sábado, 13 de dezembro de 2008

ANA NÉRI



Hoje Ana Néri faria aniversário.

Ana Justina Ferreira Nery (Cachoeira, 13 de dezembro de 1814 — Rio de Janeiro, 20 de maio de 1880) foi uma enfermeira brasileira e foi a pioneira brasileira da enfermagem.

Era filha de José Ferreira de Jesus e de Luísa Maria das Virgens. Casou-se com capitão-de-fragata Isidoro Antônio Nery (1837). O marido morreu em 1843, deixando-a com três filhos: Justiniano, Antônio Pedro e Isidoro Antônio Nery Filho. Dois filhos eram oficiais do Exército.

Ao irromper a Guerra do Paraguai (dezembro de 1864), seguiram ambos para o campo de luta. Ana requereu ao presidente da província da Bahia, conselheiro Manuel Pinho de Sousa Dantas, lhe fôsse facultado acompanhar os filhos e o irmão (major Maurício Ferreira) durante a guerra, ou ao menos prestar serviços nos hospitais do Rio Grande do Sul. Deferido o pedido, partiu de Salvador incorporada ao decímo batalhão de voluntários (agosto de 1865), na qualidade de enfermeira.

Durante toda a campanha, prestou serviços ininterruptos nos hospitais militares de Salto, Corrientes, Humaitá e Assunção, bem como nos hospitais da frente de operações. Viu morrer na luta um de seus filhos e, terminada a guerra, regressou à sua cidade natal, onde lhe foram prestadas grandes homenagens. O governo imperial conferiu-lhe a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe. Faleceu no Rio de Janeiro aos 66 anos de idade.

Em sua homenagem foi denominada, em 1923, Ana Nery, a primeira escola oficial brasileira de enfermagem de alto padrão.

Em 1938, Getúlio Vargas, assinou o decreto nº 2.956, que instituía o "Dia do Enfermeiro", a ser celebrado a 12 de maio, devendo nesta data ser prestadas homenagens especiais à memória de Ana Nery, em todos os hospitais e escolas de enfermagem do País.

PUNIÇÃO PARA O DELEGADO



NUNCA VI NA MINHA VIDA
DELEGADO SER PUNIDO
PORQUE PRENDEU GENTE POBRE
NADA OBSTANTE BANDIDO
MAS COM RICO ACONTECEU
DEPOIS QUE SE REVERTEU
CASO SÉRIO EM ALARIDO
NA OPERAÇÃO SATIAGRAHA
DA POLÍCIA FEDERAL
PRENDERAM UM PEIXE GRAUDO
UM MENSAGEIRO DO MAL
O MUNDO QUASE ACABOU
E O HOMEM QUE INVESTIGOU
É O ÚNICO MARGINAL
QUEM ANTES ERA ACUSADO
HOJE ACUSA O DELEGADO
GANHOU SÚMULA VINCULANTE
PRA NÃO SER MAIS ALGEMADO
ESTOU PAGANDO PRA VER
O “TER” SUPLANTANDO O “SER”
NESSE CASO MAL CONTADO
PESA SOBRE O DELEGADO
CRIME DE USURPAÇÃO
VIOLAÇÃO DE SIGILO
E DE PREVARICAÇÃO
SÓ FALTA AGORA ACUSÁ-LO
QUE TUDO QUE AQUI FALO
É DELE EM INSPIRAÇÃO
NESSA INVERSÃO DE CONDUTA
JÁ VEJO DOIS CONDENADOS
O JUIZ, FAUSTO DE SANCTIS
E PROTÓGENES, O DELEGADO
VEZ QUE O ASTUTO BANQUEIRO
VAI GASTAR UM BOM DINHEIRO
MAS NÃO VAI SER ENJAULADO
TUDO INDICA QUE PROTÓGENES
É O PRIMEIRO CULPADO
JUNTO COM O JUIZ DE SANCTIS
DEVE SER SACRIFICADO
ATÉ POR QUE DANIEL
SÓ NÃO VAI ENTRAR NO CÉU
MAS VAI SER CANONIZADO
A JUSTIÇA, EMBORA CEGA
ENXERGOU ARGUEIRO EM RICO
SOPROU O OLHO DO MAL
TIROU TUDO QUANTO É CISCO
O SUPREMO DECIDIU A FAVOR DO BOM LADRÃO
MAS UM VOTO DE RAZÃO ECOOU LÁ POVÃO
O MINISTRO MARCO AURÉLIO FOI A ÚNICA DISSENSÃO
MAS O ESPÍRITO DE CORPO COROU ATÉ QUEM TÁ MORTO
DE TANTA DECEPÇÃO.

(Autor: Edmar Melo)

(Enviado por César Vale)

PARA REFLETIR

Não julgues nada pela pequenez dos começos. Uma vez fizeram-me notar que não se distinguem pelo tamanho as sementes que darão ervas anuais das que vão produzir árvores centenárias.

(Josemaría Escrivá)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

BRASÍLIA I



Estou em Brasília. Transcrevo a última crônica que escrevi sobre esta terra extraordinária.

Eí-la:

A Capital da República sempre me causou fascínio e encantamento. Toda vez que visito aquela Urbe fico deslumbrado com o ímpeto operativo do engenho humano. Saber que, há poucas décadas atrás, aquilo era só um imenso e semi-inóspito cerrado e hoje é uma das metrópoles com melhor qualidade de vida do planeta, é algo extraordinário. Quando lá residia, escrevi um poema que começa assim: Brasília me faz meditar/ sobre o esplendor da construção/ Ah! Como é belo construir/ erguer edifícios, belezas/ casas, prédios, pontes de amor. / (Um prédio bem construído/ é como uma mulher de linhas perfeitas).

Confesso que meus pêlos ficam arrepiados quando releio a célebre profecia de Juscelino Kubitschek: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.

À época, a mudança da sede do Distrito Federal do Rio de Janeiro para o centro do País representou um divisor de águas, uma indelével decisão histórica, um rasgo no horizonte do País.

Ali se vislumbra mais que um empreendimento físico ou uma obra de concreto armado. Como bem assinalou o próprio JK, “Brasília é a manifestação inequívoca de fé na capacidade realizadora dos brasileiros, triunfo de espírito pioneiro, prova de confiança na grandeza deste país, ruptura completa com a rotina”.

É exatamente disso que a nossa cidade está carecendo. Mergulhada no marasmo, entregue à letargia, Crateús amarga um momento de enorme desencanto.

Outro dia um sindicalista desabafava comigo: Está difícil entendermos essa situação. Temos uma administração que supera o pior período da gestão passada. Não se mensura uma área que prime pela excelência nas ações. Mas todo mundo está calado. Ninguém vê uma voz se erguer para noticiar a indignação popular. É lamentável.

Venho reiterando por estas linhas e não me cansarei de insistir: Crateús precisa superar a visão tacanha, o espírito medíocre, o pensamento menor.

É inadmissível que este lugar, que já hospedou em seu coração ícones da inteligência progressista nacional, que já erigiu templos de resistência ao arbítrio, que já foi farol de iluminação de veredas libertárias, agora se renda à inércia, à inapetência, ao descaso, ao retrocesso.

Como nos idos da construção de Brasília, quando uma saudável sinergia de otimismo e autoconfiança contaminava a todos, precisamos fazer com que cada crateuense recobre o sentimento de indignação com as mazelas e dê vazão aos alvissareiros sentimentos do empreendedorismo, da justiça social e bem-estar coletivo.

(Júnior Bonfim, in Amores e Clamores da Cidade)

BRASÍLIA II



Aqui em Brasília participei dos eventos relacionados à posse do cearense Ubiratan Aguiar na Presidência do Tribunal de Contas da União, uma das mais concorridas solenidades da história do TCU.

Cearenses de todos os quadrantes do nosso estado acorreram à Capital da República para prestigiar a posse de Ubiratan.

Para mim, foi mais um momento especial esta cidade em que morei nos anos de 1987 e 1988. Tive a oportunidade de rever vários amigos, dentre eles um irmão de adolescência e militância popular, o hoje senador pelo Pará José Neri Azevedo, único representante do PSOL no Senado da República.

Os ministros Ubiratan Aguiar e Benjamin Zymler foram empossados presidente e vice-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), na manhã de ontem. Eles foram eleitos no último dia 3 para mandato de 1 ano, que pode ser renovado. Compuseram a mesa da cerimônia o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; o vice-presidente José Alencar; os presidentes do Senado Federal, Garibaldi Alves Filho; da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia; do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes; e os governadores do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e do Ceará, Cid Ferreira Gomes, além do atual presidente do TCU, ministro Walton Alencar Rodrigues, e do procurador-geral do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Rocha Furtado.

Estiveram presentes na solenidade os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, da Previdência Social, José Pimentel, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, das Cidades, Márcio Fortes, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Jorge Armando Felix, do Controle e da Transparência, Jorge Hage Sobrinho, de Relações Institucionais, José Múcio, além do advogado-geral da União, José Antônio Toffoli. A solenidade contou, ainda, com a presença dos governadores da Banhia, Jaques Wagner, de Minas Gerais, Aécio Neves, do Piauí, Wellington Dias, do Espírito Santo, Paulo César Hartung, de Sergipe, Marcelo Déda, de Alagoas, Totonio Vilela Filho, do Tocantins, Marcelo de Carvalho Miranda, e da Paraíba, Cássio Cunha Lima. A cerimônia contou também com a presença de parlamentares, ministros, conselheiros de TCEs e TCMs, além de dirigentes e servidores do TCU, entre outras autoridades.

Durante o seu discurso, o novo presidente do TCU agradeceu aos ministros, membros do Ministério Público e servidores do tribunal pelo apoio, confiança e aprendizado que lhe proporcionaram. Segundo ele, os oito anos passados desde sua nomeação para o cargo de ministro servirão como base para sua administração. “De todos, ouvi relatos e experiências. Aprendi, dessa forma, muito mais a respeito dos assuntos ligados à nossa instituição. Brindaram-me com idéias e sugestões, cuidadosamente anotadas, pensadas e discutidas, diversas das quais pretendo implementar”, afirmou.

O ministro Ubiratan Aguiar disse também que será um defensor da construção de pontes institucionais em sua gestão. Para ele, é fundamental que os órgãos públicos atuem em parceria contra o desperdício do dinheiro público e a corrupção. “O sucesso das diversas instituições públicas somente será pleno se acreditarmos, todos, em um mesmo projeto. É importante que as altas autoridades aqui presentes ou representadas vejam o Tribunal de Contas da União como um aliado e percebam nossas ações como oportunidades de melhoria”, ressaltou.

Aguiar destacou ainda que será uma tarefa árdua suceder o atual presidente, ministro Walton Alencar Rodrigues, e acrescentou: “Sua excelência soube, como poucos, fomentar um processo abrangente de rediscussão de nossa instituição, cujos resultados começam agora a florescer”. Após cumprimentar o novo presidente, o ministro Walton Rodrigues agradeceu as palavras e parabenizou os dois novos gestores do TCU para o ano de 2009, por seus esforços e lutas. “Ambos são merecedores das homenagens desta casa, o destino do controle externo está em boas mãos”, disse.

Ele lembrou os desafios que o TCU enfrenta na busca pela transparência nos gastos públicos e os esforços empreendidos para cumprir a missão do tribunal. “A todo tempo o TCU buscou mostrar ser parceiro das instituições públicas. É nosso dever auxiliá-las para que elas atinjam os objetivos que lhe foram atribuídos”, finalizou. O ministro Marcos Vilaça e o procurador-geral do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Rocha Furtado, também parabenizaram os ministros empossados e desejaram sucesso à nova gestão. “Que sua gestão seja resplandecente como o sol da nossa terra-natal”, disse o procurador cearense.

O ministro Ubiratan Aguiar nasceu no município de Cedro (CE), em 7 de setembro de 1941. Ele é formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Já foi vereador, deputado estadual e federal, além de secretário da educação do seu estado de origem. Aguiar faz parte da Corte de Contas desde maio de 2001, e estará à frente da presidência do TCU nos próximos doze meses.


(Fonte: TCU)

DISCURSO DE POSSE DO MINISTRO UBIRATAN AGUIAR



Há aproximadamente oito anos cheguei a este Plenário pela vez primeira, por ocasião de minha posse como Ministro do Tribunal de Contas da União. Na oportunidade, fui saudado pelo eminente Ministro Valmir Campelo, que em suas palavras destacou o papel da Corte de Contas no contexto das mudanças a que estavam sendo submetidas as instituições públicas naquele momento em que se rediscutia o papel do Estado.

Pensei ter compreendido a amplitude da questão que me fora então colocada. No entanto, não via eu, à época, senão um esboço dos enormes desafios e responsabilidades que me aguardavam. Atuar como guardião do controle externo de um país superlativo como o Brasil é tarefa das mais complexas, como logo pude perceber.

Procurei, nesses anos, vencer os desafios que me foram apresentados seguindo os princípios que me guiaram ao longo de toda vida.

Sou cearense, natural do Cedro. Cunhei minha personalidade a partir do amor familiar e das dificuldades inerentes ao homem pobre do nordeste do Brasil.

Do amor, extraí a poesia, que transforma em belo tudo que se me apresenta e transmuta o cotidiano em uma jornada de permanentes emoções.

Da pobreza, adquiri o hábito do trabalho incessante, que iniciei já aos quatorze anos para auxiliar no sustento da casa.

Da conjugação do carinho que sempre se fez presente e da dura realidade da vida ao meu redor, resultou o ambiente ideal para que prosperasse minha formação humanista, traço característico de minha personalidade.

Vi e vivi o sofrimento de tantos conterrâneos, gente simples que carrega consigo pouco mais de uma refeição por dia e uma bagagem de esperanças de uma vida melhor, que na maioria das vezes não vem. Desse tempo, trago comigo uma frase de Gabriel Garcia Marques que diz: “um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”.

Como humanista que me defino, pautei minha vida pelos direitos fundamentais, expressos primeiramente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas no ano de 1948, coincidentemente também no dia dez de dezembro.

Aliás, quis o Criador que a teia do destino por ele traçada fizesse com que esta minha cerimônia de posse ocorresse no dia dez de dezembro, tão significativo para a humanidade e, em particular, para mim mesmo. Além da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi em dez de dezembro de 1964 que Martin Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz, tornando-se a pessoa mais jovem a merecer tal distinção. O mesmo Nobel da Paz foi entregue, novamente em dez de dezembro – desta feita em 1984 –, ao bispo Desmond Tutu, da África do Sul, por sua proposta de uma sociedade democrática, justa e sem divisões raciais em seu país.

Doze anos mais tarde, também em dez de dezembro, Nelson Mandela assinou uma nova Constituição e pôs fim ao regime racista do Apartheid na África do Sul.

E, por fim, há exatos dez anos, o escritor português José Saramago, gênio do idioma pátrio, recebeu o Prêmio Nobel da Literatura, pela primeira vez concedido a um autor de língua portuguesa.

Deus não poderia ter sido mais generoso ao brindar-me com esta data.

Militei na política por diversos anos. Iniciei meus passos como Presidente do Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, vindo a eleger-me vereador, deputado estadual e federal.

Paralelamente, exerci, por alguns períodos, a função de Secretário de Administração Municipal de Fortaleza e Secretário Estadual de Educação do Ceará, área de minha paixão, à qual dediquei alguns de meus melhores esforços.

O ápice de meu contentamento, na vida política, foi a assinatura da Carta Constitucional de 1988, que reinseriu o Brasil nos rumos da democracia e contemplou diversos dos princípios declarados pela Organização das Nações Unidas naquele dez de dezembro de 1948.

Em meus dias de deputado constituinte, tive a singular oportunidade, juntamente com colegas da maior expressão como Florestan Fernandes, João Calmon, Otávio Elísio, Artur da Távola e Jorge Hage, dentre tantos outros, de escrever o Capítulo da Educação e Cultura de nossa Lei Maior.

Ao longo destes anos vividos no Tribunal de Contas da União, busquei aprender. Deliciei-me com as observações argutas de Marcos Vilaça; bebi da enorme prática administrativa de Valmir Campelo; espanquei minhas dúvidas com os ensinamentos jurídicos de Walton Rodrigues e Benjamin Zymler; revigorei-me com a energia e vivência de Augusto Nardes, Aroldo Cedraz e Raimundo Carreiro; ouvi atento à boa técnica sempre ensinada pelos Auditores Augusto Sherman, Marcos Bemquerer e André Carvalho; dediquei-me a bem compreender as sensatas ponderações dos membros do Ministério Público, chefiado de forma competente por seu Procurador-Geral Lucas Furtado. Isso sem mencionar as lições extraídas do convívio com outros expoentes que me foram contemporâneos neste Plenário e que hoje nos honram como Ministros e Auditores eméritos: Humberto Souto, Adylson Mota, Guilherme Palmeira, José Antônio Barreto de Macedo e Lincoln Magalhães da Rocha. Sem esquecer, ainda, a genialidade de Bento Bugarin, que já não mais se encontra entre nós.
Também muito aprendi com os servidores da Instituição, os quais fiz questão de conhecer de perto, de forma que posso, hoje, testemunhar de sua elevada competência e engajamento profissional.

De todos, ouvi relatos e experiências. Aprendi, dessa forma, muito mais a respeito dos assuntos ligados a nossa Instituição. Brindaram-me com idéias e sugestões, cuidadosamente anotadas, pensadas e discutidas, diversas das quais pretendo implementar.

De todo o aprendizado colhido, restou a certeza de que os sucessos inerentes à administração privada podem ser, também, corriqueiros no âmbito do setor público, desde que este, a exemplo daquela, confira aos mecanismos de controle a importância que lhes é devida, seja como meio de avaliar seu produto final ou o próprio desempenho e qualidade de seu pessoal.

Hoje sinto, ao chegar à Presidência do Tribunal de Contas da União, um misto de contentamento e apreensão. Um dualismo caracterizado, por um lado, pela satisfação de poder servir e por capitanear um dinamismo organizacional no qual verdadeiramente acredito; em outro prisma, tenho, no entanto, a certeza de que as demandas que são dirigidas a esta Corte superam em muito a capacidade operacional da instituição e gozo da convicção de que as ações de controle externo nem sempre são devidamente compreendidas pelos gestores públicos.

Esta é a Casa que por conhecê-la aprendi a amá-la para tornar-me cativo e servo de sua missão, parafraseando a poética de Exupery. Esta é a Casa à qual se assentam as palavras de Paulo Freire: “Não há saber menor ou saber maior, há saberes diferentes”. Na beleza da heterogeneidade é que construímos decisões homogêneas, equilibradas, oferecendo à sociedade, como resultado, o cumprimento da missão constitucional que nos foi dada para exercitar tecnicamente o controle externo.

A história deste órgão mais que centenário demonstra que não foram poucas as vezes em que o descontentamento de alguns incomodados tentou silenciar o ideário de Rui Barbosa. A instituição, todavia, nunca sucumbiu. Serzedello Corrêa e tantos outros que o sucederam mantiveram vivo o ideal republicano da existência de um órgão de controle livre e autônomo, com jurisdição sob os atos e fatos administrativos praticados pelos integrantes dos três poderes da União, sem a nenhum deles se subordinar.

Não buscamos, no Tribunal de Contas da União, os holofotes da mídia.

Temos todos os Ministros a convicção de que do TCU são esperados trabalhos calcados em sólidos elementos técnicos, em boas fundamentações jurídicas e em adequadas percepções da relevância sócio-econômica das questões discutidas. É para isso que existimos e são essas as bandeiras que irei defender.

Busco a serenidade nos relacionamentos institucionais, sem que isso signifique o abandono da defesa das causas e pontos de vista que são próprios do TCU.

Do mesmo modo, atuarei com firmeza no combate à má utilização dos recursos públicos, mormente ante a escassez que deverá decorrer da crise mundial que se avizinha.

Na condução das atividades do Tribunal de Contas da União, serei ferrenho defensor da construção de pontes institucionais. Solitários, somos todos pequenos e impotentes. Solidários, multiplicamos nossas ações e adquirimos condições de exponencializar resultados.
A divisão de poderes de Montesquieu, viva em nosso ordenamento jurídico, não implica na existência de lados antagônicos, mas de faces diferentes de uma mesma construção. Os três poderes, harmônicos, são como os lados de uma pirâmide que se amparam mutuamente. Se um deles ruir, desabam também os outros dois e a pirâmide inteira se desfaz.

Independência não significa exclusão. O Poder Legislativo executa e julga; o Executivo julga e legisla; o Judiciário executa e legisla. As funções preponderantes de cada um são, no dia-a-dia, conciliadas com outras acessórias que lhes são necessárias.

Dentro desse contexto vejo o Tribunal de Contas da União, trabalhando de forma harmônica com os órgãos e entidades da pública administração em prol da busca da qualidade dos serviços públicos, quer mediante o aprimoramento dos processos operacionais de cada área ou pela detecção das ilegalidades que minam o estado democrático de direito que nos prestamos, todos, a defender.

O Tribunal de Contas da União oferece toda a expertise acumulada aos órgãos e entidades que lhe são jurisdicionados, com a marca da impessoalidade, economicidade e transparência.

Da integração pretendida, almejo conferir especial atenção à formação de uma rede de controle que seja capaz de integrar os diversos órgãos públicos que atuam, direta ou indiretamente, nas diferentes áreas de fiscalização. Parcerias com a Controladoria-Geral da União e os órgãos de controle interno dos poderes Legislativo e Judiciário são consideradas fundamentais, assim como também com os Tribunais de Contas estaduais e municipais.

A troca de informações com o Ministério Público, a Receita Federal, o COAF e o Banco Central do Brasil, dentre tantos outros órgãos, não pode ser vista como algo inusitado, sujeito a interpretações legais as mais restritivas. Afinal, somente àqueles que atuam contra o Poder Público interessam as restrições que nós mesmos nos impomos.

Como disse Antoine de Saint – Exupéry,

“Na vida, não existem soluções. Existem forças em marcha: é preciso criá-las e, então, a elas seguem-se as soluções.”

Criemos essas forças com a reunião de nossos esforços e as soluções às nossas dúvidas e angústias se apresentarão.

Como educador que sempre fui, vejo com muita propriedade o exemplo dos Presidentes que me antecederam na importância conferida ao papel pedagógico desempenhado pelo Tribunal de Contas da União, atuando na formação dos gestores públicos ou colaborando com órgãos congêneres, mediante o repasse de técnicas de auditoria e de outras ferramentas que já se incorporaram ao nosso modus operandi.

O sucesso das diversas instituições públicas somente será pleno se acreditarmos, todos, em um mesmo projeto. É importante que as altas autoridades aqui hoje presentes ou representadas vejam o Tribunal de Contas da União como um aliado e percebam nossas ações como oportunidades de melhoria.

Para exemplificar a relevância das atividades desenvolvidas nesta Casa, no ano de 2007 os benefícios financeiros diretos relacionados à atuação do TCU chegaram à cifra de R$ 5,5 bilhões. A atuação prévia deste Tribunal, mediante a expedição de medidas cautelares tendentes a resguardar o erário, envolveram, naquele ano de 2007, R$ 7,9 bilhões. Neste ano de 2008, apenas os trabalhos relacionados à área de energia resultarão em uma economia para os cofres públicos e consumidores da ordem de R$ 3,7 bilhões.

Os exemplos existem em abundância. Os resultados apresentados pelo Tribunal de Contas da União não podem ser desprezados ou relegados a um patamar inferior.

É importante que o Poder Legislativo seja um permanente usuário de nossos serviços e informações. É desejável que o Poder Executivo, grande braço encarregado da implementação das políticas públicas, recolha as orientações e determinações expedidas pela Corte de Contas como contribuição para aperfeiçoar a res pública. É fundamental que o Poder Judiciário, do qual não escapa a apreciação de lesão ou ameaça a direito, bem conheça este nosso Tribunal, com suas competências próprias e privativas e seus ritos processuais por vezes diferenciados.

Ilustres autoridades que prestigiam a esta cerimônia e que me honram com suas presenças, Jean-Paul Sartre dizia que “o homem tem de se inventar todos os dias”. Assim também são as instituições: para que sejam perenes precisam estar em constante processo de reinvenção.

Neste mister, suceder ao Ministro Walton Alencar Rodrigues será tarefa das mais árduas. Sua Excelência soube, como poucos, fomentar um processo abrangente de rediscussão de nossa instituição, cujos resultados começam agora a florescer. Recebo de sua gestão estudos compondo um portfólio de sugestões que representam inestimável contribuição ao controle externo.

Ministro Walton, congratulo-o pelo excelente trabalho desenvolvido ao longo de sua gestão.

Sei que tenho, neste Tribunal, fama de irrequieto. Agito-me quando vejo prazos descumpridos, solicito a realização de tarefas simultâneas daqueles que comigo trabalham, tenho o telefone como um aliado e o uso por todo o tempo... não deixo, enfim, para amanhã o que posso fazer no dia de hoje.

Esse é meu estilo de vida e será, provavelmente, meu estilo de administrar: com diálogo, assertividade, abertura, trabalho, trabalho... e trabalho, pois como dizia Charles Chaplin, “o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é o dicionário”

Terei ao meu lado, nesta difícil missão, a serenidade, o equilíbrio, a competência e a disponibilidade em servir do eminente Vice-Presidente, Ministro Benjamim Zymler, com quem pretendo compartilhar muitas de minhas apreensões e dividir os eventuais êxitos que me sejam atribuídos.

Senhoras e Senhores,

Não poderia encerrar minhas palavras, sem antes fazer agradecimentos mais que devidos, merecidos.

A Marcos Vilaça, que me saúda e maneja a palavra com generosidade revelando como conjuga lições de construção fraterna, no curso da vida material, com a imortalidade do espírito, donde retira os fios para bordar as letras e gravá-las no coração de cada um de nós.

Ao dileto amigo Lucas Furtado, Procurador-Geral junto a esta Corte, que nos conceitos emitidos a meu respeito traz o registro do carinho da conterraneidade e oportuniza a todos nós a satisfação com seu retorno ao nosso convívio.

A minha mãe e irmãos, por sua presença constante e incentivo incondicional.

À minha mulher, companheira não apenas dos bons momentos, mas fonte de inspiração para que eu perseverasse em dias mais difíceis.

Às minhas filhas, genros e netos, pela alegria de seu convívio, remanso onde recarrego minhas energias e encho de júbilo meu coração.

Ao povo cearense, a quem tanto devo e hoje presente a esta solenidade pelo que há de mais representativo, a expressão maior da minha gratidão.

Aos amigos, de quem sempre recebi apoio, estímulo e solidariedade, a certeza de que suas presenças em minha vida foram decisivas para fazer a difícil travessia das estações do tempo.

Por fim, dedico o dia de hoje à memória de meu pai, referência primeira em minha vida e paradigma para a formação de meu caráter.

Obrigado a todos e que Deus me abençoe e auxilie nesta nova jornada.

DISCURSO DE MARCOS VILAÇA



Primeiramente ofereço agradecimento. O TCU é reconhecido ao que nos legou a Presidência de Walton Alencar Rodrigues. Inovação, altivez, respeito à tradição são ingredientes que manejou com habilidade de um homem prudente e determinado.

Recolhemos o que nos deu em dois anos férteis de inventividade, no plano tecnológico e na vertente patrimonial.

Seus colegas querem lhe dar um categórico muito obrigado. Todo o TCU lhe rende loas e põe uma rosa nas mãos de Isabel, sua esposa, pelo suporte familiar garantidor da sua tranqüilidade para o trabalho.

Como dizem os jovens, valeu, Presidente Walton.

Agora, falo para o outro Presidente, Ubiratan Aguiar,

Tenho a intenção de evitar o uso de palavras que considero cansadas, com perda de substância, anêmicas porque esvaziadas na gastança do dizer, perdidas do viço da validade.

Das árvores pintadas, as folhas não caem, nem os brotos frutificam.

O novo Presidente, os Ministros, a ilustre platéia que nos honra com a sua presença, não carecem de que eu fale do significado da Corte. Todos sabem o que definiu Rui Barbosa: Tribunal de Contas é “corpo de magistratura intermediária à Administração e à Legislatura” e que, “colocado em posição autônoma, com atribuições de revisão e julgamento, cercado de garantias contra quaisquer ameaças”, deve “exercer as suas funções vitais no organismo constitucional.”

Rui Barbosa disse tudo e o essencial, ou seja, onde se situa esse ente autônomo, revisor e julgador, inerente à democracia.

Não preciso dizer o mesmo de outro jeito, nem propor explicações diferentes do que seja controle externo, convivência com os Poderes da República, respeito aos compromissos com a cidadania e ter por objetivo exponencial o indispensável zelo por uma teoria da qualidade do serviço público.

Queremos escutar o Ministro Ubiratan Aguiar dizer de como comandará a nossa interface com outros órgãos de controle, para ganhos em efetividade, economicidade e eficácia. Dizer de como intensificará medidas de combate à corrupção, mas também ao desperdício que é silencioso, perante o Estado. Dizer de como insistirá numa teoria da qualidade no serviço público, a fim de cortar a amargura de identificar crimes e punir culpados.

O novo Presidente, como o seu competentíssimo Vice-Presidente, Benjamin Zymler, sabem disso muito bem. Não necessitam de ouvir de mim o que conhecem ainda melhor.

Ademais, quem sentou neste cadeiral de provações, muito mais que de predicamentos, tem ciência dos direitos e deveres embutidos numa Corte de Contas, seja no que está a cargo do seu corpo deliberativo, seja na responsabilidade dos diversos níveis técnicos. Do Ministério Público, nem se faz necessário exaltar-lhe a sabedoria e a probidade. Esta é uma louvação constante e crescente.

Estimo lhe dizer, Presidente, outras coisas que desfilam na minha cabeça de decano da Casa, um provecto servidor público, animadíssimo por esta fase da vida em que não usa os espartilhos da conveniência e experimenta a dor e a delícia da língua solta. Etapa em que também lhe é facultado trafegar com a experiência aprendida no espetáculo da vida.
Quero ser um língua solta que reage ao mesmo. Não suporto mais ouvir ou dizer o mais do mesmo. Nem tenho necessidade disso. Tenho é precisão de mais e melhor conhecer o outro. É de respeito ao outro que o mundo tem precisão. Conhecer o outro é imprescindível. Ademais, estamos no século do conhecimento e exatamente hoje se comemora o 60º aniversário da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, vale dizer, do outro.

Li, no evangelho de hoje, segundo Mateus: “Naquele tempo, tomou Jesus a palavra e disse: ‘Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”

Como será bom que o novo Presidente, que tem toda a competência para fazer um chamamento dessa espécie, tenha as condições de proclamá-lo, pois seu conhecido instinto de homem público, há muito completou-se em consciência.

Santo Agostinho falou que a memória é a casa da alma e Pascoal completaria ao dizer que o futuro é a aurora do passado.

Apelo à memória do novo Presidente, homem provado em espumas e areias lavadas de sal e sol. Homem que sabe que a gente fica, ainda que a gente vá.
Apelo ao novo Presidente para, da cadeira em que sentou, com tanto merecimento, atente às suas origens.

Pouco tempo terei ainda de Casa. Por isso, vejo rara essa oportunidade de repetir alto e bom som, como obsessão ostensiva, que o Nordeste brasileiro nunca será um capítulo de pessimismo, nem é apenas paisagem, além de que o nordestino não pode ser condenado a ser apenas gente do pouco. Merecemos ser, quando não gente do muito, pelo menos gente remediada.

Não posso perder esta oportunidade. Digo com consciência, algum desconforto e entalado entre o ontem e o amanhã, no entanto, jamais desiludido.

Carecemos da nossa terra, como origem e destino. Temos responsabilidade com ela.

Este começo de milênio pode ser adequado instante seminal para as propostas de maior dinamização da estratégia de seu planejamento. Espera-se que a complexa realidade do sistema social, dos desequilíbrios, a parte que a Região representa de um todo maior – o sistema social – tudo seja melhor considerado. E que a sua inserção no sistema nacional se faça de modo funcional e convergente, sem perda dos nossos avanços, como o de reduzir a miséria.

A consciência nacional precisa extinguir de vez por todas com as tentativas insidiosas de nela se implantarem “mitos incapacitantes” com relação ao Nordeste, como região, e ao nordestino, como povo.

Extinguir também os clichês mentais depreciativos sobre o Nordeste: o de que o seu desenvolvimento auto-sustentado é impossível; o de que, no semi-árido, a agricultura é inviável; o de que os recursos públicos destinados à Região são invariavelmente malbaratados; o de que a população regional degrada-se rapidamente em sub-raça de nanicos ociosos e imbecilizados.

As outras regiões não podem ignorar que o Nordeste responde aos incentivos à industrialização com desempenho satisfatório; que a agricultura moderna, no semi-árido, é factível tecnicamente e rentável economicamente; que a Região pode evoluir significativamente no social.

Lembra bem o professor Roberto Cavalcanti de Albuquerque: “o ideário que deve orientar o projeto do Nordeste precisa transmitir mensagens positivas: de integração do sistema regional no sistema nacional que seja mutuamente benéfica; de compatibilização de interesses; de transmissão inter-regional do desenvolvimento reciprocamente fertilizante”.

E acrescento: uma política nacional de desenvolvimento sem este ajuste seria injusta, inócua, incompetente e até inconstitucional.

É frase do novo Presidente ao discursar na sua Academia de Letras, em Fortaleza: “Integramos o mundo da opulência e o submundo da exclusão”.

Pois, Presidente, tiremos, com palavra e gesto, os conterrâneos da exclusão. Sua mãe, dona Liguinha, Terezita – a esposa, filhas e netos, todos contam que prossiga a sua trajetória de serviços à Região e à Pátria. Quando Vossa Excelência empossou-se naquela Academia disse estar em busca da leveza do viver. Agora, esta Presidência que assume não tem nada de leveza. É lugar para as ardências incendiadas com as brasas do sol. Nada demais para quem veio dos salgados sertões do Cedro, aboiando nas pradarias do semi-árido até refrescar-se nas brisas das praias, na “Fortaleza, a loira desposada do sol”.

Um seu conterrâneo e colega – colega poeta – falou que são “longos os caminhos para os pés dos homens” e versejou: “E se acaso caímos/ no chão os nossos dedos/ começam a replantar a rosa da esperança”.

Cuide dessa rosa, Presidente. Aproveite os mesmos engenho e arte de que se utilizou como professor, advogado, vereador, deputado estadual e federal, secretário de Estado, autor e relator de leis da sua idéia fixa, que é promover a interação entre educação e os diferentes contextos culturais.

Tudo isto o fará feliz, já que o vascaíno, coitado...

Feliz como se sente ao versejar, ao produzir letras para belas canções. Seus versinhos de circunstância são tão temidos quanto os Votos judiciosos e ricamente doutrinários. Há quem os tema como o diabo teme a cruz.

Nós, nordestinos, não somos gente só do mandacaru. Somos também jangadeiros, pois sabemos que o mar nos ensina lições de leme para conhecer mais e lições de âncora para os padrões de fidelidade.

Como as amarras só vêm depois do movimento, Ubiratan Aguiar haverá de ser ainda mais leme e âncora para o TCU.

Seu amigo fiel e admirador incondicional, o colega Ministro Valmir Campelo, sempre nos adverte para o tanto que o novo Presidente tem de pessoa irresistivelmente sedutora. Pois exerça também esses atributos de sedutor na servidão jubilosa da Presidência.

A Presidência obriga o ocupante ao descompromisso com calendários, pois é juramento para o dia todo, todos os dias. É não esquecer. É só lembrar.

De agora em diante, a Presidência não será o seu cargo. Passa a ser o seu sentimento.

E não esqueça de que quando chegou aqui, trouxe no bisaco o “Siará Grande”. Trouxe a Medalha da Abolição, Matias Beck, a “Padaria Espiritual”, Pompeu de Sousa Sobrinho, a lagoa do Mondubim, Paula Nei, Tomé da Mota e o bonde de burro, o cego Aderaldo, Leonardo Mota e Leonardo Mota Neto, o açude de Orós, Gerardo Mello Mourão, Adriano Espínola, Fagner, Figueiredo Filho, Rodrigues de Carvalho, o grupo Clã, os craques Jardel e Mauro, os “japoneses” de Fujita.

Também, no mesmo matolão, outras exemplaridades: São Francisco de Canindé, Mestre Noza, Geraldo Vasconcelos, o hotel Excelsior, o então padre Hélder – o sempre Dom do Amor, o Barão de Studart, a bela Emilia – miss Brasil, a fazenda “Não me Deixes”, Natércia Campos, o Ideal, Ari Cunha, Fernando Cesar Mesquita, Antônio Martins, Efraim Almeida – notável artista contemporâneo, Edson Queiroz, a revista “Maracajá”, o cinema Majestic, Farias Brito, o Seminário da Prainha, Juvenal Galeno, Hermenegildo Sá Cavalcanti, Ilka e Carlos Alberto Cabral Ribeiro, Antônio Bandeira, Auxiliadora Lemenhe e aquele alfaiate Girão, que aparece em livro de Lustosa da Costa, dizendo-se “geômetra do corpo e poeta do pano”.

E não faltaram na bruaca: Herman Lima, Raimundo Girão, Chico da Silva, Liberal de Castro, Xico Sá, Martins Filho, o Boticário Ferreira e a sua praça, tão feinha, Pinto Martins, o Capitão-Mor Soares Moreno, Paulo Cabral, Chico Anísio, os Holanda, a serra da Ibiapaba, os Inhamuns, o Cariri brabo, Nertan Macedo e os seus cangaceiros, A Beata Maria do Egito, Castello Branco e um caprichado, além de numeroso, conjunto de homens públicos, de Presidente da República e Presidentes de Bancos, Senadores, Deputados, Governadores, Ministros de Estado, Embaixadores.

No matolão estão também os indispensáveis, que retiro da batéia da alma acadêmica: Franklin Távora, José de Alencar, Araripe Júnior, Clóvis Bevilaqua, Gustavo Barroso, Heráclito Graça, R. Magalhães Júnior, a comadre Rachel de Queiroz.

Eduardo Campos me ensinou com versos de José Bernardo da Silva, de que ao falar no “Padim Ciço”, e quero falar nele, fizesse pontuação. Pois faço pontuação, repito José Bernardo e falo do do Taumaturgo do Joazeiro:

“Leitores agora aqui
Eu faço pontuação
Feliz daquele que tem
Jesus em seu coração
E também todo momento
Guarda no seu pensamento
Padrinho Cícero Romão”.

Outra pontuação é para louvar os primórdios do abolicionismo, antecipação cearense. Nabuco, entusiasmado, proclamou, em 1884: “O que o Ceará acaba de fazer não significa por certo ainda O Brasil na Liberdade; mas modifica tão profundamente o Brasil da Escravidão, que não se pode dizer que a sua nobre província não nos deu uma nova pátria”.

Tenho as mãos cheias do patrimônio cearense e me orgulho, sem vaidades, de dizer que deixei minhas impressões digitais de administrador nas obras culturais de recuperação e valorização do seu patrimônio histórico: no mercado de Aquiraz, na igreja de Almofala, no açude do Cedro; no tombamento dos Centros Históricos de Sobral e Icó.

Impressões digitais, de igual sorte, no plano da política de efetivo desenvolvimento social, pela implantação de Centros Sociais Urbanos, de Módulos Esportivos, de creches e Centros de Convivência de Idosos, estes últimos, uma criação de grande inventividade de Maria do Carmo, minha mulher, de Marly Sarney e da socióloga Tereza Duere, nos áureos e heróicos tempos do PRONAV/LBA, abatidos em má hora por preconceitos, desconhecimento e um tanto de mesquinharia.

Quando a isto me refiro cuido apenas de reluzir valores que o tempo nos indica.
Um povo que cresce não pode destruir a sua alma, ignorando suas referências aos predicamentos da justiça histórica e aos xodós do afeto coletivo.

Não desejei como saudante, Senhor Presidente Ubiratan Aguiar, fazer outra coisa nesta hora que já não esteja nestes versos de Patativa do Assaré:

“E ôtra coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra
As coisas de minha terra
E a vida de minha gente”

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O DIA DE HOJE

Dia do Cronista

Dia do Fonoaudiólogo

Dia do Profissional da Culinária

Dia Internacional Contra a Corrupção

Dia do Alcóolatra Recuperado

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1964 –

Morria a poetisa brasileira Cecília Meireles.

1965 –

Tiradentes era declarado Patrono da Nação Brasileira.

1977 –

Morria no Rio de Janeiro a escritora e romancista Clarice Lispector.

1998 –

O filme brasileiro Central do Brasil, ganhava o National Board of Review, o primeiro prêmio de destaque mundial de sua carreira internacional.

1988 –

Depois de 22 horas, acabava a primeira operação de transplante de fígado com um doador vivo no Brasil.

1992 –

O Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira, o IPMF, era aprovado no Brasil.

2001 –

Tornado público nos Estados Unidos um vídeo em que Osama Bin Laden afirmava ter se sentido surpreendido de forma positiva pela extensão dos ataques terroristas do dia 11 de setembro.

CULINÁRIA É CULTURA

Um poeta amigo, com quem compartilho sílabas de entretenimento, me confidenciou certa ocasião que “os nossos maiores prazeres estão ligados às tripas”.

É verdade! Dentre as delícias da vida, encontramos a gastronomia. Eu, por exemplo, sou apaixonado por culinária. Não raro queimo aborrecimentos à beira de um fogão. De preferência, fogão à lenha. O fogo produzido pela lenha é diferente: ele fala, emite uma sonoridade crepitante; é poderoso, se faz respeitar pela imponência ardente; é marcante, pois na sua meticulosidade torna a comida mais deliciosa.

Desde algumas edições atrás, o Jornal Gazeta do Centro-Oeste lançou uma coluna intitulada “Sabores Caseiros”, que reúne receitas simples, produzidas no espaço inventivo do lar e que, por isso, revestem-se de um sabor especial.

Cresci auscultando falarem que a culinária é uma arte. Concordo! É fascinante descobrir as infinitas possibilidades que o casamento de ervas, a mistura de temperos, a junção de ingredientes pode proporcionar. O olor que sobe de uma panela preparada com carinho é extremamente sedutor.

Mas, além disso, e, sobretudo, a culinária é cultura. Ao redor de uma mesa fraterna, as pessoas se transformam: no mesmo espaço familiar celebra-se a vida, extravasam-se as megalomanias, discute-se o futuro, passeia-se pelas diversas culturas e analisa-se o mundo.

O caráter místico da mesa atingiu seu ápice no próprio Evangelho, quando o Jovem de Nazaré reuniu os discípulos sentou à mesa, tomou o pão e o vinho, e solenemente proclamou: “Isto é o meu corpo e o meu sangue!”. Depois, pediu que comessem e bebessem.

A culinária é cultura. Cada alimento produzido carrega, em sua gênese e composição, uma saga exclusiva, um roteiro heróico ou itinerário de sofrimento, mas invariavelmente podemos dali extrair uma história fantástica.

A pizza, por exemplo, que julgamos italiana, na verdade é de origem árabe. O macarrão, que também pensamos ser obra dos italianos, foi criado pelos chineses. E por aí vai... Pelas talentosas mutações que realizaram, descobrimos que os europeus da Itália ganharam direitos autorais não apenas em relação às massas, mas também em relação a outras coisas de paternidade alienígena. A milenar arte da política, cujo berço é reclamado por gregos, teve no florentino Maquiavel o principal expoente. Apesar de o cristianismo ter como matriz a Palestina, há muito que a sede encontra-se em Roma. E por aí vai.

Pelos poros da culinária, podemos fazer brotar estrofes de arte, suores de luta, incensos míticos, calorias de cultura, orvalhos de História!
Pois é! Para levar uma vida agradável neste mundo, ninguém precisa fazer das tripas coração. Basta descobrir que as tripas também têm coração! E alma! E amor!

(Júnior Bonfim, in Amores e Clamores da Cidade)

PARA REFLETIR

Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.

(Cecília Meireles)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

NO DIA DE HOJE, EM...

1941

Austrália, Estados Unidos e Grã-Bretanha declararam guerra contra o Japão.

1942

O Club de Regatas Botafogo e o Botafogo Football Club se uniram para fundar o Botafogo de Futebol e Regatas.

1949

O líder chinês Chiang Kai-Shek fugiu para Formosa depois de derrotado pelo comunista Mao Tse-Tung. Apesar da fuga, Chiang continuou se considerando governante legítimo da China.

1966

Estados Unidos, União Soviética e outros 26 países definiram um acordo para acabar com o armamento nuclear em órbita no espaço.

1980

O ex-Beatle John Lennon foi assassinado a tiros por um fã em frente ao edifício em que morava.

1987

O presidente americano Ronald Reagan e o líder soviético Mikhail Gorbatchov assinaram um tratado acabando com os mísseis nucleares de médio alcance.

1994

O maestro e compositor Tom Jobim, um dos criadores da bossa nova, morreu aos 67 anos.

1996

O assaltante Leonardo Pareja foi executado por detentos do Centro Penitenciário Agroindustrial do Estado de Goiás. Ele ficou conhecido por desafiar a polícia e liderar rebeliões.

2000

O juiz Nicolau dos Santos Neto, acusado de desviar 170 milhões de reais da construção do TRT paulista, foi preso.

DIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO



Segundo a Igreja Católica, o bom senso dos fiéis sempre acreditou na imunidade de Maria do pecado original. Tanto no Oriente como no Ocidente, há grande devoção à Maria enquanto mãe de Jesus e "Virgem sem Pecados", notados desde os primórdios do cristianismo, quando o dogma da Imaculada Conceição já era tido para os fiéis como verdade de fé.

Os escritos cristãos do século II testemunhavam a idéia, concebendo Maria como nova Eva, ao lado de Jesus, o novo Adão, na luta contra o mal. O Protoevangelho de Tiago, obra apócrifa antiga, narrava Maria como diferente dos outros seres humanos. No século IV, Efrém (306-373), diácono, teólogo e compositor de hinos, propunha que só Jesus Cristo e Maria de Nazaré são limpos e puros de toda a mancha do pecado. Já no século VIII se celebrava a festa litúrgica da Conceição de Maria aos 8 de dezembro ou nove meses antes da festa de sua natividade, comemorada no dia 8 de setembro. No século X a Grã-Bretanha celebrava a Imaculada Conceição de Maria.

Na Itália do século XV o franciscano Bernardino de Bustis escreveu o Ofício da Imaculada Conceição, com aprovação oficial do texto pelo Papa Inocêncio XI em 1678. Foi enriquecido pelo Papa Pio IX em 31 de março de 1876, após a definição do dogma com 300 dias de indulgência cada vez que recitado.

Definição dogmática

Aos 8 de dezembro de 1854, Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, fez a definição oficial do dogma da Imaculada Conceição de Maria. Assim o Papa se expressou:

Em honra da santa e indivisa Trindade, para decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica, e para incremento da religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a nossa, declaramos, pronunciamos e definimos a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus e, portanto, deve ser sólida e constantemente crida por todos os fiéis.

(Fonte: Wikipédia)

DIA DA JUSTIÇA





A data é comemorada desde 1940, em referência à Imaculada Conceição. Mas sua primeira celebração oficial ocorreu dez anos mais tarde, por iniciativa da Associação dos Magistrados Brasileiros. A Lei 1.408, de 1951, criou este feriado forense em todo o território nacional.

Como resultado da influência romana sobre o Direito brasileiro, um dos símbolos mais comuns da Justiça em nosso país é a deusa Iustitia.
A balança como símbolo do Direito e da Justiça é um dos símbolos profissionais mais conhecidos. No entanto, a representação original não é a balança sozinha, e sim, a balança, em perfeito equilíbrio, sustentada por mãos femininas.

Na Grécia, a mulher era a deusa Diké, filha de Zeus e de Thêmis, que, de olhos abertos, segurava com a mão direita a espada e com a esquerda uma balança de dois pratos. A balança (representa a igualdade buscada pelo Direito) e a espada (representa a forca, elemento inseparável do Direito).

Existe uma grande polemica sobre quem é realmente a Deusa Grega que segura a balança. A maioria atribui a Deusa Thêmis o papel, mas a verdadeira Deusa da Justiça é a sua filha Diké.

A Deusa Thêmis foi considerada a guardiã dos juramentos dos homens e, por isso, ela foi chamada de "Deusa do juramento ou da Lei", tanto que se costumava invocá-la nos juramentos perante os magistrados. Por isso, a confusão em considerá-la também como a Deusa da Justiça.

Thêmis era uma deusa dotada dos mais nobres atributos. Tinha três filhas: Eumonia - a Disciplina, Diké - a Justiça, e Eirine - a Paz. Thêmis, filha de Urano (céu, paraíso) e Gaia (Terra), significa lei, ordem e igualdade, e fez da sua filha Diké (ou Astraea), que viveu junto aos homens na Idade do Ouro, Deusa da Justiça.

A diferença física entre as duas Deusas é que enquanto Diké segurava a balança na mão esquerda e a espada na direita, Thêmis era apresentada somente com a balança, ou segurando a balança e uma cornucópia.

A venda foi invenção dos artistas alemães do século XVI que, por ironia, retiraram-lhe a visão.

A faixa cobrindo os olhos significava imparcialidade: ela não via diferença entre as partes em litígio, fossem ricos ou pobres, poderosos ou humildes, grandes ou pequenos. Suas decisões, justas e prudentes, não eram fundamentadas na personalidade, nas qualidades, ou no poder das pessoas, mas na sabedoria das leis.

Atualmente, a venda nos olhos e mantida para conferir a estatua de Dike a imagem de uma Justiça que, cega, concede a cada um o que é seu sem conhecer o litigante. Imparcial, não distingue o sábio do analfabeto; o detentor do poder do desamparado; o forte do fraco; o maltrapilho do abastado. A todos, aplica o reto e justo Direito.

A historia diz que ela foi exilada na constelação de Virgem, mas foi trazida de volta a Terra para corrigir as injustiças dos homens que começaram a acontecer.

PARA REFLETIR

Há quatro características que um juiz deve possuir: escutar com cortesia, responder sabiamente, ponderar com prudência e decidir imparcialmente.

(Sócrates)

domingo, 7 de dezembro de 2008

AO MAR







Quero te abraçar,
Mar amigo, quero
Meu abraço invisível te dar,
Com todo meu ser de inimigo.
Pois a amizade que tenho por ti
Não é do amigo
Que conhece o seu parceiro.
Te tenho amizade, porque antes
De nascer já vivias em mim,
Porque depois que vim ao mundo
Saíste de mim,
Porque enquanto estou aqui
Não estais comigo,
Porque estais, todas as horas,
Dentro e fora de mim...
Sem nunca haver me abandonado
Ou ter ficado comigo.

Mar - quero te beijar, te derrubar,
Te erguer, te enrolar,
Te bater, te acarinhar...

Te tenho amizade, não
Por aquilo que és ou que outros
Queria quem não fostes,
Mas simplesmente por aquilo
Que não sendo, serás sempre:

Grandeza bonachã,
Borbulhância prateada,
Efervescência mística,
Arrogância líquida,
Potencial impetuoso,
Coração infinito!

(O mar, este incansável viajante
Que nunca sai do lugar,
As vezes se deita pelos séculos
Como um touro adormecido
E quando se ergue estremecido
Ninguém descobre o resultado
De suas meditações solitárias.)

Mar, quero teu transbordante
Êxtase, tua tempestuosa oração,
Teu inesgotável orgasmo, teu
Brilhante espírito, teu fervoroso
Planejamento, tua assombrosa
Arquitetura, teu murmúrio melodioso!

Entre o teu corpo gigante
E a minha plantação de desejos,
Entre o teu som permanente
E a minha gargalha infantil,
Entre o teu vôo de guerreiro
E a minha paixão de menino
Se batem teclas diferentes,
Se move um monstro antigo,
Se abre uma cortina esquecida
Ou se expande uma luz socialista:
Nascemos com o mesmo destino:
Ser convergência de doçura!

(Júnior Bonfim, in Poesias Adolescentes e
Maduras)