criaria uma "divisão" entre brancos e negros. Depois das complicadas quotas raciais nas universidades, agora temos o hino ao negro. Será que copiaremos os norte-americanos e teremos agora de dizer "afro-brasileiros", "nipo-brasileiros" e assim por diante?

Mudança de ramo

A Força Sindical que um dia se pretendeu uma entidade totalmente independente está em um novo negócio. Depois de engordar seus cofres com parte do dinheiro do Imposto Sindical em troca do amaciamento de suas reivindicações, depois de se meter no BNDES e depois de apropriar-se do controle dos recursos do FAT, a Força Sindical agora se voltou para o pano verde. Seu presidente, Paulinho da Força, foi um dos principais artífices da aprovação, na CCJ da Câmara, do projeto que legaliza os bingos e os caça-níqueis no Brasil. É uma porta aberta ao crime organizado e ao caixa dois. Talvez, estes sejam grandes "investidores eleitorais".
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( Por José Márcio Mendonça e Francisco Petros)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

FRANCISCO DE ALMEIDA - ARTISTA POR NATUREZA


O artista cearense Francisco de Almeida é um dos destaques da VII Bienal do Mercosul, com uma gravura de 20 metros de comprimento.


Homem simples, sorriso largo e aparência frágil, mas, sobretudo, grande em sua arte. Francisco de Almeida é um ser raro de se encontrar, tão pura e bondosa é sua alma. Confesso que, se pudesse, guardaria-o dentro de um vidrinho, protegendo de todos os males, para que não se perca na vastidão do mundo...

Quando a porta do apartamento 602, do prédio Copacabana, abriu para eu entrar, surpreende-me com uma simpática figura: boné virado para trás, macacão branco de alças soltas, camiseta amarelada e pés descalços. O artista Francisco de Almeida sorria feito uma criança, movendo os braços e contraindo os olhos de alegria. Assim, apressava-se em dizer- me: "por favor, moça, vamos entrando". Um afetuoso aperto de mão vem logo em seguida.

Na casa tudo respira arte, tudo ressoa Francisco. Nas paredes, encontram-se suspensos quadros e matrizes xilográficas trabalhadas por ele. Próximo ao sofá, num cantinho bem no "pé da parede", uma Iemanjá de gesso nos espreita discretamente, dividindo espaço com outras santidades: um cordial Padre Cícero, uma linda Nossa Senhora de Fátima e um triste São Sebastião traspassado por uma flecha. Percebendo meu interesse pelas imagens, ressalta: "sou muito religioso".

A sala é adornada também por fotografias dos três grandes amores da vida do artista: a avó "Mizinha", de 95 anos, a esposa Maria Eugênia e a pequena Talita, sua única sobrinha. A garota, cujo nome significa "cordeirinha", é como uma filha para ele.

VÔOS ALTOS

De pai ourives, mãe bordadeira e avó rendeira, Francisco herdou o dom de tecer a arte com as mãos. Ainda menino em Crateús (sua cidade natal), localizada no sertão dos Inhamuns, ele gostava de observar o trabalho do pai. "Sempre ia à oficina dele e adorava mexer em todas aquelas ferramentas. Papai ficava danado da vida quando entrava lá, não gostava que mexessem em suas coisas".

O garoto que tinha como sonho aprender a desenhar gente, aos 15 anos veio morar em Fortaleza. Na cidade, teve a oportunidade de estudar xilogravura com Sebastião de Paula, realizando, em seguida, vários cursos de pintura no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. "Daquele tempo para cá não parei mais. Venho produzindo obras de todos os formatos e tamanhos", diz.

Inclusive, as alegorias e o interesse por trabalhos de grandes formatos são algumas das características desse artista, cujas obras estão guardadas em acervos importantes do País, como o da Pinacoteca, em São Paulo, e o Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar.

Trabalhando com xilogravuras extensas, Almeida está constantemente reinventando as próprias ferramentas, linguagens e métodos de gravação. Desde 2004, dedica-se à pesquisa de uma xilogravura fragmentada, que impede a repetição de uma mesma combinação, permitindo, portanto, infinitas formas de fazer um dado trabalho com uma única matriz. Fato que se opõe à produção mais convencional.

Para o artista, a xilogravura é uma técnica fascinante de onde se emergem inúmeras possibilidades. "A xilo é toda infinita. Fantástica! Todo trabalho é uma surpresa, porque a gente só vai saber como vai ficar depois que se termina a obra. A minha pesquisa é algo ainda inacabado, porém tenho o maior prazer de mostrá-la ao público. Por meio dela, vou ajudar outros artistas a produzir gravuras de grande porte e contribuir com a cultura cearense", afirma.

BIENAL DO MERCOSUL

Em suas investigações, Francisco criou uma espécie de equipamento feito com canos de PVC, madeira, corrente e coroa de bicicleta, do qual é possível produzir grandes gravuras. Através dele, elaborou o painel "Os quatro elementos" de 20 metros de comprimento, que marcará sua presença na VII Bienal do Mercosul , a ser realizada entre os dias 16 de outubro e 29 de novembro, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Não há notícias de outra gravura com essas dimensões no País. O artista plástico confecciona um feito inédito. No painel, é tratada a temática religiosa nordestina, enfatizando a chuva, o sol, o vento e a terra. Parte da obra é colorida e contém a utilização de grafite.

"Desde o início, quando Laura Lima (uma das curadoras da bienal) soube da minha pesquisa e me pediu para produzir o painel, foi um grande desafio, pois tudo era ainda incipiente, mas resolvi fazer. Fiquei quase nove meses sem sair de casa, trabalhando direto, isso é muita luz divina. Eu e a obra estávamos tão afinados, que domingo acordei 5 horas da manhã para ver se precisava fazer alguns retoques.

Ao olhá-la, era como se ela falasse para não a tocar mais. Nem coloquei a minha assinatura", revela Francisco sobre os último momentos com o trabalho, feito especialmente para a VII Bienal do Mercosul. Ao retornar do evento, está prevista a exposição da obra de Almeida em 20 seções por diferentes pontos da cidade.

Concluindo a reflexão, o artista diz: "Foi tudo tão intenso, que mesmo com as mãos lesionadas pelo esforço excessivo, chegando mesmo a colocar gelo para conter o inchaço e a dor, aproveitava da dormência das mãos provocadas pelo frio, para continuar a trabalhar. Depois dessa experiência posso dizer que sou outro homem, agora mais leve".

FIQUE POR DENTRO

BIENAL DO MERCOSUL, DIÁLOGO COM O MUNDO

Criada em 1996, a Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, com sede em Porto Alegre (RS), é uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, dedicada à preparação e à realização das mostras e eventos que constituem as Bienais do Mercosul. O evento coloca o Brasil como referência internacional nas artes visuais. Além de promover a integração dos países que fazem parte do Mercosul por meio da arte e promover a arte latino-americana como um todo, a iniciativa oportuniza o acesso à cultura e à arte a milhares de pessoas. Em doze anos de existência, a Fundação Bienal do Mercosul realizou seis edições da mostra de artes visuais, somando 399 dias de exposições abertas ao público, 50 diferentes exposições, 3.616.556 visitas, acesso franqueado, 919.723 agendamentos escolares, 165.229 m² de espaços expositivos preparados, áreas urbanas e edifícios redescobertos e revitalizados, 3.131 obras expostas, intervenções urbanas de caráter efêmero e 16 obras monumentais deixadas para a cidade, 128 patrocinadores e apoiadores ao longo da história, participação de 923 artistas, mais de mil empregos diretos e indiretos gerados por edição, além de seminários, palestras, oficinas, curso para professores, formação e trabalho como mediadores para 1.048 jovens. A Diretoria e os Conselhos de Administração e Fiscal da Fundação Bienal do Mercosul atuam de forma voluntária.


Fonte: http://www.fundacaobienal.art.br/

ANA CECÍLIA SOARES
REPÓRTER


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Almeidinha me brindou com uma de suas premiadas obras, O DONO DO TEMPO, para enfeitar a capa do meu livro Amores e Clamores da Cidade, no qual está inserida a seguinte crônica:

ALMEIDINHA

Apesar do proselitismo agnóstico, apesar de vozes respeitáveis noticiarem a inexistência de Deus, afirmo que cada vez mais acredito na regência de um Ser Superior sobre os atos da existência humana.

Basta nos determos nesse incrível paradoxo: a parafernália eletrônica produzida pela expansão tecnológica – que aparentemente sinaliza um triunfo do materialismo - só prolifera porque os cientistas acreditam em algo imaterial. Quem inventou um aparelho de fax, por exemplo, só prosseguiu no intento porque tinha fé na migração energética que possibilita uma transmissão exitosa além-matéria.

Nas palavras de Deepak Chopra, “a conclusão fundamental dos estudiosos do campo quântico é que a matéria-prima do mundo não é material, as coisas essenciais do universo são não-coisas. Toda a nossa tecnologia baseia-se nesse fato, que faz cair por terra a atual superstição do materialismo”.

Não fosse isso, como poderíamos explicar determinados fenômenos humanos que se nos apresentam envoltos num manto de mistério? A história registra o caso, por exemplo, de uma mulher, doente mental, casada com um homem desequilibrado em todos os sentidos. Alcoólatra e desocupado, estava longe de ser pai modelar ou marido referencial. Esse casal, no entanto, teve quatro filhos: o primeiro, doente mental; o segundo, paralítico; o terceiro, acometido de outra enfermidade séria; o quarto também deficiente. Mesmo com todo esse histórico de tragédia, a mulher estava grávida pela quinta vez. E esse quinto filho, que tudo apontaria para ter também uma vida desventurada, foi Ludwung Van Beethoven, um dos maiores gênios musicais da humanidade.

É de casos como esse que me lembro quando miro a existência dura e desafiadora, simultaneamente dolorosa e portentosa de Francisco de Assis Rodrigues de Almeida, notabilizado Francisco de Almeida ou, simplesmente, Almeidinha. Nascido em Crateús entre as manjedouras da pobreza, tinha tudo para engrossar as fileiras do exército dos excluídos na mecânica perversa que orienta a nossa sociedade desigual. Pequeno na estatura, frágil na estrutura - revelou-se, no entanto, um gigante na desenvoltura. Desafiando céus e terra, em especial um problema neurológico que atrofia sua musculatura, Almeidinha empreendeu uma viagem fabulosa à auto-afirmação, protagonizando uma ascensão vertiginosa no mundo das artes e firmando-se como o mais talentoso nome da xilogravura cearense. Não é apenas um artista extraordinário, é um ser humano formidável que, de cada poro do corpo e da alma, exala a alegria de viver, o prazer da simplicidade, a essência do humano.

Quando criança alimentava o sonho de pintar o cartaz de cinema da sua urbe. Dirigia-se à porta do Cine Poty (nome também do rio da cidade) e detinha-se contemplando a pintura dentro da moldura de vidro. Admirava, à época, o trabalho do senhor João Batista, um pintor que morava às margens do rio e era o seu ídolo. O tempo passou, o cinema fechou, mas o sonho artístico continuava aberto no coração de Almeidinha. Contra a vontade do senhor Manuel Almeida Sobrinho e da dona Terezinha Rodrigues de Almeida, seus pais, resolveu ir para Fortaleza. Após ralar muito, escalou a montanha do sucesso e pisou os píncaros da glória. É um mago da culinária e da xilogravura. Da mesma forma que inventa novos pratos, misturando temperos inéditos, também brinca com as telas, misturando misticismo e crendices populares, pedras coloridas e astros-reis, pedaços de madeira e carvão, num inimaginável baile de magia e luz.

O que mais o orgulha, no entanto, não é o incontestável fato de ser o mais premiado gravador do Ceará, tendo suas telas sido exibidas nos mais importantes acervos do País e recebido aplausos na Argentina e na Europa. O que mais o orgulha é ter conhecido a fome, a sede e o frio de perto...

Um cancioneiro introvertido, português multivital, chamado Fernando Pessoa, dizia: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. E um outro ser transcendental, o poeta chileno Pablo Neruda, afirmou que “o poeta vive todas as vidas do mundo”.

Almeidinha, um biocrata de marca maior, grava em suas telas toda a pulsação do planeta. É um filho do sorriso, um sujeito de festa, um caboclo danado, um cabra da peste, um menino do bem. Merece um lugar no frontispício dos iluminados. É GENTE DE AÇÃO!

(Júnior Bonfim)

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Olá Júnior,

Francisco de Almeida, sem dúvidas, é um artista que orgulha muito o nosso Ceará.

Ceará este, que muitas das vezes pena com a escassez das águas, mas transborda e inunda seu território com os valores que brotam do seu chão.

O texto de Ana Cecília Soares é maravilhoso, retratou bem o artista e me comoveu.

E você Júnior, fruto desta terra, advogado, poeta e escritor é também um excelente divulgador de nossa cultura e de nossa gente.

Sou feliz em ter encontrado você neste mundo virtual, sou agradecida pela divulgação que você faz do meu trabalho e mais contente fico, pois neste mundão real somos conterrâneos.

Saudações Cearenses!

Dalinha Catunda

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

PRIMAVERA E SONHOS



É começo de primavera

E um vento começa a bater,

Levemente em meu corpo,

E eu penso logo em você.



É o recomeço dos sonhos,

Que não devem se perder,

Nas amarras que existem,

Entre o meu e o seu querer.



É a esperança brotando,

Feito o botão de uma flor.

É o futuro querendo,

O que o passado negou.


(Por Dalinha Catunda)

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A Primavera é a estação do ano que se segue ao Inverno e precede o Verão. É tipicamente associada ao reflorescimento da flora e da fauna terrestres.

A Primavera do hemisfério norte é chamada de "Primavera boreal", e a do hemisfério sul é chamada de "Primavera austral". A "Primavera boreal" tem início, no Hemisfério Norte, a 20 de Março e termina a 21 de Junho. A "Primavera austral" tem início, no Hemisfério Sul, a 23 de Setembro e termina a 21 de Dezembro.

Do ponto de vista da Astronomia, a primavera do hemisfério sul inicia-se no equinócio de Setembro e termina no solstício de Dezembro, no caso do hemisfério norte inicia-se no equinócio de Março e termina no solstício de Junho.

Como se constata, no dia do equinócio o dia e a noite têm a mesma duração. A cada dia que passa, o dia aumenta e a noite vai encurtando um pouco, aumentando, assim, a insolação do hemisfério respectivo.

Estas divisões das estações por equinócios e solstícios poderão ser fonte de equívocos, mas deve-se levar em conta a influência dos oceanos na temperatura média das estações. Na Primavera do hemisfério sul, os oceanos meridionais ainda estão frios e vão aos poucos aquecendo, fazendo a Primavera ter temperaturas amenas ao longo da estação

(WiKipédia)

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Olá Júnior,

Obrigada por postar meu poema e também por postar esta aula sobre as estações do ano.

E lembrar também, que hoje é o dia da árvore e a sua preservação é de grande importância.

Um abraço,

Dalinha