sábado, 3 de janeiro de 2009

SABER VIVER


Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar.

(Cora Coralina)

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi uma poetisa e contista brasileira.

Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.
Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, Ana nasceu e foi criada às margens do rio Vermelho, em casa comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança. Estima-se que essa casa foi construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa de Goiás.

Começou a escrever os seus primeiros textos aos quatorze anos de idade, publicando-os nos jornais locais apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, com Mestra Silvina. Publicou nessa fase o seu primeiro conto, Tragédia na Roça.

Casou-se em 1910 com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte, para o interior de São Paulo. Viveria no estado de São Paulo por quarenta e cinco anos, inicialmente nas cidades de Avaré e Jaboticabal, e depois na cidade de São Paulo, para onde se mudaria em 1924. Ao chegar à capital, teve que permanecer algumas semanas trancada num hotel em frente à Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 haviam parado a cidade. Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a praça do Patriarca. Um de seus filhos participou da Revolução Constitucionalista de 1932.

Com a morte do marido, passou a vender livros. Posteriormente mudou-se para Penápolis, no interior do estado, onde passou a produzir e vender lingüiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para Andradina, até que, em 1956, retornou para Goiás.

Ao completar cinqüenta anos de idade, a poetisa relata ter passado por uma profunda transformação interior, a qual definiria mais tarde como "a perda do medo". Nesta fase, deixou de atender pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que escolhera para si muitos anos atrás.
Durante esses anos, Cora não deixou de escrever poemas relacionados com a sua história pessoal, com a cidade em que nascera e com ambiente em que fora criada.

Cora Carolina morreu em Goiânia. A sua casa na Cidade de Goiás foi transformada num museu em homenagem à sua história de vida e produção literária.

CARTA DE ANO BOM



Entre um ano que se vai
E outro que se inicia,
Há sempre nova esperança,
Promessas de Novo Dia...

Considera, meu amigo,
Nesse pequeno intervalo,
Todo o tempo que perdeste
Sem saber aproveitá-lo.

Se o ano que se passou
Foi de amargura sombria,
Nosso Pai Nunca está pobre
Do pão de luz da alegria.

Pensa que o céu não esquece
A mais ínfima criatura,
E espera resignado
O teu quinhão de ventura.

Considera, sobretudo
Que precisas, doravante,
Encher de luz todo o tempo
Da bênção de cada instante.

Sê na oficina do mundo
O mais perfeito aprendiz,
Pois somente no trabalho
Teu ano será feliz.

Não esperes recompensas
Dos bens da vida terrestre,
Mas, volve toda a esperança
A paz do Divino Mestre.

Nas lutas, nunca te esqueça
Deste conceito profundo:
O reino da luz de Cristo
Não reside neste mundo.

Não olhes faltas alheias,
Não julgues o teu irmão,
Vive apenas no trabalho
De tua renovação.

Quem se esforça de verdade
Sabe a prática do bem,
Conhece os próprios deveres
Sem censurar a ninguém.

Ano Novo!... Pede ao Céu
Que te proteja o trabalho,
Que te conceda na fé
O mais sublime agasalho.

Ano Bom!... Deus te abençoe
No esforço que te conduz
Das sombras tristes da Terra
Para as bênçãos de Jesus.

(Pelo Espírito Casimiro Cunha - Psicografia de Chico Xavier)

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

UM ILUMINADO E PACÍFICO ANO NOVO!!!





FELIZ ANO NOVO

FELIZ AÑO NUEVO

FELIZ ANINOVO

FELICE NUOVO ANNO

GLÜCKLICHES NEUES JAHR

NYTAR

FELICIGAN NOVAN JARON

HEUREUSE NOUVELLE ANNÉE

SHANÁ TOVÁ

HAPPY NEW YEAR

AKEMASHITE OMEDETOU GOZAIMASU

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

RECEITA DE ANO NOVO


(Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ORAÇÃO DO JOVEM INQUIETO



Querido Jesus, sou um jovem razoável,
Tão razoável quanto as pedras regulares.
Isto me desagrada. Não aceito este destino.

Quero, Senhor, mãos fraternais, voz penetrante, olhos atraentes,
Mente luminosa, raízes profundas, espírito novo, corpo pascal!

Quero que em meu punho fechado brilhe
A força pura para atravessar o tempo escuro,
A coragem ardente para romper os tabus.

Quero que a minha linguagem
Seja cortante como as facas,
Partindo no meio as contradições
E revelando a essência da vida.

Menino Jesus, quero que meus olhos
Derramem uma ternura tão vasta quanto o Oceano,
Porque os pobres são inumeráveis.
E eles precisam muito de ternura.

Poeta do Pai, que no céu dos meus pensamentos
Voe o Pássaro Sagrado do Evangelho,
Cantando a profunda canção do firme amor.

Árvore da vida, que minhas raízes
Perfurem o chão da vida dos Oprimidos,
Que suba em meu caule a seiva nova do combate,
A valente esperança prá resistência,
E que em plena batalha
No jardim do meu coração brotem flores,
Flores azuis de liberdade,
Rosas vermelhas de revolução!

(Júnior Bonfim, in Poesias Adolescentes e Maduras)

domingo, 28 de dezembro de 2008

HOJE É O DIA DO ANIVERSÁRIO DE RIO BRANCO, CAPITAL DO ACRE








A mais populosa cidade do Acre (com mais da metade da população do Estado) foi fundada em 28 de dezembro de 1882 pelo cearense Neutel de Maia. A princípio o lugar recebeu o nome de Seringal Empresa e, em 1904, elevou-se à categoria de vila, ao tornar-se sede do departamento do Alto Acre.

Em 1909, seu nome foi mudado para Penapólis, em homenagem ao então presidente Afonso Pena, para em 1912 receber definitivamente a denominação de Rio Branco, numa forma de homenagear o chanceler brasileiro Barão do Rio Branco.

Tornou-se município no ano de 1913 e em 1920, capital do território do Acre. Em 1962, é elevada à posição de capital do estado.

Cortada pelo rio Acre, que divide a cidade em duas partes – 1o e 2o distritos – Rio Branco é hoje o centro administrativo, econômico e cultural da região.

ÀS MARGENS DO RIO ACRE

Rio Branco foi uma das primeiras cidades a surgir às margens do rio Acre – margem direita especificamente. Conta a lenda que, em fins de 1882, uma frondosa árvore, a Gameleira, chamou de tal forma a atenção de exploradores que navegavam pelo rio, que eles resolveram abrir novos seringais por ali.

Aquela mesma Gameleira, que viria a ser testemunha da luta entre revolucionários acreanos e tropas bolivianas, presenciou também o fim da disputa, que tornou o Acre parte do Brasil, no início do século XX.

Com a ação diplomática do chanceler brasileiro, Barão do Rio Branco, resultando na assinatura do Tratado de Petrópolis, a recém chamada “Villa Rio Branco” firmou-se como o principal centro urbano de todo o vale: o mais rico e produtivo do território do Acre.

AS DUAS MARGENS

A rua surgida a partir da Gameleira, na margem direita do rio Acre, era o centro da vida comercial e urbana, onde se encontravam bares, cafés, cassinos e os principais representantes do comércio em geral, como também as famílias da elite, formada por profissionais liberais e funcionários públicos.

Com o tempo, a administração política do território foi sendo transferida para a margem esquerda do rio, mais alta e sem inundação. Mesmo assim, a direita permanecia como pólo comercial da cidade.

Foi a partir da década de 50 que a margem direita passou a viver um processo de decadência econômica, passando a ser chamada de 2o distrito, enquanto a margem esquerda (1o distrito) atraiu cada vez mais para si as casas comerciais, as principais repartições públicas e as famílias mais importantes do lugar.

PONTOS TURÍSTICOS

Horto florestal – possui algumas espécies da flora amazônica, além de um lago de 50 metros de extensão e locais para piqueniques. Ambiente bucólico numa área de 17 hectares.

Parque Ambiental Chico Mendes – 52 hectares de floresta e lazer. Metade do parque é de vegetação exuberante e fauna diversificada. A outra parte é composta de equipamentos adequados de diversão e turismo. Na floresta, as trilhas são ideais para uma relaxante caminhada.

Parque Zoobotânico – o parque fica no Campus da Universidade Federal do Acre/UFAC e desenvolve inúmeras atividades voltadas para o estudo, manejo, preservação e reposição de fauna e flora regionais. Contém, além de um trecho de floresta virgem, diversas espécies vegetais da floresta tropical.

Rio Acre – nasce no Peru, desemboca no Rio Purus (Amazonas) e banha a cidade de Rio Branco, dividindo-a em dois distritos. Suas águas barrentas e piscosas são propícias para banhos e esportes náuticos no período que vai de julho a setembro. Ao longo do seu curso, formam-se nessa época várias praias, como a Praia do Amapá e a Praia do Riozinho do Rolo, entre outras.

Parque Capitão Ciríaco – localizado no 2o distrito de Rio Branco, o parque tem dezenas de seringueiras nativas e espécies da flora amazônica. É bastante visitado pela comunidade local.

(Fonte: www.ibge.br)

OS ESTATUTOS DO HOMEM

Em louvor à Amazônia, posto hoje este poema de um cantor tão amplo quanto o Rio Amazonas.

O poeta Amadeu Thiago de Mello, nasceu em 30/3/1926, na cidade de Barreirinha, Amazonas. Foi preso político e exilado no Chile, quando escreveu "Estatutos do Homem". Traduziu Pablo Neruda, Ernesto Cardenal, Cesar Vallejo, Nícolás Guillén. Prêmio Jabuti 2001 com "Campo de Milagres".

O poema "Os Estatutos do Homem" se consagrou como um dos mais famosos da literatura brasileira. O grande poeta chileno Pablo Neruda - profundamente comovido pelos Estatutos, traduziu-os de maneira única e maravilhosa.

Esta poesia é uma afirmação dos valores eternos do homem, da fé no amanhã, da confiança na alegria, da vocação pela paz.

É prá ler, internalizar e praticar!



OS ESTATUTOS DO HOMEM (ATO INSTITUCIONAL PERMANENTE)
A Carlos Heitor Cony


Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:

O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


Thiago de Mello em Santiago do Chile, abril de 1964