sexta-feira, 29 de maio de 2009

CONJUNTURA NACIONAL




ARMADO DE ADMIRAÇÃO

Tenório Cavalcanti, udenista e adversário político de Vargas, foi ao Catete numa comissão de deputados. Andava nas manchetes dos jornais por causa de suas estripulias em Caxias, na base da "Lourdinha" (metralhadora) e da capa preta.

Getúlio o cumprimentou, olhou bem para o volume do revólver embaixo do braço esquerdo, sob o paletó:

- Deputado, o senhor está armado?

Tenório ficou vermelho, mas não perdeu o bote:

- Sim, presidente, armado de admiração por V. Excelência.

SILVIO TORRES URGENTE

O Deputado Silvio Torres, boa praça do PSDB de São Paulo, tomou um susto: chegou em São Paulo por volta de 20h de ontem, quinta, e foi informado que sua assinatura constava da lista de "apoiamento" do deputado Jackson Barreto, do PMDB de Sergipe. O projeto muda a Constituição para inserir nela a ideia do terceiro mandato presidencial. Silvio e mais outros cinco tucanos se apressaram em mandar retirar as assinaturas. Caíram na lista de "apoiamentos por caridade".

DELGADO EXPLICA

Este escriba ouviu a aflita explicação deste sincero deputado tucano, ontem à noite, durante o coquetel em homenagem ao novo presidente do CIEE, o amigo e eficiente advogado Ruy Altenfelder, sob o ouvido atento do ex-deputado Paulo Delgado, de Minas Gerais. Delgado era um dos mais qualificados parlamentares da Câmara e, hoje, presta serviços como consultor à FIESP e outras entidades. O simpático mineiro de Uberaba explica: "há pessoas simples, nos corredores da Câmara, coitadas, que fazem o trabalho de coleta de assinaturas. Conheço uma delas, que ganha dois reais por assinatura. E, depois da assinatura dos "apoiamentos", ela ainda nos abençoa em nome de Deus". Silvio Torres entrou nessa lista. Foi vacinado. Doravante, os parlamentares deverão olhar onde estão assinando.

CENÁRIOS PETROLEIROS

A CPI da Petrobras terá apenas três senadores da oposição. Seria o caso de concluir, então, que tudo estará sob controle? Depende. É evidente que os três senadores da oposição procurarão fazer o maior barulho. Nesse sentido, contarão com a diligência da mídia, que se fará presente todo tempo. Se houver obstrução das investidas oposicionistas, a mídia dará eco. Ou seja, a essa altura, algum prejuízo já pode ser contabilizado na planilha político-eleitoral.

O ISLÃ E O OCIDENTE

"Enquanto o Islã continuar sendo o Islã (como continuará) e o Ocidente continuar sendo o Ocidente (o que é mais duvidoso), esse conflito fundamental entre duas grandes civilizações e estilos de vida continuará a definir suas relações no futuro do mesmo modo como as definiu durante os últimos 14 séculos". (Samuel P. Huntington – O choque de civilizações)

UMA BOMBA

E se aparecer uma bomba, uma descoberta impactante, um caso escandaloso? Bom, se isso ocorrer, pode-se apostar na espetacularização da CPI. O ambiente tumultuado deverá desandar o ritmo de atividades do próprio Senado. Será um deus-nos-acuda. Esse cenário poderá ser desastroso para a Petrobras e, consequentemente, para o governo.

VELHO E MOÇO

Pretendendo certo fidalgo, ilustre e rico, porém já velho, realizar segundas bodas com Santa Marcela, viúva, de pouca idade, alegava, em seu favor, que também os moços podem morrer logo. Respondeu a Santa com prontidão e modéstia: "o moço pode morrer logo, mas o velho não pode viver muito". É o que nos conta o sábio padre Manuel Bernardes.

REFORMA TENDE A DESANDAR

A reforma política acaba de subir ao telhado. O projeto de reforma, relatado pelo deputado Ibsen Pinheiro, e que é centrado na lista fechada e no financiamento público de campanha, não tem condições de ir a plenário. Haverá obstrução, caso haja tentativa. O presidente da Câmara, Michel Temer, quer encontrar uma saída, mas acha que as divergências são quase insuperáveis. Para esta Coluna, Temer dá o tom: "vamos fazer um enorme esforço para chegarmos ao mínimo de consenso. Mas as propostas são múltiplas. Lista fechada, voto distrital puro e misto, distritão, lista aberta como hoje, enfim, cada qual tem uma visão diferente. Mas farei o que for possível para avançar".

TERCEIRIZAÇÃO AVANÇA

Pela primeira vez, um grupo de 60 dirigentes e empresários fez chegar à Casa do Povo, em Brasília, sua voz em defesa da Terceirização. Uma caravana, comandada pelo presidente do Sescon/Aescon, José Maria Chapina Alcazar, e com o reforço do amigo Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de SP, entregou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, um documento com a solicitação da votação do projeto 4.302/98, que trata da matéria. O movimento, sob o patrocínio do Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, vai, agora, conversar com os líderes dos partidos. Influentes parlamentares começam a se engajar na campanha pela legalização dos serviços terceirizados no país, entre estes José Aníbal, líder do PSDB, Henrique Alves, líder do PMDB, Milton Monti, vice-líder do PR, Ronaldo Caiado, líder do DEM, Colbert Martins, relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça, entre outros.

DILMA, SERRA OU AÉCIO?

A Mega Brasil, grupo capitaneado pelo esforçado jornalista Eduardo Ribeiro, encerra, hoje, o 12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa. Este analista, mais uma vez, aceita o desafio imposto por Edu para discorrer sobre Comunicação, Empresas e o Brasil de 2010. A questão que me colocaram é: será um Brasil de Dilma, Serra ou Aécio? Às 11h desta manhã de sexta, no Centro de Convenção Rebouças, vou tentar responder à provocação.

LULA NA PETROBRAS

Pois bem, já sabemos para onde Lula pretende ir ao deixar a presidência da República. Seu destino é a Petrobras. Quer dirigir a empresa e já convocou Sérgio Gabrielli, o atual presidente, para assessorá-lo. Luiz Inácio sabe das coisas. Há um mundão de coisas que poderia fazer. Mas a Petrobras está mais perto do céu. Claro, isso poderia ocorrer se Dilma for eleita para seu lugar. Esta confissão, em tom de brincadeira, foi feita para o companheiro Hugo Chávez. Seria interessante Dilma, a presidente, dar ordens ao novo presidente da Petrobras. Ou será que o Palácio do Planalto não seria uma sucursal da petroleira? Luiz, Luiz, não seria melhor o recolhimento na Catedral da Liturgia que abriga ex-Mandatários?

VULGARIDADE

"Os homens vulgares quereriam pedir a Circe as poções com que transformou em cerdos os companheiros de Ulisses, para receitá-las a todos os que possuem um ideal. Eles estão em todas as partes, sempre que se verifica um recrudescimento da mediocridade, entre púrpuras, como entre escórias, na avenida e no subúrbio, nos parlamentos e nos cárceres, nas universidades e nas manjedouras. Há certos momentos em que ousam denominar ideias a seus apetites, como se a urgência de satisfações imediatas pudesse ser confundida com a ânsia de perfeições infinitas. Os apetites se fartam; os ideais, nunca". O puxão de orelhas na vulgaridade é do mestre José Ingenieros, em seu belíssimo O Homem Medíocre.

E O CAMINHO DAS ÍNDIAS, HEIN?

Marcos Losekann, repórter da TV Globo em Londres, confessou que viu a novela Caminho das Índias juntamente com um grupo de indianos. Os caras tiraram um tremendo sarro: não tinha nada daquilo, incluindo as vestes. Losekann disse essas verdades no programa de Ana Maria Braga. Ou seja, da Globo para a Globo, ou melhor, de um repórter da Globo para Glória Perez, novelista da mesma casa. Vai sobrar para o repórter? Haverá réplica? Afinal, a saia justa ficará restrita ao olho do Louro José?

AVE, CÉSAR!

A fim de conquistar o poder, César ligava-se a gente de todas as classes, desde as mais altas às mais baixas. Tornou-se um homem fátuo e sensual. Divorciou-se de Pompeia, sua segunda esposa, porque "a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita", e ela não estava. No entanto, ele era infiel à esposa com mulheres de todas as classes, inclusive a mãe de Bruto. Como um veneno de ação lenta, a depravação da Roma pagã nublava a luminosa promessa que era o seu futuro. De César, colhemos o ditado: "faça o que digo, não faça o que faço".

CADÊ SKAF, HEIN?

Pergunta que, vez ou outra, me fazem: como vê o jogo político em 2010 no país? Tento dizer algo. Emendam com uma segunda pergunta: e São Paulo, quem serão os contendores? Tento adivinhar: Aloysio Nunes Ferreira, Geraldo Alckmin, José Aníbal, Marta Suplicy, Antônio Palocci, Emídio de Souza, Aloizio Mercadante e que tais. Entre os interlocutores, alguns são empresários. Curiosos, me jogam mais uma provocação: e Paulo Skaf tem alguma chance? Pergunto: chance para quê? Dizem: para o governo do Estado. Replico: perguntem para o outro Paulo, o da Força Sindical. As últimas notícias políticas sobre Skaf davam conta de que poderia vir a ser candidato do Paulinho da Força.

HÉLIO DE COSTAS

O presidente Luiz Inácio acaba de inserir mais um ator no palco de 2010. Sugeriu que seu ministro Hélio Costa poderia ser um bom nome para figurar na chapa de Dilma. Vejam, agora, as razões. Minas Gerais tem cerca de 14 milhões de eleitores, o segundo maior colégio eleitoral do país. Lula quer anular a vantagem do PSDB no Estado, ou seja, diminuir o potencial de Aécio Neves e, ao mesmo tempo, consolidar a aliança com o PMDB. Só que Hélio quer ser governador. E conta, hoje, com larga vantagem sobre os petistas, Patrus Ananias e Fernando Pimentel. Mais ainda: o PMDB mineiro tende mais a fechar aliança com Aécio, que apoiaria o ministro das Comunicações. Como se vê, Lula quer embaralhar as cartas. Dizem que Hélio ficará de costas para a intenção lulista.

VICES DO PMDB

Hélio Costa se junta a outros nomes já anunciados como prováveis vices: Michel Temer, presidente da Câmara e do partido; Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro e Geddel Vieira Lima, ministro da Integração.

QUÉRCIA CONTRA MERCADANTE

Orestes Quércia ganhará a vaga de candidato ao Senado por conta da aliança, em São Paulo, do PMDB com o PSDB. Desta vez, emplacará? Outras possibilidades: Aloizio Mercadante, que já o tirou do páreo na eleição de 2002; José Aníbal, Romeu Tuma, Geraldo Alckmin (se não sair como candidato ao governo), Guilherme Afif.

TERCEIRO MANDATO

Pois é, o deputado Jackson Barreto (PMDB/SE) está apresentando a emenda do terceiro mandato. Colheu 180 assinaturas, entre as quais – pasmem – 20 do PSDB e do DEM. Horas depois de apresentada, no entanto, a PEC foi devolvida pela secretaria da Câmara para o seu autor, deputado Jackson Barreto. É que 5 tucanos e 8 dos 11 democratas que apoiaram inicialmente o texto retiraram as assinaturas. O deputado poderá buscar novos apoios. Mas, quem conhece os trâmites da Câmara, conclui: não haverá tempo para votar a proposta este ano.

VIVOS E MORTOS

"Há neste mundo muitos vivos que já são mortos, e muitos velhos que ainda são meninos e muitos homens que não são homens, nem ainda criaturas". (Padre Manuel Bernardes)

E O MINC, HEIN?

Esse ministro Carlos Minc começa a botar as mangas, aliás, a língua, de fora. Xingou os ruralistas de "vigaristas". O forte grupo do agronegócio quer ver o cão chupando manga, mas não a cara do ministro. Ronaldo Caiado, líder do DEM e ruralista, deu o troco. O ministro pediu desculpas. Vai ser difícil conviver com esse ministro, também conhecido como Minc Leão Dourado.

DILMA NO FORRÓ

Para mostrar que está tudo tranquilo, Dilma Rousseff irá ao forró de Caruaru, neste fim de semana, a convite do governador Eduardo Campos. É o preço a ser pago pela popularidade.

JANELINHA SALVADORA

O projeto de reforma política foi pro beleléu. Mas o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) espera que, até setembro, seja votado e aprovado seu projeto, que reduz a filiação partidária de um ano para seis meses para aqueles que vão concorrer às eleições. É bem provável que, chegando ao Plenário, seja aprovado. É mais um jeitinho para driblar as dificuldades.

ZÉ RODRIX

Deixou-nos uma das mais fulgurantes figuras do mundo cultural e artístico: Zé Rodrix. Tive a felicidade de privar de sua amizade. Conheci Zé por intermédio de meu primão, Zé Nêumanne. Nunca vi pessoa tão rápida no gatilho do pensamento. Culto, aberto, misterioso, sistêmico, polêmico, engraçado, gozador. Uma noitada de conversa com ele e Nêumanne era um festival cheio de encanto e graça, histórias e estórias, lembranças e causos, piadas e relatos saborosos. Pesquisador cuidadoso, minucioso. Apreciava o detalhe. Sua trilogia – três romances – sobre o universo exotérico da Maçonaria marcará sua passagem pela literatura. Zé gostava da cozinha. Provei de suas habilidades culinárias. Estará sempre no cantinho mais privado dos nossos corações. Espero que Julia, sua encantadora mulher, nos conte detalhes sobre o livro que Zé estava escrevendo sobre a figura de Tiradentes. Um mistério.

CONSELHO AO GOVERNADOR JOSÉ SERRA

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos membros da CPI da Petrobras. Hoje, volta sua atenção ao governador José Serra:

1. Saia da toca. Passe a andar por algumas praças brasileiras. Para sentir a temperatura. Não espere pelo período de campanha.

2. Os empresários paulistas se queixam do arrocho tributário. E fazem comparação com os tempos mais amenos de Geraldo Alckmin. Seria interessante verificar onde e por que ocorrem esses lamentos.

3. Comece a falar de Brasil. Pense grande. Por onde e como o país deve caminhar? O que falta? O que está errado? O que precisa ser corrigido?

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(Por Gaudêncio Torquato)

LEI DE PROTEÇÃO DA JUVENTUDE


Na edição de ontem, a Coluna tratou do quanto são inadequadas as denominações que algumas ideias acabam ganhando no debate público. “É, por exemplo, o caso dos projetos de restrição de horários para o consumo de álcool. Entre nós, essa ideia ganhou o nome de ‘lei seca’. Um nome que não tem nenhuma relação com a proposta”. Outro batismo infeliz: “toque de recolher” para a ação que visa impedir que crianças e adolescentes perambulem pelas ruas desacompanhadas de pais ou responsáveis em horários e locais inadequados. Algo muito simples que é praticado por toda sociedade que se preze. Vejam notícia publicada no O Globo do dia 23 passado: “Alarmados com o aumento da delinquência e do alcoolismo entre os jovens, alguns países europeus começam a adotar o toque de recolher (olha aí o batismo infeliz) para adolescentes como forma de combater o problema... na Alemanha, segundo a lei de proteção da juventude, uma das mais rigorosas da Europa, jovens de até 16 anos não podem andar nas ruas ou frequentar shows de rock, discotecas ou restaurantes depois das 22h. O toque de recolher para adolescentes entre 16 e 18 anos é meia-noite”.

SEM O PAI OU RESPONSÁVEL

Vejam que a medida não é coisa de país pobre e/ou autoritário. Atentem que a Alemanha cumpre todas as condições de proteção social, mas, mesmo assim não considerou que isso seria suficiente para proteger os jovens. Notem que a avançada e rica Alemanha usa o termo “lei de proteção da juventude” para designar a sua política. Mais da reportagem: “Na Rússia, o presidente Dmitri Medvedev acaba de conseguir a aprovação de uma nova lei que permite a imposição do toque de recolher (de novo) para o período das 22h às 6h aos jovens desacompanhados de maiores de idade. Outro exemplo vem do rico Reino Unido. Lá, funciona a “Lei de Comportamento Anti-Social”. Há zonas especiais nas quais a polícia pode deter e escoltar até em casa menores de 16 anos desacompanhados após as 21h, sejam eles infratores ou não. Reaparem bem: em todos os casos, o Estado só age quando os menores de 18 anos estão desacompanhdos dos pais ou de adultos que se responsabilizem por eles. Não é repressão, não é autoritarismo, não é toque de recolher.

AS CENAS QUE TODOS ASSISTEM

Não se trata de “toque de recolher”, mas sim de proteger crianças e adolescentes contra a violência. O que é mesmo que uma criança faz nas ruas de Fortaleza depois de 22 horas sozinha ou em grupo? Há três semanas, a Coluna presenciou situação que responde à pergunta. Por volta das 23 horas, no cruzamento das avenidas Barão de Studart com Historiador Raimundo Girão, duas crianças, em clara situação de risco, abordavam motoristas. A sociedade não deve tolerar esse tipo de situação. Ou há alguém a achar que deve? Essas crianças possuem casa e família. É lá que deveriam estar. Se não tiverem referência familiar ou um lar, então deveriam estar em abrigos públicos. O que não pode é prevalecer o laissez-faire social. Ou seja, deixa tudo como está e, em vez de discutir seriamente uma ação apenas combate-se a ideia classificando-a de forma pejorativa. Na semana passada, as TVs do País mostraram uma cena dramática. Quatro menores abordadas por um facínora italiano na Beira Mar. O grupo entrava em um taxi quando, felizmente, um agente público interferiu, impedindo a sequência do absurdo. Pergunta-se: o Estado e a sociedade devem tolerar adolescentes perambulando, se prostituindo, se drogando e enchendo a cara na madrugada das ruas?

GIGOLÔS E CONVERSA MOLE

Esse debate é necessário. Da mesma forma que o Ministério Público é obrigado a atuar contra os pais que não matriculam seus filhos ou não os obrigam a freqüentar a escola, deveria também atuar contra os que entregam seus filhos à sordidez das ruas nas madrugadas. Outro ponto: um dos maiores absurdos socialmente tolerados é o uso de crianças e até bebês para pedir esmolas. É comum e todos os leitores dessa Coluna já presenciaram cenas do tipo. São gigolôs da infância. E não nos venham com a conversa mole de que essas pessoas são necessitadas e isso justifica a atitude.

Fábio Campos – Jornal O POVO
29 Mai 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

UM CINTURÃO, DE GRACILIANO RAMOS

Nunca escrevo em primeira pessoa, mas como vou me confessar, não há modo melhor de me expressar. Faz noventa dias que assumi a defesa criminal de pessoas que, tenho certeza, inocentes. Li e reli as muitas páginas dos autos e, a cada releitura, mais me convenci de que não há crime, não há responsabilidade criminal.

Percebi – isso, sim - a coleção de arbitrariedades da polícia judiciária, bem como a incapacidade de juízes e tribunais de lidarem com casos de repercussão na mídia. Notei que o conteúdo do inquérito policial não importa, pois, há magistrados que não querem decidir as questões trazidas à apreciação, como se reconhecer algum direito a meus clientes lhes significasse prejudicar a imagem pública.

Criou-se um caldo de suposições e insinuações de tal tamanho que declarar alguma das muitas nulidades, ou mesmo a inexistência do crime, tornou-se algo impossível enquanto os jornais aludirem o andamento da causa. Nesse ciclo favorável à expiação, troca-se a justiça pela aparência, o trabalho de motivação pelas frases genéricas, o conteúdo real pela etiqueta da gravidade dos fatos.

Quem quiser a prova da saga defensiva, posso contar que foram mais de dez medidas rechaçadas pelo Poder Judiciário, sob vários pretextos, sendo comum, em muitos deles, a postergação da análise. Direito a juiz imparcial, prova legítima, autodefesa, informação, paridade de armas, privacidade, moralidade da administração pública, tudo se exibe secundário num clima de perseguição obscuro, onde há medo da imprensa e da maldita "voz das ruas".

Como a situação me incomoda no fundo da alma, contei a odisséia a um amigo muito culto. Ele, professor de história, não se espantou ao ouvir sobre meu caminho errático nos tribunais. Lembrou de muita coisa da história brasileira. Falamos da saga do Barão de Mauá, outro empresário injustiçado pelas astúcias do poder. Ao final, fez menção a um conto de Graciliano Ramos.

Diante da força e significado do texto, resolvi divulgá-lo com dois objetivos. De um lado, dividir com o leitor esse texto extraordinário da literatura brasileira, de outro, encaminhá-lo àqueles que desprezaram, num primeiro momento, meus argumentos defensivos.

Nessa confissão, o perdão depende da sensibilidade com que se encare o conto. Se não houver esperança, ao menos, cada destinatário tem a chance, ao fim, de se reconhecer em alguma passagem.

(Antônio Sergio Altieri de Moraes Pitombo – Advogado).

UM CINTURÃO


As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.

Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.

Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.

Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé do turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.

Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.

Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.

Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam.

O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira.

Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.

Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.

A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal. Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos – e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás de caixões, livre do martírio.

Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que gogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo.

Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa.

Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me num desespero.

O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível.

Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.

Pareceu-me que a figura imponente minguava – e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.

Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.

Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.

(RAMOS, Graciliano. Um Cinturão. In: Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. Org. MORICONI, Ítalo. Rio de Janeiro: OBJETIVA, 2000, p.144-146)

PRECONCEITO



(Enviado por Gabriel Vale)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

EXPRESSÕES LATINAS

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Res judicata pro veritate habetur "A coisa julgada é aceita como verdade." – Axioma de Jurisprudência.
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Res, non verba "Fatos, não palavras."
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Res nullius - "Coisa de ninguém." – Locução usada em Direito para designar um objeto ou bem sem dono.
*
Responsio mollis frangit iram "Uma resposta branda desvia o furor." - Provérbio.
*
Restitutio in integrum – "Restauração na situação anterior." - Expressão forense.
*
Revertere ad locum tuum"Retorna ao teu lugar." - Inscrição em portões de cemitérios.
*
Rex regnat, sed non gubernat"O rei reina, mas não governa."
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Ridentem dicere verum quid vetat? "Que é que poderia impedir de dizer a verdade aquele que vi?"
*
Risum in lacrimis vertit"Transforma o riso em lágrimas."
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Rite "Regularmente." – Grau nos exames de doutoramento.
*
Romae omnia venalia esse"(Que) em Roma tudo está à venda." - (Salústio)
*
Roma locuta, causa finita "Roma falou, a questão está resolvida."

terça-feira, 26 de maio de 2009

PROVOCAR PESSOAS INTELIGENTES PODE SER MUITO PERIGOSO!!!



Certa vez ( fato verídico ) Einstein recebeu uma carta da miss New Orleans onde dizia a ele:

" Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor... A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo de beleza, teria um filho com o senhor e, certamente , o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência".


Einstein respondeu:

" Querida miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza.

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Quando Churchill fez 80 anos um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse:

- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.

Resposta de Churchill:

- Por que não? Você me parece bastante saudável.

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Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto.

Convite de Bernard Shaw para Churchill:

"Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver."
Bernard Shaw.


Resposta de Churchill:

"Agradeço ilustre escritor honroso convite... Infelizmente não poderei comparecer primeira apresentação. Irei à segunda, se houver."
Winston Churchill.


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O General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na IIª Guerra Mundial.

Discurso do General Montgomery:

' Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói '.

Churchill ouviu o discurso e, com ciúme, retrucou:

' Eu fumo , bebo, prevarico e sou chefe dele.'


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Bate-boca no Parlamento inglês.

Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, do tipo Heloisa Helena do PSOL, que pediu um aparte . Todos sabiam que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos. Mas, concedeu a palavra à deputada.

E ela disse em alto e bom tom:

- Sr. Ministro , se V. Excia. fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá!

Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a platéia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou:

- Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá!

(Enviado por Gabriel Vale)

O HINO E A INSPIRAÇÃO


Na cidade de Joinville houve um concurso de redação na rede municipal de ensino. O título recomendado pela professora foi: "Dai pão a quem tem fome".

Incrível, mas o primeiro lugar foi conquistado por uma menina de apenas 14 anos de idade. E ela se inspirou exatamente na letra de nosso Hino Nacional para redigir um texto, que demonstra que os brasileiros verde amarelos precisam perceber o verdadeiro sentido de patriotismo. Leiam o que escreveu essa jovem.

Eis a Redação.

Certa noite, ao entrar em minha sala de aula, vi num mapa-mundi, o nosso Brasil chorar:

- O que houve, meu Brasil brasileiro? Perguntei-lhe!

E ele, espreguiçando-se em seu berço esplêndido, esparramado e verdejante sobre a América do Sul, respondeu chorando, com suas lágrimas amazônicas:

- Estou sofrendo. Vejam o que estão fazendo comigo ... Antes, os meus bosques tinham mais flores e em meus seios mais amores. Meu povo era heróico e os seus brados retumbantes. O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu da Pátria a todo instante. Onde anda a liberdade, onde estão os braços fortes? Eu era a Pátria amada, idolatrada, salve salve. Havia paz no futuro e glórias no passado. Nenhum filho meu fugia à luta. Eu era a terra adorada e dos filhos deste solo era a mãe gentil. Eu era gigante pela própria natureza, que hoje devastam e queimam, sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho, tenha a coragem de gritar mais alto para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula.

- Eu, não suportando as chorosas queixas do Brasil, fui para o jardim.

- Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso país ostenta estrelado. Pensei... Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes? Pensei mais... Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?

- Voltei à sala, mas encontrei o mapa silencioso e mudo, como uma criança dormindo em seu berço esplêndido.


(Enviado por Gabriel Vale)

domingo, 24 de maio de 2009

ACADEMIA DE LETRAS DE CRATEÚS

Hoje, em Crateús, o grupo de literatos da cidade que vem discutindo há algum tempo a constituição de um Sodalício de Letras na cidade, após longa reunião que aprovou o Estatuto, decidiu agendar para o dia de Santo Antonio, 13 de junho, a realização da Sessão Solene de Fundação da Academia de Letras de Crateús (ALC).

O evento ocorrerá no Teatro Rosa Morais.

A concretização dessa Arcádia poderá marcar o início de uma auspiciosa oxigenação cultural na vida local.

Abrigando poetas, contistas, cordelistas, cronistas, produtores de trabalhos científicos e religiosos, ou seja, amantes das letras de todos os matizes, a Academia de Letras de Crateús (ALC) nasce sob o signo da pluralidade, do culto às mais diferentes manifestações da literatura, desde a dita erudita ou convencional à sua mais pura e genuína expressão popular.

(Por Júnior Bonfim)

ORIGEM DAS ACADEMIAS

A Academia original foi uma escola fundada em 387 a.C., próxima a Atenas, pelo filósofo Platão. Nessa escola, dedicada às musas, onde se professava um ensino informal através de lições e diálogos entre os mestres e os discípulos, o filósofo pretendia reunir contribuições de diversos campos do saber como a filosofia, a matemática, a música, a astronomia e a legislação. Seus jovens seguidores dariam continuidade a este trabalho que viria a se constituir num dos capítulos importantes da história do saber ocidental.

A escola era formada de uma biblioteca, uma residência e um jardim. Pela tradição, este jardim teria pertencido a Academus - herói ateniense da guerra de Tróia (século XII a.C.), e por isso era chamado de academia.

As mais conhecidas academias gregas foram a Antiga Academia, fundada por Platão, que teve entre seus mestres o matemático Eudóxio de Cnido, e como discípulos, entre outros, Aristóteles, Xenócrates e Espeusipo; a chamada Academia do Meio, fundada pelo filósofo platônico grego Arcesilaus e a Nova Academia, fundada pelo filósofo cético grego Carneades. Essa tradição que deu origem a todas as academias e universidades de ensino superior do Ocidente foi interrompida com o seu fechamento pelo imperador romano Justiniano em 529 d.C.

Diversas academias de poetas e artistas se estabeleceram na França e na Itália nos séculos XIII e XIV. A Academia Platônica, fundada em Florença por volta de 1440, foi a mais famosa academia da Renascença italiana. Ela se dedicou a aprofundar o estudo da obra de Platão, ao aprimoramento da língua italiana e ao estudo de Dante.

A Academia Francesa - que serviu de modelo à Academia Brasileira - foi fundada, em 1635, por iniciativa do Cardeal Richelieu que obteve a autorização para seu funcionamento do rei Luís XIII, com a principal finalidade de tornar a língua francesa "pura, eloqüente, e capaz de tratar das artes e ciências." A Academia Francesa tem cumprido essa missão, também, através das sucessivas edições de seu Dicionário. Oito edições já foram realizadas entre 1694 e 1932, estando em curso os trabalhos da nona edição. As entradas do Dicionário são conservadoras e sempre ilustradas através de citações literárias; termos chulos, gíria e expressões coloquiais são evitados. Essa mesma orientação foi seguida na Gramática da Academia Francesa publicada em 1932.

Constituída por quarenta cadeiras, cujos ocupantes perpétuos são eleitos, depois de se apresentarem como candidatos a uma vaga, apresentando suas qualificações. O novo acadêmico toma posse discursando em agradecimento à Academia e realizando o elogio de seu antecessor.

Marcos históricos recentes da Academia Francesa foram a eleição do primeiro estrangeiro, Julian Green, romancista americano que escrevia em francês, em 1971, e da primeira mulher acadêmica, Marguerite Youcenar, em 1981. Neste último caso, a Academia Brasileira, com a eleição de Rachel de Queiroz em 1977, antecedeu em quatro anos sua congênere francesa.

FUNDAÇÃO DA ABL
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS


Na segunda metade do século XIX, o Rio de Janeiro já apresentava uma vida literária marcada pelas reuniões de escritores e publicações de periódicos voltados para a literatura. Pontos de encontro, como as livrarias Laemmert e, posteriormente, a Garnier, mantinham a regularidade dessas reuniões onde participavam nomes como Oliveira Lima, Rodrigo Otávio, Pedro Tavares, o jovem Graça Aranha e outros. Já nessas rodas, o centro era a inteligência irônica da personalidade discreta de nosso escritor maior: Machado de Assis.
Essa vontade gregária também se manifestava pelas personalidades boêmias que viriam a se reunir no clube Rabelais, fundado, em 1892, por Araripe Júnior e Raul Pompéia. O escritor e acadêmico Josué Montello, em seu O Presidente Machado de Assis, nos lembra, citando as Minhas Memórias dos Outros de Rodrigo Octavio, que Nabuco, Taunay e Machado não quiseram aderir ao "barulhento Rabelais".

Nesses grupos e encontros, acenava-se com a necessidade da criação de uma agremiação que reunisse os expoentes da literatura brasileira. As reuniões da Revista Brasileira, sob a direção de José Veríssimo, tiveram um papel decisivo na criação da Academia idealizada, principalmente, por Lúcio de Mendonça.

A idéia de Lúcio de Mendonça era a criação de uma Academia de Letras sob a égide do Estado, que recusou a proposta. Criou-se, então, como uma sociedade civil de direito privado, ou como se chamaria hoje, como uma organização não-governamental, a Academia Brasileira de Letras.

AS PRIMEIRAS SESSÕES DA ACADEMIA

A primeira sessão preparatória realizou-se em 15 de dezembro de 1896, às três horas da tarde, na sala de redação da Revista Brasileira, na travessa do Ouvidor, nº 31. Nessa mesma sessão foi aclamado presidente Machado de Assis.

A sétima e última sessão preparatória foi realizada a 28 de janeiro de 1897, à qual compareceram dezesseis membros: Araripe Júnior, Artur de Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Souza, Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Octavio, Silva Ramos, Visconde de Taunay e Teixeira de Melo. Foram incorporados como membros aqueles que haviam comparecido às sessões preparatórias anteriores: Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães. Foram convidados para participar como fundadores, e aceitaram, Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero e Urbano Duarte. Tinha-se, assim, trinta membros.

Tomando como modelo a Academia Francesa, foram criadas quarenta cadeiras. Para completar as dez seguintes, os dezesseis membros presentes na sessão de 28 de janeiro elegeram Aluízio de Azevedo, Barão de Loreto, Clóvis Beviláqua, Domingos da Gama, Eduardo Prado, Luís Guimarães Júnior, Magalhães de Azeredo, Oliveira Lima, Raimundo Correia e Salvador de Mendonça. Ainda nesta sessão aprovam-se os Estatutos que vão assinados por Machado de Assis, presidente; Joaquim Nabuco, secretário-geral; Rodrigo Octavio, 1º secretário; Silva Ramos, 2º secretário; e Inglês de Souza, tesoureiro.

A primeira sessão plenária da Academia realizou-se a 20 de julho de 1897, com a presença de dezesseis membros, numa sala do Pedagogium (foto acima), na rua do Passeio. Depois de uma breve alocução introdutória do presidente Machado de Assis e da leitura da memória dos atos preparatórios por Rodrigo Octavio, Joaquim Nabuco pronunciou o discurso inaugural.

Desde a sessão de 21 de julho de 1959, ficou resolvido que a fundação da Academia seria comemorada a 20 de julho de cada ano.

(Clério José Borges De Sant´Anna)

A ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS


FUNDADA em Fortaleza no dia 15 de agosto de 1894, sob a designação de Academia Cearense, é em nossos dias a Academia Cearense de Letras a mais antiga de todas as academias culturais do País. É verdade que, ao surgir, não eram exclusivamente literários os seus objetivos, uma vez que, ao lado das letras propriamente ditas, abrangia ela o campo das ciências, da educação, ou da arte, de um modo geral. Basta lembrar que, no livro que a agremiação pretendia publicar, e que se intitularia O Ceará em 1896, era desejo dos acadêmicos estudar o Estado sob inúmeros aspectos, dentre os quais o solo, com sua estrutura física e sua topografia; a flora e a fauna; o povoamento, as raças, os costumes; a higiene; crenças e religiões; artes e letras; cultura científica; educação; política; organização militar; organização eclesiástica; agricultura, indústria, comércio, finanças, história, etc. Mas haveria de transformar-se em Academia Cearense de Letras, designação mais consentânea com a função que assumiria pelos tempos afora.

(Sânzio de Azevedo)

PARA REFLETIR!

"A Academia, trabalhando pelo conhecimento [...], buscará ser, com o tempo, a guarda da nossa língua. Caber-lhe-á então defendê-la daquilo que não venha das fontes legítimas, - o povo e os escritores, - não confundindo a moda, que perece, com o moderno, que vivifica. Guardar não é impor; nenhum de vós tem para si que a Academia decrete fórmulas. E depois, para guardar uma língua, é preciso que ela se guarde também a si mesma, e o melhor dos processos é ainda a composição e a conservação de obras clássicas."

Machado de Assis,
Academia Brasileira de Letras
7 de dezembro de 1897