sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

NOVAS REGRAS PARA TIRAR A HABILITAÇÃO DE MOTORISTA


Neste ano, entraram em vigor as novas normas para tirar a carteira de habilitação. Confira o que mudou.

Desde 1º de janeiro, o sonho de tirar a carteira de habilitação ficou um pouco mais difícil para os futuros motoristas. É nesta data que entraram em vigor as novas normas do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que chegaram para melhorar a formação de condutores e reduzir o número de acidentes de trânsito.

Entre as principais mudanças, está a base da quantidade de horas obrigatórias nas auto-escolas. As 30 horas mínimas no curso teórico, passaram para 45 horas acumuladas. Já o módulo prático, passou a ser composto de, ao menos, 20 horas de pilotagem (em vez das quinze horas anteriores).

Além do aumento da carga horária, a nova lei prevê algumas alterações também no conteúdo dos cursos, sobretudo para os condutores de motocicletas. Os alunos deverão passar por aulas teóricas sobre equipamentos de segurança para o motociclista, condução de motocicletas com passageiro ou cargas, e cuidados com as vítimas de acidentes de trânsito, entre outros.

Também será permitido realizar aulas práticas de direção de motocicletas em vias públicas, monitoradas por um instrutor em outro veículo.

"A idéia das mudanças é principalmente, diminuir o número de acidentes nas ruas e nas estradas, formando uma nova geração de condutores, mais preparada para lidar com as condições atuais de trânsito", explica Jaqueline Costa, assessora de imprensa do Contran.

Apesar da mudança, o Contran informa que para aqueles que se matricularam nos cursos em 2008, mas ainda não tiraram a carteira de habilitação, vale ainda a regra antiga.

Com o aumento na quantidade de aulas, os cursos também devem ficar mais caros. A expectativa do Sindicato das Auto e Moto Escolas do Estado de São Paulo é que a carteira de habilitação fique de 20% a 30% mais cara.

Antes / Depois

Curso Teórico 30 horas aula: Curso Teórico 45 horas aula:
• Legislação de Trânsito - 12 hs aula • Legislação de Trânsito - 18 horas aula
• Direção Defensiva - 8 horas aula • Direção Defensiva - 16 horas aula
• Noções sobre o Veículo - 2 hs aula • Noções sobre o Veículo - 3 hs aula
• Meio Ambiente e Conv Social - 4 hs aula • Meio Ambiente e Conv Social - 4 hs
• Primeiros Socorros - 4 hs aula • Primeiros Socorros - 4 hs aula
Prática de Direção Veicular: 15 hs Prática de Direção Veicular: 20 hs

EXPRESSÕES LATINAS

* Pater familias - "Pai de família, chefe de casa"
* Patere legem quam ipse tulisti - "Aguenta a lei que tu mesmo fizeste" - Ausônio
* Pater Noster - "Padre Nosso", "Pai nosso" - Primeiras palavras da oração dominical
* Pater, peccavi in coelum et coram te - "Pai, pequei contra o Céu e na tua presença" - S. Mateus
* Patria est ubicumque vir fortis sedem elegerit - "Pátria é todo lugar que o homem forte escolher para morada" - Cúrciu Rufo
* Patriae magnitudini- "À grandeza da pátria" - Divisa da cidade de Lorena (SP)
* Patria potestas - "O pátrio poder"
* Patriam charitatem et libertatem docui - "Ensinei à Pátria a caridade e a liberdade" - Divisa da cidade de Santos (SP)
* Patriam grandibo - "Engrandecerei a pátria" - Antiga Divisa da cidade de Mogi das Cruzes (SP)
* Pauca, sed bona - "Poucas coisas, mas boas"
* Pauci quos aequus amavit/Jupiter - "Poucos, a quem o justo Júpiter amou" - Virgílio
* Paulistarum terra mater - "A terra mãe dos paulistas" - Divisa da cidade de São Bernardo (SP).

GESTORES DO TCM PARA O BIÊNIO 2009/2010 TOMARAM POSSE


O Conselheiro Ernesto Sabóia, reconduzido para mais um mandato de dois anos (biênio 2009/2010) como presidente do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará (TCM), tomou posse na última segunda-feira (12/01).

Também assumiram os novos vice-presidente, Conselheiro Manoel Beserra Veras, e o Corregedor, Conselheiro Francisco Aguiar.

DISCURSO

Eis o discurso do Presidente reconduzido:

Senhoras e Senhores,

Estamos iniciando agora uma nova etapa gerencial à frente do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará (TCM).

Por suas características, entendo que não podemos denomina-la de continuidade ou continuísmo, mas de extensão de um projeto, que, por ser bem avaliado pelos meus pares, foi considerado digno de receber o aval unânime para seqüência-lo por mais dois anos.

É uma honra poder conduzi-lo, consciente da enorme responsabilidade que tal fato agrega à decisão colegiada.

A partir do nível de desempenho institucional alcançado nos primeiros dois anos, não podemos cometer o erro de pensar ser possível fazer menos do que foi mostrado até agora à sociedade.

Esse é um desafio nada desprezível que se apresenta em nosso caminho e temos de encara-lo com a indispensável coragem, disposição e inteligência.

Em nossa concepção, devemos colocar a lente de aumento sobre alguns focos, dizendo não à acomodação, com dedicação na busca daquilo que o futuro pode nos oferecer, inovando e corrigindo erros.

Meus ilustres antecessores deixaram um conjunto de feitos a serem preservados – materializados em épocas e circunstâncias distintas. Temos a obrigação de amplia-los, levando em conta o ambiente institucional e social hoje vigente, com demandas cada vez mais surpreendentes, balizadas em contexto renovado de direitos e deveres.

É nesse espaço que se desenham as questões que temos de enfrentar a cada dia, dando respostas concretas, objetivas, rápidas, transparentes e inquestionáveis.

Estamos prontos para conviver com aquilo que o cidadão espera de nós?.

Razões práticas nos indicam que sim, como bem demonstram as soluções encontradas pelos que fazem o TCM – conselheiros, procuradores, e servidores de todos os níveis -, e que foram levadas ao conhecimento geral, com efeitos animadores e consistentes, mesmo em contexto e situações em que fomos vistos, por alguns, com desconfiança.

Nada nos desanimou, pois até as posições menos favoráveis foram tomadas como ingredientes naturais do processo, dos quais extraímos lições preciosas para ir adiante, refazendo e refletindo sobre os benefícios insuperáveis da liberdade de divergir.

Se queremos, genuinamente, fazer um pacto de cidadania – e nós queremos com todo vigor -, não podemos temer a opinião dos críticos.

Pelo contrário, devemos ouvi-la exaustivamente, tendo a serenidade de relevar as atitudes extremadas, a humildade de recolher as boas propostas e o ideal de somar para construir uma nova realidade.

Não tivemos medo de tentar e nosso empenho será cada vez maior.

Para o primeiro biênio, de 2007 a 2008, nos impusemos uma espécie de rito de passagem, que deveria ser cumprido como pré-condição para fixar as bases que iriam orientar a filosofia que trazíamos.

Aqui vale recordar os pontos que serviram de âncora ao trabalho que então se iniciava:

• Modernização tecnológica, como preparação às ações que iriam ser implementadas.

• Transparência, para que todos tivessem a chance de se aproximar e conhecer melhor o que estávamos fazendo.

• Investimento nos servidores, a fim de atualiza-los e sintoniza-los em relação ao que pretendíamos executar.

• Comedimento nos gastos, como exemplo didático de cuidado com o bem público.

• Sustentabilidade, a fim de dar solidez aos atos praticados.

Esse conjunto nos serviu de guia principal que iria nos levar, como inquestionavelmente nos levou, para o lugar onde nosso olhar estava ansiosamente dirigido: o ponto de onde a sociedade nos observava sem nos compreender.

Dissemos, com atos e fatos, que queríamos conversar; queríamos dialogar; queríamos ajudar e sermos ajudados; dissemos que estávamos do mesmo lado; que fazemos parte do mesmo bloco de interesse coletivo e que tínhamos, todos, muito a ganhar com essa convivência.

Acredito não ser este o momento para fazer desfilar estatísticas ou cifras, mas um número precisa ficar registrado, até mesmo como a prova definitiva do tamanho do esforço que foi dedicado para dar demonstração consistente da preocupação com um dos pontos que nos é mais cobrado:

A celeridade dos julgamentos, respeitando o rito processual, o amplo direito de defesa, sem causar frustração em quem espera ver suas questões resolvidas ou apenas acompanha-las do começo ao fim.

O TCM, em todos os níveis, assumiu por inteiro o compromisso de responde-lo. E hoje podemos dizer àqueles que nos pagam, os cidadãos, que fomos operosos em seu nome: em 2007 apreciamos e julgamos 6.500 processos. Fechamos o ano de 2008 com 7.844 julgados, o que revela um crescimento nada pequeno.

Isso não é mágica, é um marco que demonstra responsabilidade funcional, logicamente amparada pelas ferramentas que a modernidade dos dias atuais nos possibilitaram incorporar.

O importante é que esta preocupação com produtividade, já faz parte de nossa cultura institucional e foi recentemente, com o providencial apoio dos Senhores Deputados Estaduais, transformada em componente remuneratório permanente, dos nossos valorosos Servidores.

Hoje parte substancial da remuneração dos Servidores é pelo mérito, invertida assim a velha e nefasta lógica dos chamados BARNABES, não os temos nesta Casa, temos sim, SERVIDORES incansáveis e comprometidos com os seus papeis perante a sociedade cearense.

Fomos pessoalmente ao encontro de agentes públicos municipais e representantes das comunidades, 10800 ao todo, nos 184 municípios, percorremos para isso, por terra, 44000 Km, estivemos lá onde eles atuam, moram, vivenciam o bem feito e sofrem, o que precisa ser corrigido, muitos nem desconfiavam por onde podiam começar e com a ajuda de quem.

Estendemos a nossa mão orientadora, fazendo-os perceber que o ente fiscalizador, mais do que ou antes de punir, prefere ensinar a fazer do modo certo. Levamos conhecimento, oportunidade de questionar e participar.

Nos tornamos disponíveis, papel no qual e pelo qual nossa face passou a ser percebida como aliada de práticas, boas práticas, que estão mais perto do que se imagina dos que desejam acertar.

Fomos implacáveis na nossa missão fiscalizadora, como forma de coibir qualquer desmando com o dinheiro público, também ai estivemos presentes pelo menos uma vez em todos 184 municípios, produzindo relatórios que arrimaram afastamentos imediatos, por determinação do Poder Judiciário, de maus gestores.

Nesse momento temos de abrir um parêntese todo especial para falar de quem tanto nos auxiliou nessa tarefa nada fácil. Seria egoísmo, além de ingratidão, não faze-lo.

Refiro-me ao Ministério Público Estadual, que através de sua Procuradora Geral, Procuradores e Promotores, tem sido aliado operacional forte, presente e incansável. Sem ele o resultado de nossa atuação em campo seria remetido a tempo incerto na geração das conseqüências ansiadas pela voz questionadora e impaciente, das ruas.

Essa é uma aliança que imaginamos, desejamos, seja duradoura.

Só assim, poderemos contar com a certeza de que será possível formar uma nova geração de cidadãos e gestores, dignamente comprometidos com o saneamento da gestão pública e dos bons costumes que todos almejamos.

Em outras frentes, não menos importantes, contamos com o Governo do Estado, a Assembléia Legislativa e a Câmara Municipal de Fortaleza.

Na extensão do nosso mandato que agora começa à frente do TCM pretendemos ampliar o leque de instrumentos de cidadania.

Continuaremos, sim, com a idéia fixa de que, sem a efetiva participação popular no acompanhamento do que é feito com o dinheiro de cada um, do imposto que todos pagam, não será possível consertar as coisas.

Para isto estamos construindo e disponibilizaremos ainda neste inicio de biênio, o que acreditamos será um dos maiores e, principalmente, de maior simplicidade de acesso, PORTAL DE TRANSAPARÊNCIA do Brasil.

Que em seu conteúdo trará dados de despesa e receita do próprio TCM, das 184 Câmaras Municipais e das 184 Prefeituras deste Estado do Ceará.

Os órgãos de controle externo, é evidente, podem e devem inovar os mecanismos de vigilância.

É para isso que existem. Mas não são onipresentes ao ponto de terem como acompanhar tudo em tempo real.

Essa tarefa supletiva pertence a cada pessoa, convencida de ser essa uma atitude que a conduzirá a influir objetivamente em decisões importantes, sobre quem, por exemplo, merece ou não a confiança para representa-la no Executivo e no Parlamento.

Esse é um poder insubstituível no modelo de democracia representativa em que vivemos. Nada substitui o voto bem dado, livre, consciente, premiador ou corretivo.

A isso chama-se tomar as rédeas do próprio destino, reescrevendo os meios e as formas, determinando quem serão os atores e quando estes podem receber o aval da qualificação.

Essa é a real democracia participativa, ou como preferimos nos referir, o real Controle Social.

Nossa meta, nesse primeiro ano, é treinar pelo menos 30 mil pessoas, dando-lhes as ferramentas que os auxiliem, a desempenhar este papel de suma importância. Utilizaremos, para isso, todas as formas modernas de capacitação disponíveis.

Esperamos, com isso, que, no segundo ano, esteja em funcionamento uma sólida rede de cidadania, agindo como que por música, sabendo o que fazer, onde, quando e como; sabendo a quem, e como, se dirigir quando necessário punir; sabendo ainda que seu papel, abaixo do de Deus, é o maior quando se trata de julgamento de gestores públicos, por que detêm o poder do VOTO.

Esses são compromissos que funcionarão como bússola daqui para a frente.

Juntam-se àqueles que fazem do quinteto apresentado como referência a partir de 2007 e às ações de caráter permanente na busca pela celeridade dos julgamentos e pela excelência dos nossos serviços.

O que poderia ser pontual, está devidamente incorporado à rotina de cada dia, como motivo para criar e superar metas em todos os processos de nossa responsabilidade.

Tudo aquilo que está na essência das razões de nossa existência como instituição.

Somos sonhadores?

Sim, esse é o nosso grande sonho realizador – como dirigente de um TCM que estará adequadamente posicionado na credibilidade geral, como profissional e, definitivamente, como cidadão.

Muito obrigado.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

COLUNA PRESTES EM CRATEÚS



Soube que em Crateús, hoje, foi relembrada a histórica passagem da Coluna Prestes pela cidade.

Quando foi inaugurado o monumento que, lamentavelmente, foi erigido em local inadequado, escrevi a seguinte crônica:

MEMORIAL À COLUNA PRESTES

Outro dia, perto da minha casa, o Chico Ximenes me perguntou: - doutor, o que significa esse negócio de Coluna Prestes? (Referia-se à obra de construção do Memorial da Coluna Prestes, que está erigido entre as praças que ficam defronte a Estação Ferroviária). A interrogação do Chico é a mesma de toda a gente simples, do cidadão comum, do homem do povo: - Por que gastar o dinheiro público com uma obra dessa natureza? Se a nossa população é tão pobre, qual a razão de um investimento desse tipo? Se falta o pão em tantas mesas, não será desperdício realizar dispêndios em ações culturais?

O Titãs, um grupo pop cujas músicas encantam multidões juvenis, nos ensinou em uma de suas composições que “a gente não quer só comida”... Temos aí uma proposição de vida: tanto quanto nos esforçamos na distribuição dos bens materiais, precisamos nos dedicar ao fortalecimento do patrimônio imaterial.

Mais do que em qualquer outra quadra da existência humana, vivemos um tempo histórico que reclama o cuidado com a difusão de valores sublimes. Como a terra sedenta por boas sementes para a germinação saudável, o coração da mocidade é um campo aberto ao desenvolvimento de princípios norteadores de vida. Por que será que, a cada dia, aumenta o número de adolescentes que, em nossas comunas, se lança nas águas turvas e perigosas da marginalidade, da delinqüência, da criminalidade?
Outra razão não vislumbro senão a ausência de referenciais, de modelos a seguir, de exemplos a cultuar. É exatamente aí que emerge a história de Prestes.

Com pouco mais de vinte anos de idade, comandou a terceira maior marcha humana da história do planeta, a Coluna Prestes. Foi exilado. Amargou, durante anos a fio, o isolamento da prisão política. Olga Benário, sua mulher, de origem alemã, após ter dado à luz no pátio de um cárcere, foi decapitada pelos nazistas. Apesar do sacrifício durante toda a vida, manteve a grave dignidade dos grandes, a inquebrantável firmeza de idéias, a serenidade superior de um guerreiro vitorioso. Foi uma torre modelar.

Existem momentos que permanecem vivos, como o fogo ardente ou a água cristalina, no arquivo da nossa memória. Meu primeiro e único encontro com Prestes se insere no contexto desses momentos. Frente a frente, o jovem idealista e o velho combatente, a pujança adolescente e o fulgor rejuvenescido da maturidade. Era o mês de janeiro do ano de lutas de 1983. Para o aniversário comemorar, o “Cavaleiro da Esperança” tinha vindo ao Ceará. Numa quadra do Conjunto José Walter, em Fortaleza, dezenas de artistas, intelectuais, sindicalistas e militantes de esquerda se reuniram para festejar a vida do Comandante. Acompanhado de alguns amigos de Crateús (Chichica e Luizinha Camurça, da Pastoral da Terra; Gabriel e Tarcísia, casal militante do movimento de bairros; e Nery Azevedo, ex-seminarista), assistia às homenagens prestadas por gente talentosa como Taiguara e Patativa do Assaré. De repente, um raio de inspiração desceu sobre o meu cérebro e esculpi um poema para o grande herói militar e político do Brasil no século passado. Começava assim: “Prestes Brasileiro, queria que entre os meus lábios e o teu coração se estendesse agora uma ponte invisível – o rio Poty de Crateús - e que sobre essa ponte deslizasse, brilhando, as ternas palavras que ofereço à tua extensão revolucionária!”. Após a leitura dos versos, o legendário Capitão Luis Carlos Prestes levantou-se, olhou-me firmemente na retina, apertou minha mão com energia carinhosa e disse: - Muito obrigado, meu jovem! A figura carismática do homenageado - duro como uma rocha, indiferente à corrosão do tempo - lançou sobre mim um jato de vitalidade.

Aquela emoção calou fundo na minha alma e na minha poesia. Jamais seria o mesmo desde então. Minha alma ficou mais receptiva aos impulsos da Justiça; minha poesia passou a incorporar, também, um brado contra as injustiças do mundo...

Tenho por mim que esse Memorial, que leva a assinatura reluzente de Oscar Niemeyer, é uma realização que vai não só publicar para o mundo a participação de Crateús num dos movimentos épicos mais importantes da história nacional, mas também despertar a juventude para o mundo idealista dos valores essenciais. É válida essa obra. Merece nosso aplauso.

(Por Júnior Bonfim)

DISCURSO DO PE. GERALDINHO POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO À COLUNA PRESTES. CRATEÚS - CEARÁ - EM 14 DE DEZEMBRO DE 2006


Para entender-se o significado histórico deste monumento a Luis Carlos Prestes e à Coluna Prestes, mister se faz contextua-lo, embora horizontalmente, no amplo mural das grandes marchas, contramarchas e caminhadas da história universal.Isto para explicar que a Inauguração deste monumento |à Coluna Prestes não é um ato restrito a Crateús, à região do Centro-Oeste, ao Ceará, ao Nordeste, à América Latina, ao Brasil, enfim.

Trata-se de um Memorial, plasmado em concreto, mas conectado às sagas dos grandes acontecimentos bélicos universais. Este monumento a Prestes, subtendendo à Coluna, não se insere num microcosmo, mas sim, em macrocosmo. Não é um monumento adistro a Crateús, mas um evento que demarca fronteira...Tem ilação universal. Os monumentos, estátuas, estatuetas e bustos têm raízes - proto - em duas civilizações ancestrais: a Egípcia e a Grega. Todo monumento ou estátua traz um significado transcendental. Como assim, perguntai vós? É que o ser humano tendo vida biológica mensurável criou símbolos a fim de perpetuar-lhe o nome, os feitos, a memória.

A civilização ancestral Egípcia fora a proto nos memorandos de pedra e argamassas cujos exemplos frisantes são as pirâmides de Quéops, Quefrém e Moquerinos. Estas, embora sendo jazidos funerários, objetivavam perenizar a vida humana ad sempre.Eram uns legados aos pósteros para que estes mantivessem as pessoas e as coisas do passado em perene vida. De igual modo, a civilização Grega, ante Cristo, projetou e sacudiu o seu presente, sobretudo no apogeu de Péricles, na execução de estátuas e estatuetas, dando um sentido transcendental à relatividade biológica do homem em seu decesso. O Partenon de Atenas não é simplesmente uma ode às artes, à estética, à escultura, à arquitetura. O é, sim, mas principalmente, uma interação do finito com o infinito, do temporal com o intemporal, do terreal para o além... Numa palavra, os monumentos e estatuários das civilizações Egípcia e Grega cultuaram a memória, a história e hoje nos transportam ao além, ao transcendental... As civilizações Egípcia e Grega nos deram este exemplo.

O monumento à Coluna Prestes, em Crateús, ora inaugurado pelo Governador Lúcio Alcântara, insere-se neste grande leque historiográfico a que fizemos alusão. Este monumento não é redoma no estilo museu. Significa uma referência existencial. De coragem, pujança, de dedicação e de sacrifícios mil. Este monumento, historiograficamente, é comparável, na Idade Antiga, à marcha de Aníbal, partindo de Cartago sobre Roma. Já na Idade Moderna, quanto a mim e respeitando opiniões em contrário, a Coluna Prestes, é a maior marcha de guerra, ultrapassando à Grande Marcha de Mao Tse Tung, na China - de caráter ideológico - mas a Coluna Prestes a suplantou em números de quilómetros e sacrifícios. "(...) Mais de 24 mil Km. percorridos, não parando mais de 48 horas em lugar algum; eram 800 a 1.000 homens; utilizaram 100 mil cavalos; abateram 30.000 reses; morreram perto de 600 soldados e 70 oficiais -dentre estes, 68 caíram em combate; mais de 80% da tropa fora ferida nas refregas; gastaram-se 350.000 tiros, quando só em Iguaçu, em cinco meses, foram disparados mais de dois milhões pelos legalistas: travaram-se 53 combates, dos quais o Diário Nacional deu pormenores de um a um”. (Paulo Nogueira Filho – “Idéias e Lutas de um Burguês Progressista”. Pags. 162/163.)

Prestes, por sua visão de estrategista militar, fora, sem batizar o nome, o criador da guerra de guerrilhas...Antecedeu-se à guerrilha de Fidel Castro, em Sierra Maestra... Seu nome figura, ao lado de brilhantes estrategistas, como Giap. que derrotou os franceses na Argélia e os americanos no Vietnam. Em seu reide fulminante, a Coluna Prestes percorreu 12 estados da Federação, lutando contra as forças do exército, polícias militares, jagunços e ainda tropas paramilitares de latifundiários. Guerreando com escassez de armas, pouca munição, sem reposição de peças, sem fontes de abastecimentos, alimentando-se do que encontrava às margens das estradas, sem serviço médico, onde as cirurgias eram efetuadas in dolorem e a céu aberto aos gritos terrificantes e lascinantes dos pacientes, por falta completa de anestesia... Sem provisão de alimentos e bebendo água suja e toldada dos açudes públicos e poucos, na época, a Coluna Prestes chegou ao Ceará. Sem Juarez Távora, que foi preso em Teresina, e o único oficial cearense da Coluna, os Revoltosos desempenharam uma guerra-relâmpago, - blitzkrieg -, havendo combate somente em Crateús em razão da marcha diversionista a cargo do 2° Destacamento João Alberto, onde a Coluna perdera dois homens - tenente Tarquínio, gaúcho, e Antonio Cabeleira. Eis a motivação histórica porque Crateús fora escolhida para sediar, no Ceará, o monumento à Coluna Prestes.

(Pe. Geraldinho é ex-Vigário de Crateús, historiador, poeta e contista. Um grande mecenas da nossa historiografia, mantendo as expensas do seu trabalho, um Museu Historiográfico, aberto à visitação pública, na cidade de Crateús-CE).

QUEM FOI PRESTES

Luis Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre, no dia 3 de janeiro de 1898. Filho de Antônio Pereira Prestes e Leocádia Felizardo Prestes, professora primária com quem Prestes teve seus primeiros estudos. Era o único homem entre cinco irmãos.

Em maio de 1909, ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Formou-se em Engenharia pela Escola Militar do Realengo em 1919.

Por contrair tifo – doença infecciosa que causa febre e diarréia, caracterizada por perturbações nervosas – não participou do levante do Forte de Copacabana, o primeiro dos três movimentos de tenentes armados contra o governo de Arthur Bernardes em 1922.
Comandou movimento contra o governo chamado de Coluna Prestes, de 1925 a 1927, terminando com Prestes e mais 600 comandados exilados na Bolívia.

Em 1930, tornou-se marxista e rompeu com o tenentismo. Dirigiu o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e lançou a Aliança Nacional Libertadora (ANL).

A volta ao Brasil foi somente em 1935 e de forma clandestina, já casado com Olga Benário, revolucionária alemã.

Depois de um ano no Brasil, em 1936, foi preso pela polícia no subúrbio carioca e condenado a 40 anos de prisão. Olga Benário, presa junto com o marido, foi deportada para Alemanha, onde sofreu tortura e morreu num campo nazista.

Em 1971, exilou-se em Moscou com a família – a segunda esposa, Maria Prestes, com quem se casou em 1950, e os sete filhos.

Morreu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, com leucemia e insuficiência renal, no dia 7 de março de 1990.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

CRÔNICAS DA CIDADE

“RESGATAR O ESSENCIAL”

Júnior Bonfim

Ouvi a frase acima outro dia numa reunião de trabalho. Um colega advogado disse que, neste início de ano, esta era a frase que pretendia colocar no frontispício de sua luta cotidiana. A oração acima me atravessou a mente. Mais: grudou-se em minha alma.

Esta é a primeira crônica que lapido no alvorecer deste 2009. Obviamente, ao sentar para construí-la, me veio a locução do causídico: Resgatar o essencial!

Nestes tempos paradoxais - que alternam simultaneamente momentos de límpidos horizontes e céus nebulosos, em que sobre uma aura de aparente prosperidade desce um raio de imensurável crise – o que nos toca buscar?

Extrair o óleo fino e aromático da árvore vital, recolher a seiva especial das coisas, apalpar a raiz fundamental de tudo. Eis o que, possivelmente, todos deveríamos fazer: colocar na ribalta as lições que essa quadra de inquietação reflexiva nos oferece.

Penso que, por sobre essa instabilidade financeira que atormenta os coletivos humanos de todos os matizes, palpita um desassossego civilizacional alimentado por razões muito mais profundas, cujas luzes só emergirão se nos dispusermos a ver o essencial. Este, à Saint Exupéry, só vemos bem com o coração.

Como abrir, então, as pálpebras delicadas do núcleo que comanda a consciência, sedia os sentimentos e produz as emoções?

Quais os meios para transitar por essa via que destaca o semáforo azul da alegria duradoura?

Comprovado está que, tão importante quanto a saúde mental e/ou emocional, é a saúde espiritual.

O psicólogo pesquisador Lewis Andrews, após dez anos estudando a ligação entre espiritualidade e saúde mental, concluiu que as pessoas que acreditam em Deus e adotam valores espirituais muito fortes são mais felizes, mais sadias e, na maioria dos casos, mais interessadas intelectualmente do que as pessoas que não o fazem.

Segundo o Professor José Emilio Menegatti, “na hipótese de você não ser tão entusiástico, como eu, sobre o valor dos conselhos bíblicos, recomendo que se lembre do seguinte: de acordo com a Revista Fortune, 91% dos executivos-chefes das “500 Maiores” empresas do país aprenderam aparentemente seus valores éticos e morais nas mesmas fontes – na Bíblia e na igreja. Pelo menos todos eles alegaram freqüentar igrejas protestantes, católicas ou sinagogas. Menos de 7% disseram que não tinham religião”.

Na visão do Professor Menegatti, a espiritualidade gera em nós qualidades indispensáveis:

Humildade - Um dos princípios cristãos é a humildade. A razão é simples: a humildade reduz o estresse. As pessoas humildes não acreditam que devam ter todas as respostas; conseqüentemente, não precisam fingir ter essas respostas, o que reduz a ansiedade. Quando a ansiedade diminui, a felicidade aumenta. Esse sentimento certamente melhora os seus relacionamentos. Afinal, ninguém gosta de se relacionar com um sabe-tudo. Com isso, seu número de amigos irá aumentar e sua felicidade também.

Amar ao próximo - “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:29). Ajudar ao próximo por razões puramente altruístas, sem ganhar nada, a não ser o prazer de prestar um favor ou praticar uma boa ação. As pessoas que só pensam em si desconhecem a alegria proporcionada pelo dar. Quem faz as coisas pelos outros sem visar ganho pessoal colhe grandes benefícios.

Saber perdoar - As pessoas que não têm fé quase sempre guardam mágoas, ressentimentos, rancor e amargura em relação aos outros e raramente, ou nunca, têm paz de espírito. A solução para essa situação é o perdão, que é um grande auxiliador para as pessoas espiritualizadas, pois sempre estaremos nos relacionando com pessoas imperfeitas, assim como nós.

Gratidão – agradecer agrada o ser – já disse uma vez. Agradeçamos sempre, porque dádivas recebemos diariamente.

Fortalecimento da fé - Da mesma forma que uma poupança financeira prescinde à realização de um bom empreendimento econômico, a reserva espiritual nos mantém firmes ante as intempéries da vida.

Somos uma construção de totalidade composta de corpo, mente e espírito. Resgatar o essencial é equilibrar essa tríade. Assim, nos tornaremos seres melhores!

(Publicado no Jornal Gazeta do Centro-Oeste de hoje)

OBSERVATÓRIO

OBSERVATÓRIO

Júnior Bonfim


No final da tarde do dia 19 de setembro de 2001, tomei posse como Secretário de Educação de Crateús. O auditório estava lotado. Os professores em luta por melhores condições de trabalho agrupavam-se em torno do MOVE – Movimento dos Educadores – um embrião do Sindicato dos Professores, que logo depois tomaria forma. Uma enorme e agressiva faixa à direita do palco sinalizava o alto índice de tensão que orientava as relações entre os profissionais da educação e o comando da Secretaria. Ao falar, externei o interesse em inaugurar um modelo diferente de relacionamento, pautado no respeito mútuo e na construção de consensos possíveis, abstraindo barganhas e cooptações. Nos meses seguintes, evoluímos para uma saudável e civilizada convivência, onde o diálogo permanente era uma marca.

A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO

Política é, dentre outras, uma arte dialógica. A mais bela das ciências, que trata das questões da polis – ou, pela lição dos gregos, da cidade, da comunidade – a política está diretamente ligada à capacidade de articulação relacional entre representantes e representados. Digo isso a propósito do momento em que vive Crateús. Carlos Felipe é, desde primeiro de janeiro deste ano, o prefeito de todos os crateuenses. Plena de significados, sua ascensão ao topo da municipalidade carregou no alforje da trajetória dois grandes desafios: um de verniz político e outro de natureza administrativa.

O DESAFIO POLÍTICO

Do primeiro se sobressaiu com galhardia. Através de uma costura coligacional bem feita, passou a imagem de que era o “novo” e derrotou as principais lideranças tradicionais do município – que, embora juntas, não estavam unidas e não conseguiram se libertar da atmosfera de saturação. Embora tivesse ingressado na política local através de um partido então dominante, o PSDB, Felipe logo dele se desvencilhou e filiou-se a uma agremiação sem qualquer tradição eleitoral significativa no município, o PCdoB. Daí trabalhou um acerto com outros partidos pequenos e granjeou o apoio do PT, detentor de espaços na máquina estadual e das rédeas do governo federal. Por conseqüência, ganhou o direito de exibir a grife de Lula, o mais popular político do País. Esse bordado, aliado a um vigoroso trabalho pessoal de atendimento eficiente às pessoas, lhe garantiu a mais estupenda vitória da história eleitoral de Crateús.

O DESAFIO ADMINISTRATIVO

Passada a eleição, Felipe passou a lidar com o segundo e mais expressivo desafio da sua vida como político: encarar os problemas administrativos de Crateús e apresentar soluções consistentes. Obter êxito nesse quesito é o obstáculo mais poderoso que deverá transpor. Todos os prefeitos que o antecederam ultimamente, em maior ou menor intensidade, foram também eleitoralmente vitoriosos. Tropeçaram no aspecto administrativo. Qual o caminho, então? Inexiste receita pronta. Como disse o poeta, “o caminho se faz ao caminhar”.

INDICATIVO I

Um indicativo, porém, há que ser colocado: é difícil encontrar um gestor bem-sucedido que tenha obtido sustentabilidade na sua caminhada sem uma boa capacidade de articulação e diálogo. Primeiro, para conseguir a adesão interna, de funcionários e colaboradores. Segundo, para obter apoio externo e viabilizar os grandes projetos de cunho estruturante que o município reclama. Na seqüência, fazer o dever de casa: definir um curso (planejar), afinar o discurso (buscar unidade), alocar bem os recursos (humanos e financeiros) e não desviar o percurso (andar nos trilhos da lei).


INDICATIVO II

A abertura ao diálogo na coisa pública desdobra-se, também, noutra faceta: a aceitação da crítica, que pode ser justa ou injusta. Ouvi, por exemplo, uma observação pertinente: “o prefeito fez uma campanha contra os ex-prefeitos e contra quem não era de Crateús. Hoje, na sua equipe, quem não é de fora esteve ligado aos ex-prefeitos. A única exceção é o Secretário de Agricultura, que confirma a regra”. É óbvio que esse tipo de crítica não pode irritar o gestor. Ele não está errado em nomear pessoas doutros lugares ou que trabalharam em outras gestões, desde que sejam competentes. Equivocado ele estava quando transformou o discurso da aversão às pessoas de fora ou aos ex-gestores em bandeira de campanha. O grande desafio de Crateús não é de separação, mas de superação, que pressupõe união.

INDICATIVO III

A grande questão que se coloca para o Prefeito é: como dar efetividade ao discurso que inflamou de esperança toda uma população?! Que mecanismos vão ser oferecidos ao povo para que este tenha um controle das ações? Como demonstrar que os programas serão transparentes? Quais os instrumentos reais de participação popular?

CÂMARA

No episódio da eleição da Câmara Municipal, o Prefeito saiu chamuscado. Entrou em bola dividida, quando não deveria. Olvidou a lição de Jean Jacques Rousseau: “aquele que governa os homens não deve governar as leis, o que governa as leis não deve também governar os homens”. Quem se sobressaiu foi o vereador Márcio Cavalcante. Agiu habilmente. De ovelha negra do PSDB passou a ser cortejado como o único edil do partido. Dialogou bem com os demais colegas, articulou-se com as cúpulas partidárias e sagrou-se Presidente de novo. Quando imaginavam que seria um político fadado a sentar-se numa cadeira isolada, abiscoitou o principal assento do Legislativo Crateuense. A sua postura independente vai exigir que o Executivo use de muito jogo de cintura para garantir a materialização do princípio da harmonia.


PARA REFLETIR

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. (Voltaire)

(Publicado no Jornal Gazeta do Centro-Oeste de hoje)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

EM 12 DE JANEIRO NASCEU RUBEM BRAGA


"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na
porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem
para não me deixar entrar, ele ficará indeciso
quando eu lhe disser em voz baixa:
"Eu sou lá de Cachoeiro..."

Na noite de segunda-feira, 17 de dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote. Às 23h30 da noite de quarta-feira, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos.

A causa da morte foi uma parada respiratória em conseqüência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem tratar quimicamente.

Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 DE JANEIRO DE 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.
Na capital mineira se casou, em 1936, com Zora Seljan Braga, de quem posteriormente se desquitou, mãe de seu único filho Roberto Braga.

Foi correspondente de guerra do Diário Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em 1945, sendo que lá fez amizade com Joel Silveira. De volta ao Brasil morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro, primeiro numa pensão do Catete, onde foi companheiro de Graciliano Ramos; depois, numa casa no Posto Seis, em Copacabana, e por fim num apartamento na Rua Barão da Torre, em Ipanema.

Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em diversas ocasiões andou se escondendo da repressão.

Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936, quando o autor tinha 22 anos, pela Editora José Olympio. Na crônica-título, escreveu: "A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde." De fato, quase tanto como pelos seus livros, o cronista ficou famoso pelo seu temperamento introspectivo e por gostar da solidão. Como escritor, Rubem Braga teve a característica singular de ser o único autor nacional de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica, um gênero que não é recomendável a quem almeja a posteridade. Certa vez, solicitado pelo amigo Fernando Sabino a fazer uma descrição de si mesmo, declarou: "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento."
Foi com Fernando Sabino e Otto Lara Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a editora Sabiá, responsável pelo lançamento no Brasil de escritores como Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges.

Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a marca registrada dos textos de Rubem Braga é a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza."

A chave para entendermos a popularidade de sua obra, toda ela composta de volumes de crônicas sucessivamente esgotados, foi dada pelo próprio escritor: ele gostava de declarar que um dos versos mais bonitos de Camões ("A grande dor das coisas que passaram") fora escrito apenas com palavras corriqueiras do idioma. Da mesma forma, suas crônicas eram marcadas pela linguagem coloquial e pelas temáticas simples.
Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era funcionário da TV Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou para lá, disse: "O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia isto mantendo um grande apelo popular."

Bibliografia:

CRÔNICAS:

- O Conde e o Passarinho, 1936
- O Morro do Isolamento, 1944
- Com a FEB na Itália, 1945
- Um Pé de Milho, 1948
- O Homem Rouco, 1949
- 50 Crônicas Escolhidas, 1951
- Três Primitivos, 1954
- A Borboleta Amarela, 1955
- A Cidade e a Roça, 1957
- 100 Crônicas Escolhidas, 1958
- Ai de ti, Copacabana, 1960
- O Conde e o Passarinho e O Morro do Isolamento, 1961
- Crônicas de Guerra - Com a FEB na Itália, 1964
- A Cidade e a Roça e Três Primitivos, 1964
- A Traição das Elegantes, 1967
- As Boas Coisas da Vida, 1988
- O Verão e as Mulheres, 1990
- 200 Crônicas Escolhidas
- Casa dos Braga: Memória de Infância (destinado ao público juvenil)
- Uma fada no front
- Histórias do Homem Rouco
- Os melhores contos de Rubem Braga (seleção Davi Arrigucci)
- O Menino e o Tuim
- Recado de Primavera
- Um Cartão de Paris
- Pequena Antologia do Braga

ROMANCES:

- Casa do Braga

ADAPTAÇÕES:

- O Livro de Ouro dos Contos Russos
- Os Melhores Poemas de Casimiro de Abreu (Seleção e Prefácio)
- Coleção Reencontro Audiolivro - Cirano de Bergerac - Edmond Rostand
- Coleção Reencontro: As Aventuras Prodigiosas de Tartarin de Tarascon Alphonse Daudet
- Coleção Reencontro: Os Lusíadas - Luis de Camões (com Edson Braga)

TRADUÇÃO:

Antoine de Saint-Exupéry - Terra dos Homens.

SOBRE O AUTOR:

- Na Cobertura de Rubem Braga - João Castello
- Rubem Braga - Jorge de Sá
- Rubem Braga - Um cigano fazendeiro do ar - Marco Antonio de Carvalho

No volume publicado, também de crônicas, "As Coisas Boas da Vida", em 1988, Rubem Braga enumera, no texto que dá título ao livro "as dez coisas que fazem a vida valer a pena". A última delas: "Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte — o assim chamado descanso eterno".

(Dados obtidos em sítios da Internet, livros do autor e em trabalhos realizados por Luciano Trigo e João Máximo no jornal "O Globo").



QUEM FOI RUBEM BRAGA EM 20 PEQUENAS LIÇÕES

1 - EXCEÇÃO - Há mulheres tão lindas e estranhas que só acontecem pela madrugada em um grande aeroporto internacional.

2 - SILVA - Algumas pessoas importantes usaram e usam o nosso nome. É por engano. Os Silvas somos nós. Não temos a mínima importância. /A família Silva e a família de Tal são a mesma família. / Até as mulheres que não são de família pertencem à família Silva. / Nossa família faz pedra, faz telhas, laça os bois, levanta os prédios, conduz os bondes, o tapete do circo, enche os porões dos navios, dinheiro dos bancos, faz os jornais, serve no Exército e na Marinha. Nossa família é feito Maria Polaca: faz tudo

3 - CALÚNIA - Falar do inferno, por exemplo, é mau. Dante e outros espalharam muitas notícias falsas a respeito, e a pior delas é que para lá vão os culpados.

4 - DEFINIÇÃO - Entendo por vida o fato de um homem viver fumando nos três primeiros bancos e falando ao motorneiro.

5 - ATRAÇÃO - Nunca precisei usar sistematicamente o bonde Praia Vermelha, mas sempre fui simpatizante.

6 - DESENCONTRO - Quando vier a grande hora do nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar café. Vamos. Vamos tornar um cafezinho.

7 - DISCUSSÃO - Discutir com adjetivos é muito fácil.

8 - EGOCÊNTRICA - Ligue para minha casa, pergunte se eu estou, se não estiver diga que já vou, e se estiver diga para eu não sair.

9 - ESCOLHA - Devo confessar preliminarmente que, entre um conde e um passarinho, prefiro um passarinho. (Motivou o rompimento – empregado e patrão – entre Rubem e Chatô. O conde era o multimilionário Matarazzo)

10 - FRUSTRAÇÃO - Não sou cangaceiro por motivos geográficos e mesmo por causa do meu reumatismo.

11 - FÉ - Glória ao padeiro, que acredita no pão.

12 - INTIMIDADE - A gente sempre sabe, de um casal de amigos, um pouco mais do que cada um dos membros do casal imagina.

13 - MADRUGADA PAULISTANA - Boceja na rua o último cidadão que passou a noite inteira fazendo esforço para ser boêmio.

14 - OUTSIDERS - Eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis.

15 - POLIGLOTA - Falo francês como quem cospe pedras.

16 – RISCO - Sempre corro o perigo de cumprimentar efusivamente, quando encontro, de súbito, um desafeto qualquer: antes de me dar conta de quem se trata, eu o saúdo porque é uma cara conhecida.

17 - TESE - Filosofar é, antes de tudo, cuspir.

18 - TENTAÇÃO Nesta varanda alta, sobre os veículos e os transeuntes matinais, tenho a vontade insensata de fazer um discurso.

19 – CONTÁGIO - Devia ser com certeza uma dessas doenças que a gente adquire lendo Seleções e tem um nome tão interessante que dá vontade de mandar botar na cartão de visitas.

20 – DIPLOMACIA - Tomei o partido de falar pouco, beber muito e exprimir os tradicionais laços de amizade que ligam Cachoeiro de Itapemirim à Casa Branca.